Sunday, April 30, 2006

Ma vie en rose

Eu tenho um menino lindo de dez anos que adora desenhar e tocar bateria. Ele tem o cabelo comprido em longos cachos que balaçam de um lado para outro quando ele corre.
Por mais que ele ponha o cabelo por detrás da orelha, ainda assim alguns fios insistem em cobrir parte do seu rosto.

Ele frequenta uma escola bem alternativa que se preocupa com o meio ambiente, com a auto-estima das meninas, é contra qualquer tipo de discriminação, apoia causas progressistas, enfim, tenta encorajar na meninada a refletir sobre questões sociais.

Imaginam a minha surpresa quando descobri que o professor de teatro está implicando com o meu filho porque ele tem o cabelo comprido. Ele teve a pachorra de dizer “se você não colocar o cabelo para trás eu vou trazer um grampinho bem de mulherzinha para você usar.” É claro que eu tive de ir ter uma palavra com o tal professor. Ora, eu duvido que ele ficaria tão obcecado com essa estória do cabelo se fosse com uma menina. Além do mais, não passaria pela cabeça de ninguém virar para uma garota com o cabelo curto e dizer “se você não deixar o seu cabelo crescer eu vou trazer um boné bem de menino prá você usar.”

As meninas podem usar roupa de qualquer cor, usar cabelo curto ou comprido, saia, vestido ou calça, mas se um menino gostar da cor rosa ou quiser experimentar uma saia, o mundo cai. Eu acho que, principalmente aqui nos Estados Unidos, muito progresso tem sido feito em termos de encorajar as meninas a praticar esportes que são tradicionalmente considerados mais masculinos, a ajudá-las com a sua auto-estima e tal. Tudo isso é muito válido mas não podemos esquecer dos meninos.

Infelizmente as opções que são consideradas aceitáveis pela sociedade para meninos é muito limitada, especialmente no que diz respeito à aparência. Nem todos meninos gostam de esportes e nem todos decidem adotar um visual mais conservador.. As cores e os modelos de roupa para meninos são completamente maçantes. É sempre a mesma coisa, calça e camiseta em cinza, branco, verde escuro, azul marinho, cor-de-vinho. Eu sempre fiz questão de vestir o meu menino em vermelhos, amarelos, laranjas. Esse ano finalmente uma loja aqui decidiu que meninos e homens também podem usar cor-de-rosa.

Para a minha surpresa, o meu menino que nunca gostou da cor rosa, quis uma camiseta dessa cor. Eu vejo isso como a sua maneira de afirmar a sua individualidade, de declarar que ele é diferente e que é não faz parte do mainstream. Isso é um ato de coragem que me enche de orgulho.

Sunday, April 23, 2006

Terra Azul – Part III
Ambientalistas corajosas

Eu quero aqui prestar uma homenagem a duas mulheres incríveis e corajosas. Elas são trabalhadoras incasáveis na luta pela preservação do meio ambiente: Wangari Maathai, do Quênia, e Julia Butterfly Hill, dos Estados Unidos.

Wangari Maathai foi a primeira mulher africana a ganhar o prêmio nobel em qualquer categoria. Ela ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho junto às organizações comunitárias que lidam com o meio ambiente. Maathai foi também a primeira mulher da área central e leste do continente africano a concluír um doutorado. Ela fundou o Green Belt Movement, o movimento do centurão verde, após uma visita a Nyeri que fica a 60 milhas de Nairóbi. As mulheres do local estavam reclamando da falta de comida para os filhos e da falta de lenha para cozinhar. Ela concentrou o seu trabalho na plantação de árvores para resolver o problema do desmatamento na área e da falta de lenha. Porém, ela descobriu que apesar das terras na região serem ferteis, os problemas políticos e sociais estavam contribuíndo para o desmatamento e para os problemas afetando as mulheres.

Ela fundou o Partido Verde do Quênia em 1987 e foi perseguida pelo regime do presidente Moi. Nos anos 90 ela liderou um grupo de mulheres chamado Freedom's Corner, a esquina da liberdade, para protestar a tortura de prisioneiros políticos. Ela concorreu a presidência do país em 1997, mas recebeu poucos votos. No entanto, em 2002 ela foi eleita ao parlamento com 98% dos votos e trabalhou como Ministra do Meio Ambiente.

Julia Butterfly Hill ficou famosa internacionalmente quando passou 738 dias vivendo na cúpula de uma árvore de 1000 anos no norte da Califórnia para impedir que ela fosse serrada. Essa foi a sua maneira de protestar a destruição de uma das florestas mais antigas do mundo pela indústria madereira. A longa estadia culminou com a proteção permanente dessa árvore e de três acres ao seu redor. Durante o tempo que Julia passou a 180 pés de altura no topo de Luna, sua árvore batizada, ela escreveu um livro. Um filme sobre a sua aventura ecológica será produzido no ano que vem.

Ela é ativista, escritora, poetisa e fundadora da organização Circle of Life, círculo da vida. Hoje em dia, Julia viaja pelo mundo espalhando a sua mensagem sobre a interdependência do meio ambiente e de todas as formas de vida que habitam esse planeta.

Então, meus companheiros terrestres, vamos celebrar e proteger essa nossa mães que tanto prazer e alento nos proporciona.

Esse post faz parte de uma blogagem coletiva iniciada por Lucia Malla.
Movido à óleo de fritura

Outro dia eu estava no carro com um amiga quando ela parou em um restaurante para "reabastecer" o carro (?). Quando ela voltou e ligou o motor eu senti um cheirinho de batata frita de restaurante fast food e fiquei sem entender nada. Então, ela me explicou que o seu carro dela - um carrinho jeitoso e bonitinho da VW - funciona com bio-diesel. O bio-diesel é um tipo de combustível feito de óleo de soja, óleo de canola (outro óleo bastante comum por aqui) ou óleo reciclado de restaurantes como, pasmem, McDonalds e restaurantes chineses. Os benefícios são inúmeros: como é produzido domesticamente, reduz a dependência do estado em exportadores de petróleo; é sustentável e não é tóxico (não é algo que vai se acabar no futuro); ajuda a economia; o bio-diesel não é um gaz que emite poluentes que contribuem para o aquecimento global; e prolonga a vida do carro. O único problema é que no momento esse serviço só é disponível em algumas partes do país. O custo para converter um carro normal à bio-diesel é de aproximadamente 10 mil dólares. Espero que isso mude no futuro.
Terra Azul – Parte I

Originalmente a minha idéia era de estrear o meu blog com esse post, no dia 22 de abril, oficialmente o “Dia da Terra”. No entanto, devido a alguns “problemas técnicos” isso não foi possível. De qualquer de forma eu acho que todo o dia deve ser “Dia da Terra.”

Hoje é um dia para refletirmos sobre o estado desse nosso planeta e para pensarmos em soluções e alternatives viáveis para o futuro. Em face a tantos problemas que atualmente afetam o meio ambiente eu às vezes me sinto muito pessimista e impotente. Aquecimento global, extinção de espécies, desmatamento, buracos na camada de ozoneo, etc. Então eu me lembro de Yoko Ono "think globally and act locally", ou seja, "pense globalmente e atue localmente". O que me daá esperança são as pequenas coisas que acontecem no dia-a-dia e as estórias de pessoas que estão tentando fazer algo para mudar o status quo.

Escola "green"

Eu acho que o respeito e o cuidado com o meio ambiente deve começar desde cedo e deve ser incorporado como parte do currículo escolar. A escola dos meus filhos foi a primeira escola a receber o certificado de "green business" na área da Baia de San Francisco, reconhecendo as medidas implementadas pela escola para lidar com as questões que afetam o meio ambiente. No ano passado ele tiveram um "teach in" sobre o meio ambiente e passaram o dia participando em oficinas, discutindo e fazendo projetos sobre questões ecológicas. As crianças plantam uma horta e depositam restos de comida numa caixa de composto com minhocas; os alunos comem frutas e verduras orgânicas provenientes de uma fazenda que não fica muito longe daqui; a escola utiliza carpetes, movéis e materiais de arte não-tóxicos; eles reciclam coisas que seriam consideradas lixo e as transformam em "objetos de arte"; e, no momento, estão encorajando a meninada a trazer a merenda e o almoço em tupperwares e garrafinhas reutilizáveis, ao invés de "lanchinhos" e iogurte descartáveis.
Línguas, fev. 2006
(Speaking in tongues, poema escrito originalmente em inglês)

Tenho muitas vidas paralelas
Eu as carrego comigo
Como um maço de gravetos
Que se espalham em todas as direções
Enquanto eu tento contê-las em meus braços

Tenho memórias de terras estrangeiras
Várias línguas esboçadas no meu corpo
Às vezes uma delas
Escapa da minha cabeça e passa pela minha boca
Enquanto estou tentando falar outra

Tenho uma falha em algum canto da minha alma
É como ter sempre uma pecinha fora do lugar
Minha língua adotiva é tão precisa
Que ela quase ultrapassa minha língua materna
Quando salta adiante sem fazer esforço algum

Virei ao mesmo tempo
Cidadã do mundo e cidadã de lugar nenhum
Eu falo outras línguas com sotaque
Ao mesmo tempo soando estranha na minha própria
Eu calo a minha boca e espero o que ainda está por vir