Tuesday, January 30, 2007


Queremos paz!

“That's all nonviolence is - organized love.”

“Não-violência nada mais é que amor organizado.”

Joan Baez

A violência gera a violência como todos nós já sabemos. Mas optar pela não-violência não é nada fácil. É um exercício diário que requer muita disciplina. É um ato de coragem. É muito mais que sair às ruas empunhando bandeiras. É resistir ao impulso da vingança quando este ameaça dominar a razão. É reconhecer que aquele que causa a dor também sofre. É se enxergar nos olhos do inimigo. É compaixão.

Parte de mim está no outro

Parte do outro dentro de mim

Como posso gritar olho por olho

Sem a mim mesma cegar?

Este post faz parte da blogagem coletiva sobre a não-violência iniciada pelo Lino.

Sunday, January 28, 2007

Passeata em San Francisco
27 de Janeiro

Saturday, January 27, 2007


Passeata em San Francisco

Infelizmente não consegui caminhar com a passeata hoje em San Francisco. Cheguei atrasada e a passeata usou um caminho diferente desta vez. Ainda assim consegui pegar o final do protesto. Estima-se que entre três e cinco mil pessoas saíram às ruas para protestar contra a guerra no Iraque e contra a decisão de George Bush de mandar novas tropas para o Iraque. No final do protesto houve música e é sempre bom ver como as pessoas usam a criatividade para expressar a sua opinião. Os organizadores estão preparando uma passeata maior para o dia 18 de março.






Relembrando o Holocausto

Hoje marca o aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz. Na Inglaterra a comemoração dessa data também incluiu um apelo pela tolerância e contra o racismo e o antisemitismo. Na Alemanha, a primeira ministra Angêla Merkel afirmou a sua posição contra o neo-nazismo e à ultra direita. Além dos seis milhões de judeus mortos durante o holocausto, o regime nazista também assassinou homossexuais, ciganos, afro-germans, doentes mentais e portadores de deficiência física.

É preciso manter acesa a chama da memória para que isso não volte a acontecer. Ao mesmo tempo não podemos nos esquecer das vítimas do Camboja, de Kosovo, da Bósnia, de Kosovo, de Rwanda, de Darfur e de outros tantos genocídios que continuam acontecendo.

Fotos: Google images

Friday, January 26, 2007



Reserva Estadual de Año Nuevo, Califórnia

Colônia de elefantes marinhos

Año Nuevo fica há 90 km de San Francisco na direção de Los Angeles. Leva mais ou menos duas horas dirigindo de Berkeley. Nessa época do ano, os elefantes marinhos vêm a essa praia para dar dar cria e acasalar. A praia fica lotada e somente grupos liderados por um ambientalista ou um guarda florestal são permitidos. Hoje a classe da minha filha participou da tour que leva uma hora e meia caminhando pelas dunas. Embora estivesse chovendo, a garotada aprendeu muito vendo os animais de perto, tocando um pedaço de pele e alguns bigodes soltos de um elefante marinho e observando de longe um grupo enorme de fêmeas com seus filhotinhos. Algumas tinham acabado de dar à luz porque havia muitos pássaros por perto comendo a placenta. A natureza é sábia.

Existem duas espécies de elefantes marinhos, uma no hemisfério norte e outra no hemisfério sul. Ambas pertencem à família Phocidae e distinguem-se dos integrantes da família Otariidae (focas, leões e lobos marinhos, p. ex.) por não possuírem orelhas e por locomoverem-se em terra apoiando-se na superfície ventral e não nas nadadeiras.

Os elefantes marinhos são enormes. Os machos chegam a ser maiores que um carro, pesando mais de duas toneladas e medindo de 4 a 5 metros de comprimento. Eles atingem a maturidade entre os 8 e dez anos de idade, quando entram em brigas violentas para determinar quem vai ser o macho dominante do grupo. Embora as brigas sejam sangrentas, os elefantes marinhos possuem um camada de gordura espessa que protegem os seus órgãos vitais.

As fêmeas medem por volta de três metros de comprimento e pesam entre 500 e 900 quilos. Os filhotes nascem pesando 35 quilos e num período de menos de um mês chegam a pesar135 quilos. Alguns mais espertinhos conseguem amamentar em várias fêmeas e chegam apesar 300 quilos quando finalmente param de amamentar. Os naturalistas os chama de super weaner ou super desmamado. A fêmea volta a acasalar 24 dias após o parto, embora o óvulo não chegue a implantar na parede uterina até bem mais tarde quando finalmente ela deixa os filhote, volta para o mar e começa a se alimentar de novo. A gestação leva nove meses. Os elefantes marinhos não se alimentam durante os três meses que passam na praia.

A ponta de Año Nuevo recebeu esse nome porque os espanhóis que por lá navegavam em 1603 avistaram essa área por volta do ano novo. Nos últimos 19 anos um programa de integração e preservação têm atraído elefantes marinhos em números que continuam aumentando todos os anos. No momento, Año Nuevo é a maior colônia de procriação de elefantes marinhos no hemisfério norte. No início do século XX, os elefantes marinhos estavam ameaçados de extinção devido à caça desenfreada por causa do óleo derivado da sua espessa camada de gordura que se chama blubber em inglês. Mas no momento a população já se equilibrou e a caça é proibida.


Wednesday, January 24, 2007

Para ampliar clique na imagem

Futurebot

Depois de passar por alguns apuros sem telepone celular, eu finalmente desisti e me juntei aos milhares de usuários desses telefones minúsculos que tocam dentro das bolsas das pessoas quando elas menos esperam.

Estou tentando ser o mais discreta possível. Sempre achei o cúmulo da falta de educação quando estou em um lugar público e sou obrigada a compartilhar a conversa de alguém ao meu lado. Pior ainda é quando estou em uma livraria curtinho meu precioso minuto de silêncio quando ouço alguém falando alto no celular. Para finalizar, detesto quando alguém que está dirigindo na minha frente e derepente diminuí a velocidade porque se distraí com uma mão no volante e a outra no celular.

Os meus filhos estão super empolgados com o novo telepone. Eu mal sabia como usar o danado e os meus filhos já o estavam usando para tirar fotos. Estou começando a sentir a diferença entre gerações. A tecnologia é tão presente na vida dessas crianças que para elas desvendar o funcionamento dessas gadgets é quase intuitivo.

Antes eu dizia brincando que eu ainda vivia na pré-história porque quase todo o mundo que eu conheço tem telepone celular. Então quando a minha filha descobriu que finalmente agora possuímos um celular, ela proclamou com orgulho:

- Agora nós não estamos mais na era dos dinosauros. Agora somos futurebots.

Quando perguntei o que significava futurebots. Ela me respondeu:

- Uma mistura de futuro com robô. Get it?


Monday, January 22, 2007


Blog for choice day


Sou totalmente em favor da legalização do aborto. Acredito que nem o estado nem a igreja têm o direito de impor seus valores no corpo da mulher. Quando uma mulher necessita um aborto ela vai encontrar uma maneira de fazê-lo, mesmo que isso signifique colocar a sua própria vida em risco. A criminalização do aborto afeta desproporcionalmente mulheres pobres que não têm como pagar clínicas particulares e acabam nas mãos de “curiosas.” Além do mais, eu penso que uma mulher que é forçada a continuar uma gravidez indesejada provavelmente não será uma boa mãe.

É claro que podemos falar sobre educação sexual e sobre o uso de anticoncepcionais. Mas ainda assim, acidentes acontecem e uma gravidez não planejada pode acontecer para qualquer um. É moralista e hipócrita julgarmos as mulheres que se encontram nessa situação.

Eu já me encontrei nessa situação duas vezes quando era bem mais jovem. Eu tinha acabado de chegar nesse país e estava numa relação muito apaixonada mas pouco estável. Eu fiquei desesperada quando engravidei porque sabia que eu não tinha a estrutura para ser mãe solteira e não teria o apoio necessário do meu namorado na época. Eu nunca me senti tão só e rejeitada na minha vida. Eu estou compartilhando a minha experiência pessoal aqui porque acredito que ainda há um estigma muito grande sobre esse assunto como se as mulheres que optam por um aborto fossem as piores pessoas do mundo. Para mim essa foi uma das decisões mais dolorosas da minha vida. Mas eu não me arrependo.

O direito de escolha da mulher não é algo frívolo. É uma decisão que acredito a maioria das mulheres prefereria não ter que fazê-la. Mas para mim, o direito à liberdade reprodutiva é um direito humano.

Meu corpo não é campo de batalha

Onde o estado e a igreja

Decidem onde fincar a sua bandeira

Meu ventre é livre

Cabe a mim, e somente a mim

Decidir se alguém vai habitá-lo

Cabe a mim, e somente a mim

Conviver com seus fantasmas

Seu segredo decifrar-lo

Esse texto faz parte do Blog for Choice Day, celebrando os 34 anos de Roe Vs Wade.

A Denise Arcoverde escreveu um post excelente sobre o assunto, do qual estou citando o trecho abaixo:

“A primeira conquista histórica aconteceu nos Estados Unidos, há exatos 34 anos (por isso a blogagem do Naral, hoje, em celebração à data). O julgamento do caso Roe x Wade (ROE v. WADE, 410 U.S. 113 [1973]) pela Suprema Corte Americana que determinou que leis contra o aborto violam um direito constitucional à privacidade, que a interrupção da gestação no primeiro trimestre apresenta poucos riscos à saúde materna e que a palavra 'pessoa' no texto constitucional não se refere ao 'não nascido'. Essas decisões liberaram a prática do aborto na América.”


Sunday, January 21, 2007


Leap of faith

Leap of faith é uma dessas expressões para a qual não há uma tradução boa em português. Literalmente significa um pulo de fé. Mas na verdade, significa algo como tomar uma decisão e confiar que tudo vai dar certo.

Eu geralmente sou uma pessoa bem desconfiada e cética. Quando encontro alguém que confia no lado bom da vida e que ainda acredita no melhor que o ser humano tem para oferecer, devo confessar que fico maravilhada diante de tal inocência.

Há uns meses, um guitarrista de Luxemburgo descobriu o trabalho do Kai no myspace e decidiu contratá-lo para tocar no seu CD e para coordenar o projeto aqui na Califórnia. Toda a transação financeira foi feita eletronicamente e o moço chegou aqui sem nunca ter conhecido o Kai pessoalmente. A gravação foi um sucesso e o rapaz ficou super satisfeito com o resultado.

Hoje nós o levamos para ver a Golden Gate e a cidade do alto de um morro em Marin Headlands. Ele disse que antes de descobrir o Kai na internete ele teve um sonho. No sonho ele tinha caído na água e que a água o levara até San Francisco. Quando ele descobriu que o Kai morava aqui, ele disse que foi como se as peças de um quebra cabeças começassem a fazer sentido. Por isso desde o princípio ele sentiu que podia confiar na situação. Hoje, quando estávamos dirigindo para o alto desse morro, ele nos contou sobre outro sonho. No segundo sonho, ele estava dirigindo numa estrada cheia de curvas e não conseguia enxergar direito por causa de uma luz intensa. Pois não é que nós estávamos dirigindo bem na hora do por-do-sol e a luz direta estava lhe dificultando a visão. Sem querer, a minha idéia de levá-lo a esse local concretizou o que ele havia vivido num sonho. Sometimes life is stranger than fiction!

Saturday, January 20, 2007


Domingo

Por aqui, ainda um gosto de sol do sábado

No Brasil, já é uma fatia de sol do domingo

Entre nós, as madrugadas azuis

Minha mãe costumava recitar essa parlenda nos domingos:

"Hoje é domingo

Pé de cachimbo

Cachimbo é de barro

Bate no jarro

O jarro é de ouro

Bate no touro

O touro é valente

Bate na gente

A gente é fraco

Cai no buraco

O buraco é fundo

Acabou-se o mundo."

Bom domingo para todos!

Na wikipédia eu encontrei essa definição de parlenda:
Parlenda (do verbo parlar), ou trava-língua, é uma forma literária tradicional, rimada com caráter infantil, de ritmo fácil e de forma rápida. Usada, em muitas ocasiões, para brincadeiras populares. Normalmente é uma arrumação de palavras sem acompanhamento de melodia, mas às vezes rimada, obedecendo a um ritmo que a própria metrificação lhe empresta. A finalidade é entreter a criança, ensinando-lhe algo.

Em algumas vezes, é chamada de trava-línguas, quando é repetida de forma rápida ou várias vezes seguidas, provocando um problema de dicção ou paralisia da língua, que diverte os ouvintes. Assim, pede-se a alguém que repita uma parlenda, em prosa ou verso, de forma rápida - "fale bem depressa" - "diga correndo" - ou que a repita várias vezes seguidas - "repita três vezes".

As parlendas não são cantadas e, sim, declamadas em forma de texto, estabelecendo-se como base a acentuação verbal.

Os portugueses denominam as parlendas cantilenas ou lengalengas. Na literatura oral é um dos entendimentos iniciais para a criança e uma das fórmulas verbais que ficam, indeléveis, na memória adulta.

Friday, January 19, 2007

Elis Regina - Caxangá - With Milton Nascimento

25 anos sem Elis Regina

Eu estava trabalhando como estagiária na prefeitura de São Paulo quando alguém chegou dizendo que Elis tinha morrido. Ainda me lembro bem do choque e da reação das pessoas tentando entender o que tinha acontecido. Foi comovente ver como o país parou em sua homenagem.

Eu me lembro das reportagens na televisão repetindo as mesmas imagens várias vezes como se estivessem tentando fazer sentido da morte súbita de uma pessoa tão jovem. Na época, eu me lembro de ter pensado que devia ser muito difícil para a família dela, especialmente os filhos, ver aquelas imagens repetidas dos shows dela e do cortejo fúnebre. Eu me lembro da carinha da Maria Rita de óculos com um olhar perplexo.

Dona de uma voz belíssima e uma excelente intérprete, Elis é ainda hoje considerada uma das maiores cantoras da MPB.

Eu nunca tive a oportunidade de vê-la ao vivo, mas muitas de suas canções me marcaram muito. Ela era muito expressiva e quanto cantava parecia revelar os seus segredos mais íntimos.

Elis

Flor no cabelo

Sorriso aberto

Quase infantil

Elis

Atrás da porta

Vulnerável

Mal contendo as lágrimas

Elis

Tua voz para sempre tatuada

No imaginário do Brasil

A Andréa, Lino e a Denise também escreveram sobre a Elis.









Aqui jazz um dia daqueles...

Hoje eu tive um dia daqueles. Estou correndo desde as 7:00 da manhã. Comecei o dia como sempre, preparando as lancheiras das crianças. A seguir dei uma aula particular de português e depois fui a um community college numa outra cidade para obter informação sobre alguns cursos.

No caminho de volta, de alguma forma o meu carro resbalou naquelas ilhas no meio da rua e literalmente estraçalhou dois dos meus pneus. Eu ainda vivo na era pré-celular e não havia nenhum telefone público por perto. Olhei ao redor e me dei conta que estava em frente a uma funerária. Que coincidência macabra! Incrível, parece que o universo decidiu tirar uma com a minha cara. Do outro lado da rua, havia somente um trailer park. Mesmo assim, entrei para pedir se podia usar um telepone, mas não havia recepcionista. Só gente chorando. Obviamente, esse não era o melhor momento para pedir um celular emprestado.

Tive que caminhar mais de dois quarteirões para encontrar um telefone público para chamar o guincho. Voltei para o carro. Esperei um bom tempo e nada. Finalmente eu o avistei de longe. Tive de correr de novo até o local onde havia feito o telefonema para que o motorista do guincho pudesse me ver. Ele já tinha rodado por ali, não tinha me visto e estava a ponto de desistir.

Subi na boléia altíssima do guincho e quando estávamos chegando ao local onde o meu carro estava precariamente estacionado a polícia já estava lá, o policial com o bloquinho em punho para me dar uma tremenda multa. Na calçada havia uma placa dizendo “proibido estacionar a qualquer hora do dia.” Eu tinha visto a placa, mas não tive outra opção. O motorista do guincho explicou a situação ao policial e graças as deusas ele não me multou.

Na hora de retirar o meu pneu extra, cadê que o porta-malas do carro abria? Levamos um tempo tentando vários truques e finalmente ele se abriu. Daí o motorista do guincho notou que além de um pneu novo eu também iria precisar da parte de metal da roda que havia entortado. Ele primeiro me levou a um mecânico que não tinha a peça. Então entramos por umas quebradas e fomos a um outro que finalmente concertou o carro. Foi uma aventura que me levou umas duas horas. Quando finalmente arrumamos o carro eu já sabia que o motorista tinha quatro netos e um avô de 101 anos! Felizmente, eu adoro conversar com as pessoas e não me intimido facilmente em lugares desconhecidos. Foi graças ao fato desse motorista conhecer muito bem essa área (que fica num lugar meio barra pesada) e da sua generosidade que eu consegui consertar o carro por muito menos do que teria me custado normalmente. Eu já esta esperando uns $500. Quando o mecânico falou que o total era $80 eu senti vontade de dar-lhe um beijo!

É claro que depois de tudo isso eu já estava atrasada para buscar as crianças na escola. Eu já tinha uma consulta médica marcada para o meu filho para checar a orelha dele. Há dois anos ele furou a orelha no Brasil e colocou um desses brincos de argolinha com uma bolinha no meio. Outro dia a argolinha saiu. Quando fui tentar recolocá-la eu percebi que a orelha já estava fechada e que havia como uma carocinho no lóbulo. Depois de matutar um pouco, cheguei a conclusão que o carocinho é provavelmente a bolinha que de alguma forma esta alojada no lóbulo da orelha. Hoje à tarde, a médica disse que não podia fazer nada. Agora preciso levá-lo para fazer uma radiografia para ver se a tal bolinha está lá mesmo e se estiver terei de levá-lo a um cirurgião plástico.

Chego em casa e as notícias na secretária não eram das melhores. Uma amiga de cama com dor nas costas. Posso dar uma carona ao fisioterapeuta? Posso. Outra amiga viajando as pressas porque a avó está morrendo. Posso dar de comer ao gato? Posso.

Acho que estou precisando de um galhinho de arruda e de um celular…

Bom, pelo menos a noite foi boa. Fui ao lançamento de um cd de um pianista muito bom que contou com a participação do meu contrabaixista favorito.:-)

Pianista: Ken Berman http://kenbermanmusic.com/

Contrabaixista: Kai Eckhardt www.kaizone.com

Baterista: Akira Tana http://www.akiratana.com/

CD: In mind

Wednesday, January 17, 2007


Sabedoria não tem idade

Eu às vezes me surpreendo com a sabedoria do meu filho que tem dez anos.

Outro dia estávamos conversando enquanto eu dirigia para algum lugar. Estavámos conversando sobre a escola para a qual ele vai no ano que vem. A mãe de um dos seus amigos mais próximos está super estressada tentando decidir para qual escola ela vai mandar o filho.

O meu filho acha a preocupação dessa mãe um exagero e diz:

- A mãe do M. quer que tudo seja perfeito para ele.

Eu respondi:

- É mas não há nada perfeito nessa vida.

Meu filho então respondeu:

- É verdade. E ainda bem que é assim. Se tudo na vida fosse perfeito nós não aprenderíamos nada porque é cometendo erros que aprendemos. It is by making mistakes that we learn.

He is an old soul, eles dizem aqui. Ele tem uma alma antiga.

Foto: Kai Eckhardt, tirada em uma galeria de arte em Jackson Hole, Wyoming.

Tuesday, January 16, 2007



O inverno

O inverno chegou com a força toda…

Pode não parecer pelas fotos, mas o ar está tão gelado que depois de passar um tempo fora os meus dedos começaram a doer.

Mas uma das coisas que eu mais gosto na Califórnia é o céu azul e límpido, mesmo no meio do inverno.

Borda da Mata

É incrível como cheiros podem desencadear o novelo da memória e nos transportar para lugares longínquos. Durante o inverno, à noitinha, logo depois da janta quando as famílias estão lendo ou assistindo televisão, eu às vezes saio para dar uma voltinha ou para comprar o leite do dia seguinte. Algumas casas no meu bairro têm lareira e nas noites frias eu sinto o cheiro da lenha queimando. Esse cheiro me transporta à casa dos meus avós em Minas. Eu adorava o cheiro do fogão de lenha e o gosto da comida da minha avó feita em panelas de ferro. Ela fazia um feijão com arroz e virado de couve de dar água na boca. Ela também fazia bolo de fubá para comermos com o café da tarde. Em noites de frio, o meu avô gostava de se sentar em um banquinho na taipa do fogão para se aquecer.

Minha avó teve uma vida bem difícil. Casou-se aos dezessete anos e teve onze filhos, dos quais nove sobreviveram. A casa dela, que até era bem espaçosa, ficava numa roça onde o meu avô plantava café, milho, feijão, frutas e verduras. Não havia luz elétrica, somente lamparinas de querosene. Também não havia água encanada. Mas havia uma bica de água bem limpinha que vinha de uma nascente no alto do pasto. Meu avô trabalhava todos os dias do amanhecer ao anoitecer. Eles nunca foram a um cinema e nunca viram o mar.

Nós não os visitávamos com frequência, embora morássemos apenas quatro horas de distância. Imagino que a minha mãe não tinha dinheiro para as passagens de ônibus. Mas eu ainda tenho muitas lembranças. Eu me lembro da amargura da minha avó que sempre aconselhava as filhas e as netas para que não se casassem ou tivessem filhos. Ela era reservada e quase não expressava carinho, somente nas despedidas quando ela chorava como se nós estivéssemos partindo para uma outra dimensão e a deixando para trás no tempo. São Paulo para mim era como uma outra dimensão onde a minha vida de verdade acontecia.

O meu avô sempre me passou uma doçura mesmo nos mais simples gestos, como quando sentávamos à noite para debulhar feijão. Eu gostava de ajudá-lo. Uma tarde fomos à cidade comprar coisas para a minha avó. Ele parava cada vez que encontrava um conhecido para apresentar a neta de São Paulo, todo orgulhoso. Na volta, já era noite, e eu andava pisando alto, imaginando buracos que não existiam ou deixando de antecipar os que ali estavam. Não havia luzes, exceto por alguma luzinha numa casa distante ou o brilho das estrelas. Era um bréu. Mas o meu avô conhecia o caminho como ninguém. Ele sabia direitinho onde estávamos indo e quem sentiu orgulho dele então fui eu.

O poder da fotografia: essa é a única foto que existe da casa dos meus avós em Borda da Mata, Minas Gerais. Eu a tirei quando era adolescente. Após a morte do meu avô os meus tios venderam a roça e a casa foi demolida.

Monday, January 15, 2007

Happy Birthday, Dr. King!
Mas a luta continua...

"O que me preocupa não é o grito dos violentos. É o silêncio dos bons."
15 de janeiro de 1929, Atlanta, Georgia – 4 de abril de 1968, Memphis, Tennessee

Hoje é o aniversário de Martin Luther King, feriado nacional. O Movimento pelos Direitos Civis liderado por Dr. King trouxe muitas mudanças para a sociedade americana, em particular para os afro-americanos. Mas eu acho que King ficaria muito desapontado ao ver as condições de algumas comunidades nas grandes cidades americanas.

É no carro que eu acabo tendo conversas sobre assuntos sérios com os meus filhos. Não acontece de propósito. Na verdade as perguntas deles geralmente me pegam desprevinida. Não é nada fácil falar sobre coisas como racismo e classismo sem perder a noção do trânsito. Mas assim mesmo eu tento, porque esses momentos de curiosidade dos meus filhos são verdadeiras oportunidades de aprendizado.

Outro dia eu estava levando o meu filho para ensaiar com a sua banda no estúdio que o Kai aluga. O estúdio fica em um bairro que pode ser considerado um gueto. Há uma liquor store, uma espécie de bar, na esquina onde não há nada saudável para comprar. Nessa mesma esquina sempre há adolescents com essas roupas enormes que fazem os meninos andarem como se estivessem se arrastando jogando conversa fora. A impressão que me dá é de que nenhum desses jovens têm alguma perspectiva na vida.

Vez por outra as minhas crianças ouvem pessoas falando umas com as outras num tom que elas não estão acostumadas. Elas ficam com medo. Eu acho que o que choca mais os meus filhos não é o fato de ser um bairro pobre, mas sim a presença de pessoas alteradas e a energia deprimente do lugar. O que é também chocante para os meus filhos é o fato de eles não verem pessoas brancas nesse bairro.

Isso me preocupa porque eu vejo diante de mim como o racismo começa a ser internalizado. Por exemplo, é triste ver que o meu filho tem medo de jovens afro-americanos quando eles estão usando essas roupas largas.

Enquanto estávamos dirigindo minha filha perguntou:

- Mãe, por que só tem brown people nesse bairro?

Para ela não há diferenças entre latinos, negros ou multiraciais como ela. São todos brown.

Eu respondi que era por causa do racismo que ainda existe na sociedade e que por isso muitas vezes brown people não tinham as mesmas oportunidades que white people.

Então ela fez uma carinha triste e falou:

- But I am brown!

Eu expliquei que não era bem assim. Eu falei que também existiam pessoas brancas que eram pobres e passavam necessidades e que haviam pessoas negras e latinas bem sucedidas. Falei também que tanto eu como o pai dela tínhamos tido a oportunidade de frequentar uma universidade e que por isso podíamos proporcionar uma vida melhor para ela. Em outras palavras, eu disse que não era a cor da pele dela que iria definer o seu futuro.

Ela então falou:

- Papa é famoso e papa é brown. E a mulher mais rica do mundo (Oprah Winfrey) é brown.

Eu fiquei pensando e se o pai dela não fosse conhecido e respeitado na profissão dele? Será que ela então passaria a internalizar um sentimento de inferioridade?

Eu também aproveitei a oportunidade para falar com os meus filhos sobre como é importante que as pessoas estabeleçam alianças com pessoas de outros grupos.

Eu contei para eles que na época do Movimento para os Direitos Civis nos E.U.A. havia também pessoas brancas que eram contra o racismo e lutaram junto com os negros para mudarem o sistema. Eu disse que sempre podemos e devemos trabalhar como aliados com outros grupos pela justiça social.

Acho muito importante enfatizar o papél do aliado porque na minha experiência morando aqui há muito tempo, eu já presenciei situações de muita hostilidade e desconfiança entre grupos distintos. Eu já ouvi casos de crianças negras confrontando professoras brancas com insultos. Eu também conheço pessoas brancas que têm medo de ir em bairros predominantemente negros. Eu acho fundamental cruzarmos a fronteira da raça.

Eu sempre digo para os meus filhos que o que cada pessoa quer é ser tratada com respeito e dignidade.

Monday, January 08, 2007


Coliseu iluminado

Roma acendeu as luzes do Coliseu por dois dias para demonstrar o seu apoio ao apelo em favor de uma moratória universal contra a pena de morte encaminhada à ONU. Desde 1999 o Coliseu é iluminado cada vez que uma pena de morte é executada no mundo e cada vez que um país extingue a pena de morte. O Coliseu, que foi palco de combate de gladiadores é hoje “símbolo de paz e reconciliação”, afirmou o prefeito de Roma, Walter Veltroni.

Roma é também uma das cidades que faz parte do evento Cities for Life – Cities against the Death Penalty (Cidades pela vida – Cidades contra a Pena de Morte) comemorado todo ano no dia 30 de novembro. A inciativa, que começou em 2002, contou com a participação de 537 cidades em 31 paises no ano passado. Essa data marca o aniversário da primeira abolição da pena de morte num Estado europeu em 1786, no então Grão-Ducado da Toscana, hoje uma região da Itália. Durante o evento as cidades participantes iluminam um monumento ou um edifício e organizam vigílias para demonstrar a sua oposição à pena de morte. O evento é organizado pela Comunidade de Santo Egídio sediada em Roma em colaboração com a Anistia Internacional e a Coalição Mundial contra a Pena de Morte. No Brasil, Porto Alegre é a única cidade brasileira a participar dessa iniciativa. Berkeley está entre as cidades americanas que tomam parte no evento. Mais de 5 milhões pessoas em 150 países já aderiram à campanha através do sítio da Comunidade, formando uma frente moral, inter-religiosa e leiga contra a pena de morte. Para expressar o seu apoio basta visitar o sítio e seguir as instruções.

Dados da Anistia Internacional

Segundo a Anistia Internacional, mais da metade dos paises do mundo já aboliram a pena de morte seja por lei ou em prática. A informação mais recente da Anistia International demonstra o seguinte:

  • 88 paises aboliram a pena de morte para todos os crimes;
  • 11 paises aboliram a pena de morte para todos os crimes exceto em tempos de guerra;
  • 29 paises são aboliram a pena de morte em prática, ou seja, a pena de morte ainda existe por lei mas não tem sido executada nos últimos dez anos.
  • 128 paises que aboliram a pena de morte por lei ou em prática. O número de paises
  • 69 paises mantém o uso da pena de morte, mas em 2005 o número de países que executou prisioneiros foi bem menor.

Em 2005, 94% das execuções documentadas aconteceram na China (1.770 pessoas), no Irã (pelo menos 94 pessoas), na Arábia Saudita (pelo menos 86) e nos Estados Unidos (60 pessoas).

Fontes: BBC, Amnesty International

Foto: BBC

Sunday, January 07, 2007

Milton Nascimento - Paula e Bebeto

O amor

O amor é senhor de si
Desconhece fronteiras
Ignora passaportes
Rompe barreiras

O amor é sábio
Invés de mapa segue a lua
A minha língua se traduz
Ao encontro da língua tua

O amor é valente
Ignora o medo
Não teme a distância
(Re)Inventa segredo

O amor é acidente
Só acontece quando
O coração está distraído
Mas a alma presente

Feliz Aniversário, Avi!

Querid@s,

Felizmente em acidentes do coração sempre há sobreviventes. Foi por causa de um desses acidentes que eu vim parar nesse país. Foi o amor que me fez descobrir outro Estados Unidos: a geografia, a beleza natural, a música, a diversidade cultural e das pessoas, as diferenças de opinião. Ao abrir o meu coração minha mente também se abriu. Ao enxergar além do meu preconceito, mais uma janela se abriu. Através dela eu continuo me descobrindo.

Saturday, January 06, 2007

Dia de Reis

Hoje é Dia de Reis. Quando eu era menina era o dia em que a minha mãe desmontava a árvore de Natal e me falava dos três reis magos. Eu ficava imaginando Gaspar, Belchior e Baltazar trazendo ouro, incenso e mirra para o Menino Jesus. Para que serviriam tais presentes para um recém-nascido?

Voltei a celebrar o Dia de Reis há alguns anos com a minha vizinha do México. A tradição no México é de fazer um bolo que se chama Rosca de Reyes. Dentro do bolo ela esconde quatro bonequinhas de plástico pequeninas. Após o jantar, cada convidado corta uma fatia do bolo. Os que encontrarem as bonequinhas têm que preparar a próxima festa que geralmente é realizada no dia 2 de fevereiro, o dia da Virgem Candelária. Os bonequinhos representam o Menino Jesus. Eu não sei por que ela coloca mais que um. Talvez seja para uma pessoa só não tenha que bancar a festa sozinha.

Onde moramos há duas casas grandes que foram convertidas em apartamentos. Entre os dois casarões parecemos mais como uma reunião das Nações Unidas. Minha vizinha mexicana é casada com um judeu americano. No andar de baixo mora um médico da Eritréia. No andar de cima do meu apartamento mora um arquiteto japonês. Os outros vizinhos americanos também não são nada tradicionais. No apartamento da frente mora uma lésbica com sua filha. Por último, no andar de cima do apartamento dela mora um rapaz solteiro que corre maratonas.

Bom, é assim que numa festa mexicana acabamos comendo uma sopa japonesa, tabouleh feito por uma moça do Irã, salada mista e pizza. Mas a rosca, que na verdade parece mais com um bolo, foi feita no estilo tradicional, com fatias de abacaxi no topo. Para acompanhar o bolo, ela preparou chocolate quente à moda mexicana. Os mexicanos usam tabletes de chocolate que são derretidos no leite quente até tornarem-se líquido. Depois eles adicionam um pouco de canela em paú. Uma delícia!

Pesquisando mais sobre o assunto, eu descobri que na França eles comem o gateau de Rois em Provence. Já no norte do França e na Bélgica se come a galette de Rois. Dentro do bolo eles escondem alguma coisinha e quem a encontra é considerado rei por um dia. Na Espanha, a Rosca é recheada com tipos de creme diferentes. E quem tráz os presentes para as crianças espanholas não é o Papai Noel, mas sim os Reis Magos.

A Alexandra escreveu um post excelente sobre a festa do Dia dos Reis em Barcelona com fotos lindas para acompanhar. Vale a pena ver.



Friday, January 05, 2007


Viva Nancy, Speaker of the House!

Nancy Patricia D'Alesandro Pelosi nasceu em 26 de março de 1940, em Baltimore. Ela faz parte do Partido Democrata e representa o oitavo distrito de San Francisco (o que me dá muito orgulho), Califórnia na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos desde 1987.
Líder dos democratas na câmara baixa estadunidense desde 2002, ela foi a primeira mulher a aceder a tão elevado posto. Em 2006, foi classificada como a 48ª mulher mais poderosa do mundo segundo a revista Forbes.
Ela acaba de se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Câmara dos Representantes (Speaker of the House).

Que as mulheres continuem a romper tetos de vidro e de mármore.

A Cris escreveu um belo post sobre a vitória de Nancy Pelosi e a imagem que ela projeta.

Thursday, January 04, 2007

Youssou N*Dour & Neneh Cherry

Adoro esse video.

Youssou N’Dour é um dos cantores mais conhecidos do Senegal. Neneh Cherry, nascida na Suécia, é filha biológica de Ahmadu Jah, um jazzista da Serra Leoa e de Moki Karlsson, uma sueca. Ela foi criada entre a Suécia e os Estados Unidos. Ela é enteada de Don Cherry, famoso trompetista norte americano que faleceu em 1995.

“And when a child is born into this world

It has no concept

The tone the skin is living in”

Tuesday, January 02, 2007



O casamento de R. C.

Hoje é meu aniversário de casamento. Quinze anos do meu primeiro casamento. É que eu me casei duas vezes com o mesmo homem sem nem ter que me divorciar. Posso explicar.

Quando decidimos nos casar achamos que faria mais sentido casar primeiro no civil para eu poder dar entrada na papelada da residência dele. Como na época eu só era residente e não cidadã o processo ia ser mais lento. Casamento de estrangeiro é sempre mais complicado. É mais uma pedra no sapato dos imigrantes.

Ninguém pede para ver o passaporte de ninguém antes de se apaixonar.

Pois bem, quando resolvemos nos casar tivemos que ir até a Court (mais ou menos o cartório daqui) para obtermos uma marriage license (lincença de casamento). Mas nós achamos tudo tudo frio e o tratamento tão ríspido que decidimos fazer o casamento em outro lugar. Na corte nos disseram que qualquer pessoa com o título de reverendo ou juiz de paz poderia realizar o casamento e assinar a certidão mesmo que não fosse na corte. Tínhamos apenas alguns dias para decidir onde fazer a cerimônia e quem poderia realizá-la. Na época não tínhamos carro, o que tornou tudo mais difícil.

Finalmente, encontramos um lugar lindo atrás do Lawrence Hall of Science com uma vista linda de San Francisco. Eu conhecia uma amiga chilena que tinha um título de reverenda de uma igreja alternativa, algo meio new age que agora eu nem lembro o nome.

No final da tarde do dia 2 de Janeiro subimos um morrinho atrás do museu com flores, uma mesinha portátil, champanha, velas e cds de Debussy e Egberto Gismonti. Foi uma cerimônia simples mas diferente. Nós mesmos escrevemos o que iríamos dizer em inglês improvisando um pouco dos votos mais tradicionais. Depois eu recitei o Soneto da Fidelidade do Vinícius em português e o meu marido declamou algo que ele havia escrito em alemão. Nunca gostei da expressão “até que a morte os separe”. Prefiro “que seja infinito enquanto dure.”

No dia seguinte ele partiu para a Alemanha por três meses para terminar a mudança dele para cá. Eu me senti como uma noiva de guerra, como uma Hanna Schygulla tupiniquim. No filme O casamento de Maria Braun de Fassbinder, Maria interpretada por Hanna Schygula se casa e logo após o casamento o marido vai para a guerra. É claro que o meu não foi para nenhuma guerra mas mesmo assim deixou um vazio enorme.

Eu escrevi muitos poeminhas na sua ausência. Esse é um deles:

When you come

I am going to catch you

By surprise

I am going to write

Poems on your skin

And fill your belly

With stars

Quando você vier

Eu vou te pegar de surpresa

Vou escrever poemas na sua pela

E encher a sua barriga de estrêlas

Ele voltou no começo da primavera. No verão fizemos uma outra cerimônia também co-escrita por nós e realizada por uma sacerdotiza budista que contou com a presença dos amigos intímos seguida de uma festinha.

Mas ainda hoje a nosso casamento é feito de encontros e despedidas. Hoje mesmo ele estava no Canadá, mas telefonou para a vizinha para me comprar flores.