Wednesday, August 29, 2007

Escola da vida

Hoje o meu filho começou o middle-school, que aqui vai da sexta série à oitava. Foi a primeira vez que ele foi para uma escola tão grande. Quando fui buscá-lo ele me disse que um menino mais velho de uma outra classe tinha puxado o cabelo, na verdade as dreadlocks, de um menino da classe dele e fez um gesto como se você esmurrá-lo. Assim, sem mais nem menos. É claro que meu filho também ficou com medo pois também tem o cabelo comprido. Fiquei com uma pena tão grande desse menino ter sido agredido no primeiro dia numa escola nova.

Essa situação também me fez pensar no papél da testemunha e na questão da omissão. O que se deve fazer quando presenciamos um ato de violência? Acredito que é necessário interferir. Mas qual seria a melhor maneira? Como defender alguém sem colocar a própria segurança em risco? Essas situações geralmente acontecem tão rápido e inesperadamente que quando nos damos conta já é tarde demais.

Fiquei sem saber como aconselhar o meu filho. Se eu digo para ele contar para um adulto toda vez que ele notar uma criança tratando a outra de maneira desrespeitosa ele será rotulado de dedo duro. Se ele tentar defender a criança que está sendo agredida o agressor poderá se virar contra ele. Ao mesmo tempo, isso de certa forma roubaria da outra criança a oportunidade de aprender a se defender sozinha. Por último, presenciar um ato de violência sem nada fazer leva à omissão. Afinal, quem cala consente. Talvez o ideal seja seguir a intuição.

É lamentável que as crianças além de lidarem com os problemas normais da adolescência têm também que se preocupar com a violência, com as drogas e com a possibilidade de um estudante trazer uma arma para a escola.

Essa escola é boa, com professores super experientes e programas interessantes. No entanto, há crianças que já vem com problemas de casa. Para o meu filho, que até agora frequentou escolas pequenas e nunca teve de lidar com situaçoes como essa, está é uma oportunidade para ele aprender como lidar com pessoas que vivem em situações muito diferente da dele.

A ênfase do governo nesse momento é testar as crianças com frequência para ver se estão acompanhando o nível que é esperado de acordo com os padrões nacionais. No entanto, esses padrões uniformes não levam em consideração questões sócio-econômicas, de imigração, situações familiares, etc. Por exemplo, se uma família acaba de se mudar para o país não faz muito tempo e a criança ainda está aprendendo o idioma é óbvio que essa criança não vai se dar tão bem nos teste como uma outra que nasceu aqui. Para se ter uma idéia, o distrito escolar de Berkeley lida com crianças que falam 43 idiomas além do inglês. Mas para o governo essas diferenças são irrelevantes. Se os alunos de uma escola não desempenham de acordo com o esperado, o governo federal pode interferir e penalizar a mesma.

A maneira como esse governo lida com educação é punitiva e limitada. Mas o que se pode esperar de um governo que prefere investir em guerras que em educação ou programs de saúde?

Mas voltando ao meu filho que está começando uma fase nova na vida, só posso dizer que a infância passa rápido demais. É por isso que sempre estou tirando fotos dos meus filhos. Essa é única maneira que consigo tornar as minhas memórias em algo mais tangível.

O vídeo abaixo é da banda suiça Stress com a participação do cantor alemão Xavier Naidoo. Você pode ler a letra aqui (em francês, inglês e alemão aqui e traduzir com babel fish). Mas, basicamente a letra da música lamenta a perda da infância.

Stress - Tu me manques (avec Xavier Naidoo)


Sunday, August 26, 2007


Reflexões sobre a geopolítica da bunda

Hoje fiz uma busca rápida sobre A. A. Gill, o autor do artigo mencionado abaixo publicado na revista Vanity Fair no exemplar de setembro. Descobri que ele é escocês e que embora carregue um passaporte inglês despreza a Inglaterra. Ele não pára na Inglaterra. O seu estilo sarcástico e arrogante assim como a sua mania de generalizar sobre paises sobre os quais ele pouco conhece já causou muita controvérsia. Ele enfureceu os portugueses ao escrever uma crítica sobre um restaurante português em Londres. Sem nunca haver sequer estado em Portugal ele escreveu um artigo insultando a culinária portuguesa, os portugueses e a cultura do país. Ele fez o mesmo com a Albânia.

Quanto ao artigo abaixo, devo confessar que fiquei chocada com a coleção de asneiras escritas pelo Mr. Gill. Devo começar dizendo que a minha crítica não vem do fato de eu me sentir pessoalmente ofendida por alguém estar atacando ou falando mal do meu país. Esse é o primeiro contra-argumento que vem à tona. Eu não me considero uma pessoa nacionalista ou patriótica. Muito pelo contrário, sou a primeira a apontar as deficiências e os problemas onde quer que eu esteja morando.

A primeira coisa que me chamou a atenção nesse artigo foi a arrogância do autor e a sua abordagem sexista e eurocêntrica. Ele inicia o artigo com a sua versão geopolítica do mundo dividindo-o entre breast word (hemisfério norte) e bottom world (hemisfério sul).

Não é por acaso que ele descreve os Estados Unidos como o cleavage do mundo. O cleavage é o espaço entre os seios que insinua e atrae. Ele prossegue utilizando de forma irônica e distorcida o lema das campanhas de amamentação daqui: breast is best, seio é melhor. A seguir, ele comenta sobre “o busto saudável americano esperto e cheio de promessa.”

Segundo a sua definição da geografia feminina, o traseiro do mundo é o hemisfério sul, que para ele incluí a América Latina, a África e a Índia. Curiosamente esse hemisfério sul não incluí a Austrália ou a Nova Zelândia, por exemplo. Acho que o traseiro ao qual ele se refere não é clarinho. Ele justifica o seu argumento com adjetivos capazes de fazer qualquer menino adolescente americano sonhar com essas mulheres brasileiras que caminham rebolando pelas ruas com traseiros “vibrantes.”

Gill afirma que a adoração que os brasileiros têm pelo traseiro é o que define a sociedade brasileira e que isso torna a vida diferente. Ele diz que se as mulheres são apreciadas pelos seus seios elas têm que encarar os homens que estão olhando para seus seios nos olhos. Mas, como no Brasil as mulheres são admiradas por trás pela sua bunda e portanto não conseguem ver quando estão sendo objetos de desejo, elas têm que imaginar como estão sendo vistas. É por isso que, segundo Gill, as mulheres brasileiras têm ginga. Na sua opinião, a independência das mulheres brasileiras está diretamente relacionada com o seu traseiro. É a primeira vez que ouço dizer que rebolado leva à independência feminina. O segredo deve estar no baile funk ou nos ensaios das escolas de samba.

Ele então se refere “as qualidades” que todo mundo adora sobre o Brasil: futebol, samba, hot bottoms (bundas gostosas), carnaval, floresta amazônica e, é claro, como não podia faltar a nossa famosa mistura de raças. O problema é que esse Brasil que os gringos adoram é um Brasil que só existe nas fantasias geradas pelas brochuras turísticas. E um país reduzido a uma manisfestação cultural, o Carnaval, e a uma cidade, o Rio de Janeiro. E o país da fantasia sexual desses gringos que querem ir para o Brasil no carnaval para transar com alguma brasileira gostosa. Esse tipo de generalização e de estereótipo do Brasil como o país exótico onde tudo é possível, onde a transgressão é a regra reina no imaginário dos turistas. O Brasil por sua vez adora vender esse tipo de imagem.

Essa idéia da mulher brasileira como a fêmea insaciável e sempre pronta para qualquer programa está tão arraigada que até o babaca do departamento de estado quando estava me entrevistando para a cidadania não conseguiu resistir e me saiu com essa pérola:

- So where are you from in Brazil? (Então de onde você é no Brasil?)

- São Paulo.

- So you are not from Rio. (Então você não é do Rio.)

- No, I am not. (Não eu não sou.)

- So I guess I would not see you wearing a g-string biquini? (Entao quer dizer que eu não iria vê-la usando um biquini fio-dental.)

- No, I guess that would not be me. (Não, realmente não seria eu.)

É claro que eu senti vontade de mandar o cara para aquele lugar pelo seu abuso de poder mas a minha entrevista estava em jogo. Ele fez mais piadinhas no decorrer da entrevista mas pouparei os detalhes.

Logo que cheguei aqui eu achava engraçado e ao mesmo tempo esquisito como às vezes quando eu dizia para um homem que eu era brasileira e a reação era: really, mesmo? Era como se eu tivesse tido que eu era de Marte. Não era nada tão negativo, mas era bem claro para mim que a minha cidadania vinha carregada de muita fantasia do que significava ser uma mulher brasileira.

Antes que alguém diga que os E.U.A. são mais conservadores com o corpo e que o Brasil tem uma atitute mais liberal, mais sadia, quero afirmar aqui que a minha intenção é desafiar todo tipo de estereótipo. Eu não estou interessada numa visao de mundo maniqueista e polarizante onde culturas são definidas em relação ao seu oposto. O que me interessa é a complexidade das culturas, as nuances. É por isso que artigos como esse me enfurecem. Eu também questiono por que muitos brasileiros, brasileiras em particular, ainda se sentem lisonjead@s ao serem reduzid@s a uma boa trepada. Eu sei que vou desagradar muita gente aqui, mas às vezes eu acho que esse excesso do culto ao corpo no Brasil vem mais do fato da mulher brasileira compensar com o corpo pelo status que muitas delas não tem na sociedade. Em outras palavras, o corpo como única forma de articular o poder feminino. É claro que existe muito poder na sensualidade feminina, mas a meu ver esse poder tem de vir da mulher e não de uma versão produzida e imposta pela sociedade.

A minha auto-estima como cidadã brasileira não oscila por causa da violência, da corrupção, da nossa suposta sensualidade ou da beleza da Mata Atlântica. A minha brasilidade eu a carrego como parte da minha história pessoal que é bem mais complicada que a minha brasilidade sonhada ou até imaginada. A minha auto-estima em relação a minha cidadania não dependende dos acontecimentos no Brasil porque no Brasil acontecem coisas boas e ruins como em qualquer outro lugar do mundo.

Voltando ao texto publicado na Vanity Fair, o autor descreve as desigualdades sociais no Brasil em ritmo de oba-oba. Em sua opinião, o Brasil é um país onde ninguém sente dor ou responsabilidade, um país onde só existe expectativas e bundas. Certamente, ele deve estar se referindo ao comportamento das elites que adoram jogar ovos e vassouras pela janela. Se esse não é o caso, como ele se atreve a generalizar o povo de um país dessa forma? Tal arrogância vinda de um homem branco e privilegiado cujo único contato com o Brasil deve ter sido com a elite da zona sul do Rio me ofende como um tapa na cara.

Já que falei em auto-estima acima, eu me pergunto por que nós brasileiros somos os primeiros a concordar e até levar em ritmo de gozação esse tipo de generalização? Esse tipo de atitude só faz desmerecer o trabalho das pessoas honestas que vivem batalhando e sustentam a família com salário mínimo ou as que continuam trabalhando duro para se manter na classe média. Esse tipo de atitude não reconhece a competência dos professionais que atuam no Brasil, a criatividade dos artistas que não são globais, o empenho das pessoas que fazem trabalho comunitário, a inteligência das que estão envolvidas em pesquisa e a presença de muitos outros talentos. Por sinal, essas são as pessoas que deveriam ter aparecido no ensaio fotográfico vestidas em Dior e Dolce&Gabanna.

O ensaio fotográfio é um outro capítulo a parte. Quero só ressaltar aqui que usar o exemplo de alguns gatos pingados como a Camila Pitanga e a Taís Araújo para justificar o número desproporcional de modelos brancos é usar uma ou nesse caso duas exceções para invalidar um argumento que é legítimo na mídia brasileira.

Finalmente, para mim o fato desse texto ter sido publicado na Vanity Fair ou no New York Times não faz a mínima diferença. Eu acho importante criticar esse tipo de texto porque muita gente que lê esse tipo de coisa acredita, sim. Se esse não fosse o caso eu não continuaria ouvindo as asneiras em relação ao Brasil que ouço com frequência.

Quanto a esse Mr. Gill, eu sinto pena de um escritor cuja fórmula é a controvérsia, o insulto. É como Borat, que vende, vende, mas não significa que seja bom. Nada mais cliché que isso!

PS: Para quem quiser eu posso enviar o artigo original via e-mail.

Wednesday, August 22, 2007

A bunda do mundo?!

A pérola abaixo foi escrita por A. A. Gill para a revista Vanity Fair de setembro. Na capa, Gisele Bund(a)chen, o símbolo da beleza brasileira.

Rio: proudly, majestically, the butt of the world.” Pois é, car@s leitores, além das favelas, dos tiroteitos e das orgias carnavalescas, agora o Rio é a bunda do mundo.

Bravo, elites! Obrigado Caetano Veloso, Bebel Gilberto, Marisa Monte, belezas globais, socialites desocupadas e outras beldades afins por mostrar ao mundo do que é feito o Brasil.

A foto acima faz parte do ensaio fotográfico, embora pareça ter saido das páginas do Brasil colonial com os jovens negros entertendo a galera.

Sim, eu sei que se trata de uma revista de moda e que tudo tem de ser glamorizado e blá, blá, blá. Ainda acho tudo de extremo mal gosto.

Não foi possível linkar o original da matéria na revista. Desculpe-me pela falta de tradução. Tenho de dormir. Mas se alguém precisar de ajuda é só deixar um recadinho aí embaixo. Tive que copiar desse blog aqui. A moça do blog achou o texto brilhante!!!

Leia aqui sobre a reação no Brasil e veja o ensaio fotográfico.


"There are many ways of bisecting the world, of making binary distinctions between north and south, haves/have-nots, wheat/rice, Baywatch/Al Jazeera, shirt in/shirt out. But what is most interesting, most telling, is the division between the breast world and bottom world. The United States is right at the cleavage of the breast world. Breast Is Best. It is the wholesome American bosom, perky with promise. Breasts point at you from billboards, glossy pages, shopwindows, and while you're running for rush-hour taxis...The bottom world is most of the Southern Hemisphere and includes much of Africa, as well as the subcontinent of India and those parts of the Far East that stated a preference--as far as we can tell, the Intuit are bottom folk.

...then there's Latin America, booty country from the Rio Grande to Tierra del Fuego. The bottom world meets the breast world at the gringo border. Derriere mecca, Rearsville central, the vibrating, syncopating, sashaying, working-it, heaving seat of bottoms is Brazil. Rio: proudly, majestically, the butt of the world. The rapt adoration of bottoms by Brazilians is astonishing. It's the defining characteristic of Brazilian society....

In Brazil, they feel no pain, no responsibility. All they feel is impending great expectations, and buttocks. Ultimately, it's the vainest country on earth, besotted by the way it looks, its tan, its glutes, its bikini...Brazil looks in the mirror every morning and loves, just adores, what it sees. Imagine what that feels like."

Tuesday, August 21, 2007


Enquanto isso no Peru...

Estou sem palavras para expressar a minha solidariedade com o povo peruano nesse momento de dor. A Van e o Renato que moram em Lima estão escrevendo a respeito dessa tragédia.

Foto:

Photo: Martin Mejia/Associated Press.

Clandestino II

Senti tanta pena daquele rapaz naquela situação tão vulnerável. E são tantas as pessoas que se encontram nessa mesma situação com medo de serem pegas e deportadas. A questão de imigração nesse país é de uma hipocresia sem fim. Os gringos querem ter as babás, as costureiras e as housecleaners; os jardineiros, pedreiros, pintores e carpinteiros; os “dishwashers” e garçons; os trabalhadores da lavoura. Mas são poucos que apoiam a causa imigrante.

No filme Babel, o ricaço, personagem do Brad Pitt, está no Marrocos lidando com os problemas existenciais da esposa quando esta é baleada acidentalmente. Ele telefona para a babá mexicana em Los Angeles e exige que ela fique mais tempo com seus filhos, mesmo que para ela isso signifique não estar presente no casamento do próprio filho do outro lado da fronteira, no México. Ela acaba indo de qualquer forma carregando as crianças consigo. Na volta para os Estados Unidos ela é pega e deportada. Ela fica arrasada pois cuidava das crianças desde de que eram bebês. Na verdade, a impressão que se tem é que ela era muito mais próxima às crianças que a própria mãe. Ele, por sua vez, não dá a mínima quando a babá dos filhos é deportada. E a imigração não quer nem saber que a mulher já vivia em Los Angeles por muitos anos. Embora se trate apenas de um filme, a estória não está muito distante da realidade.

Aqui mesmo, num sítio dedicado a pais, vez por outra vejo essas mulheres descoladas e com bom emprego implicando com as babás. Isso me embrulha o estômago. É muito comum ver nos playgrounds brown women de vários paises da América Latina, Ásia e África cuidando desses bebês Johnson para que essas mulheres possam ser working mothers (como se cuidar de filho não fosse trabalho). É muito raro ver uma mulher branca e americana trabalhando de babá, a menos que seja adolescente e esteja fazendo isso por poucas horas. Acho que o mínimo que essas mulheres poderiam fazer é reconhecer que se não fosse pelo trabalho dessas imigrantes they could not have it all.

Eu li nas manchetes de hoje da BBC que Elvira Arellano foi deportada para o México. Ela foi pega em uma batida no aeroporto O’Hare em Chicago no ano passado e se recusou a cumprir a ordem de deportação buscando refúgio numa igreja daquela cidade. Ela tem um filho na idade escolar que nasceu aqui e ambos já estão estabelecidos nesse país. Em novembro do ano passado, o menino foi ao México para pedir ajuda ao congresso mexicano. Hoje ela foi finalmente deportada e o menino ficou na guarda de amigos em Los Angeles. Fico só imaginando a angústia dos dois.

Li também no San Francisco Chronicle que a partir do dia 9 de setembro entrarão em vigor as novas leis em relação a trabalhadores indocumentados. Entre outras coisas, a nova lei fortelecerá a segurança na fronteira com o México (como se um um muro já não bastasse) e punirá empregadores que contratam indocumentados seja porque não pediram para ver a autorização de trabalho ou porque empregaram alguém com documentação falsa. Esses empregadores estarão sujeito a milhares de dólares em multa e a processo criminal. Os empregadores disseram ao jornal que isso seria um desastre para a economia que depende da mão de obra indocumentada. Um dono de um restaurante em San Francisco admitiu que nenhum white kid jamais procurou trabalho no seu estabelecimento. Se é assim numa cidade como San Francisco imagina como deve ser na lavoura.

Enquanto isso os verdadeiros criminosos desse governo continuam fazendo a festa.

Foto: BBC World News.

Monday, August 20, 2007


Clandestino I

Tenho tantos documentos e todos eles tentam definir momentos da minha vida em termos de datas e números: registro de nascimento, certidão de casamento, registro de nascimento dos filhos, passaportes, vistos, carteira professional, carteira de identidade, CPF, título de eleitor, California Driver’s License, Social Security number, cartão de crédito, carteirinha da biblioteca, carteirinha do COSTCO, ATM Card, etc. Preciso desses documentos para provar quem eu sou, a quem estou conectada, onde posso morar, onde posso comprar. É impressionante o poder dos documentos sobre as nossas vidas.

Na tarde do dia fatídico em que perdi a minha viagem, poucas horas antes de eu ter de sair para o aeroporto, eu tive um encontro que reafirmou a minha vulnerabilidade quando se trata de documentos. Eu estava caminhando até a loja de animais para comprar comida para os gatos quando avistei uma conhecida da antiga escola dos meus filhos. Ela estava nervosa e perguntou se eu falava espanhól. Perto dela estava um jovem apoiando as costas com uma mão e segurando uma bicicleta com a outra.

Eu me apresentei, disse a ele que falava espanhól e perguntei o que havia acontecido. O carro no qual estava a minha conhecida e uma amiga dela atropelaram o moço na bicicleta. Segundo o jovem, a moça aparentemente não havia utilizada a seta avisando que ia virar à direita. O moço com a bicicleta estava ao lado do carro. Era também possível que o moço não tivessae visto ela dar a seta.

Fiquei ali por uns quinze minutos traduzindo pra lá e pra cá. As mulheres tentando decidir como ajudar e o moço recusando ajuda. Não me levou muito tempo para entender a situação. Perguntei:

¿Habla inglés?

No.

¿Tiene seguro de salud?

No.

(Agora o mais importante) ¿Tiene papeles?

Eu nem precisei traduzir essa parte. Minha amiga virou para mim e disse:

He is undocumented, isn’t he?

Nos círculos mais progressistas usá-se o termo undocumented ao invés de illegal. Outro termo que eu detesto é legal or illegal alien. Eu sempre brinquei dizendo: “é claro que eu sou uma alienegena, você não está vendo as minhas antenas?”

Ele estava com tanto medo que não queria que chamassem a ambulância. Disse que queria caminhar até a sua casa que ficava a quilômetros de distância. Tem mais uma: aqui quando se chama a ambulância quem paga a conta é você, caso não tenha seguro ou caso o seguro não cubra. Ele também estava com medo do hospital ou da polícia entregá-lo a la migra. Eu tentei acalmá-lo dizendo que era uma questão de emergência e que os hospitais não podiam fazer isso.

Minha amiga se ofereceu para retirar dinheiro do banco para que ele pudesse ver um médico e consertar a bicicleta. Ela também se ofereceu para levá-lo até a sua casa. Atravessei a rua, comprei a comida do gato, quando voltei a polícia já estava lá. Traduzi mais um pouco: nome, data de nascimento, o que havia ocorrido. Eis então que a polícia pediu o endereço. É óbvio que ele não queria dar o endereço, pois estava com medo. Ele então começou a enrolar tentando confundir os policiais. Num determinado momento a policial que o estava entrevistando me disse que aquele endereço não fazia o menor sentindo.

Nesse momento eu me dei conta que estaria prestando mais ajuda indo embora que traduzindo (diga-se de passagem de graça) para a polícia. Expliquei à policial que eu não havia presenciado o acidente, que estava ali só de passagem (mostrei a comida do gato), que precisava sair para o aeroporto em três horas e que estava na hora de eu me arrancar dali.

Como ninguém mais ali falava espanhól eles tinham que se virar com a pouca informação que ele estava disposto a oferecer. No entanto, antes de ir, eu disse ao rapaz em espanhól que ele podia confiar na minha amiga e que ela somente queria ajudar-lo. Desejei-lhe suerte e sai com o coração apertado pensando no poder da língua e dos papeles.

Foto: Google Images.

Manu Chao - Clandestino


Friday, August 17, 2007


Burrocracia

Era para eu estar no Brasil, mas só me sobrou ficar aqui, California dreaming. Eu estava de viagem marcada para o dia 8 de agosto. Faz dois anos que meus filhos não vêem a avó, os tios e os primos.

Eu tive que renovar o passaporte da minha filha. Mandei o formulário há seis semanas e paguei $100 a mais para ter o passaporte expedited entre duas e quatro semanas. Quando faltava uma semana e meia antes do meu vôo eu comecei a telefonar para a Central de Passaportes que fica em New Hampshire, do outro lado do país. A mulher do outro lado do telefone disse que estavam fazendo o passaporte, mas que por via das dúvidas eu deveria tentar marcar uma hora para ir ao escritório em San Francisco. É claro que não havia ninguém com quem eu pudesse falar em pessoa. Somente o de sempre: para isso aperte esse número, para aquilo aperte aquele número. Eu detesto esses sistemas de vozes automático.

Continuei telefonando todos os dias e sempre a mesma resposta: your application is being processed, mam! Eu odeio a expressão mam, que vem de madame. A intenção do termo é demonstrar respeito e educação. Até aí tudo bem. Mas acontece que esse termo é geralmente utilizado por burocratas num tom condescendente quando eles não sabem como responder a sua pergunta e querem se livrar de você.

Finalmente, quando faltava cinco dias para o embarque, um tipo falou que eu podia ter um appointment de emergência no escritório em San Francisco. Mas tinha um porém. O pai dela tinha de estar presente. O problema é que ele estava na Alemanha a trabalho. O tipo então disse que ele teria que me mandar uma tal forma com firma reconhecida via fax. Ele estava lecionando num castelo no meio de uma floresta no meio da Alemanha sem acesso a telefone ou internete.

Eu expliquei que ele estava presente quando preenchemos o formulário e já havia autorizado e assinado na frente da pessoa com a qual aplicamos pelo passaporte. Mas não há exceção quando se trata da burocracia. A burocracia é inflexível. A burocracia é burra.

Decidi então que eu iria arriscar e viajar com o passaporte brasileiro dela e o pai poderia me mandar o americano quando este chegasse. Como ela tem dupla cidadania, ela entra no Brasil com o passaporte brasileiro e entra aqui com o americano. Eu estava de malas prontas, prestes a sair para o aeroporto quando decidi telefonar mais uma vez para o escritório central na esperança de ouvir que o passaporte estava prestes a ser enviado.

Muito pelo contrário, a voz do outro lado disse: there seems to be a problema with the application, mam! Quando perguntei qual era o problema ela não soube responder. Quando perguntei se ela poderia contatar o escritório em San Francisco para descobrirmos qual era o problema, ela disse que não. Só podia contatá-los via e-mail!

Após mais de uma semana vivendo um cenário digno de Kafka, eu estava a ponto de sofrer um ataque de pânico. Fiquei pensando o que poderia haver de errado com o formulário. Teria esquecido de colocar as fotos, a certidão de nascimento? Enfim, sem saber qual era o problema não era prudente eu me arriscar com as duas crianças. Telefonei para a companhia área para cancelar a passagem. Eles não reembolsam. Poderei usar as passagens dentro de um ano, mas terei que pagar uma multa altíssima. Tive que cancelar as passagens entre São Paulo e Floripa também. O lado brasileiro pelo menos foi mais generoso e tive de pagar somente 30 reais por passagem para o cancelamento.

No dia seguinte eu telefonei mais uma vez e dessa vez eles me disseram que o passaporte estava pronto. Um dia após minha última conversa com o burrocrata, o passaporte dela chegou: azulzinho e novinho em folha. Não havia nenhum problema.

Passei uns dias na maior deprê, uma mistura de tristeza e raiva. Estou triste por ter de adiar a minha viagem até o ano que vem. Estou furiosa por ter de pagar pela incompetência desse governo.

Eu não me considero uma pessoa superticiosa, em geral. Mas o único consolo que me resta é pensar que talvez não era para ser. Dar muro em ponta de faca por muito tempo pode acabar em sangue.

Fotos: (1) Berkeley Marina, (2) Stinson Beach na tarde de quinta-feira.

Monday, August 06, 2007

Somos mamíferos

Estamos comemorando a Semana Internacional da Amamentação. Esse ano eu decidi escrever sobre a minha experiência pessoal amamentando os meus filhos. É muito mais fácil escrever sobre o prazer que senti amamentando os meus filhos, os momentos aconhegantes que passamos juntos, a alegria de vê-los gordinhos e sadios somente com o meu leite. Mas no princípio não foi tão fácil assim.

Ainda me lembro dos primeiros momentos com o meu filho. Eu estava exausta após um trabalho de parto que durou dias e uma cesária de emergência. Eu havia lido sobre amamentação, mas ainda imaginei que fosse algo quase automático, que se eu oferecesse o seio para o bebê, ele simplesmente começaria a amamentar.

Mas não foi bem assim. No hospital as enfermeiras me ensinaram diversas posições e me ajudaram a fazer com que a boca do bebê cobrisse toda a aureola . Eu também recebi a visita de uma Lactation Consultant, uma especialista em amamentação que vem orientar as mães nas primeiras horas após o parto.

No início foi um pouco doloroso. Eu respirava fundo já em antecipação da dor que eu iria sentir quando ele começasse a sugar. Mas depois de alguns dias eu peguei o jeito da coisa.:-)

Quando a minha filha nasceu, quase quatro anos depois do meu filho, eu já sabia o que esperar. Ela também nasceu de cesária e quase prematura. A boca dela era minúscula e eu tive a maior dificuldade em fazê-la pegar o peito de maneira correta. Para piorar a situação, eu tive que tomar magnésio nas primeiras 24 horas porque os médicos queriam ter certeza que a minha pré-eclampsia estava sob controle. A minha reação à essa droga foi bem pior da segunda vez que da primeira. Eu estava tão desorientada que mal conseguia falar com a Lactation Consultant. Ela ficou preocupada com o peso da minha filha e recomendou que eu usasse um tubinho com um suplemento que estaria colado no meu peito. Dessa forma, ela mamaria o leite materno e o suplemento ao mesmo tempo.

Felizmente, uma das enfermeiras (que por sinal é brasileira e é minha amiga) conseguiu me mostrar a maneira correta de posicionar a boquinha dela. Uma vez que ela consegui sugar (e eu voltei ao meu estado normal), ela não parou mais. Quando voltamos para a casa, ela continuou mamando com o auxílio do tubinho, mas após uma semana o pediatra falou que ela não precisava mais.

Eu adoro coisas práticas. É claro que é o leite materno é o melhor para a saúde do bebê, mas uma outra vantagem da amamentação é que é super prático. O leite está sempre morninho, sempre fresquinho, pronto a qualquer hora e você não precisa carregar aquela parafernália toda. Afinal, já basta a bolsa com as fraldas!

Esse post faz parte da blogagem coletiva iniciada pela Denise.

Árvore da vida

Árvore da vida

Carregada de cachos de leite

Sempre morno, sempre doce

Fonte de alimento

Para o corpo e para a alma

Podem ser pequenos

Delicados como pessêgos

Recatados, parecem esconder-se por detrás das blusas

Podem ser maiores

Robustos como meninas bem alimentadas

Ousados, tentam saltar para fora a cada oportunidade vã

Podem ser adulterados e até tatuados

Bico ereto, suplicante

Atrevido, insinuante

Saciando outras bocas famintas

Fonte de desejos

Que vem do corpo e da alma

Eles aquietam

Colo sereno

Eles inquietam

Lábios entreabertos

Obra de arte que desabrocha

Em total abandono

É nossa essa herança das deusas

Feb 28, 2006

Saturday, August 04, 2007


Bend it

Minha filha de sete anos já feminista de carteirinha. Um pouco é influência minha, mas ela sempre foi uma menina de opiniões fortes e cheia de determinação. Ao dois anos ela passou por uma fase de querer usar a mesma calça jeans, um boné do irmão e uma botinha que veio de presente do Brasil. Era verão, mas não havia quem pudesse convecê-la de usar outra coisa. É claro, que quando chegou o inverno ela só quiz usar vestidos (só para contrariar).

Ela não gosta de seguir moda. Ela gosta de lançá-la. Aos quatro anos, ela começou a usar umas bandanas como lencinhos na cabeça na pré-escola. Em dois tempos, quase todas as meninas da classe começaram a usar os tais lencinhos. Uma mãe até veio perguntar onde eu tinha comprado as bandanas. É claro que quando as meninas começaram a imitá-las a moda perdeu a graça e ela parou de usar os lencinhos.

Ao cincos anos, ela me perguntou na mesa do jantar se existia “girlcott.” Respondi que não. Ela então protestou. Não era justo existir “boycott,” mas não “girlcott.” Tive de explicar que boycott não tinha nada a ver com boy.

Enfim, ela já tem um gosto super sofisticado para filmes. Enquanto o irmão adora assistir Star Wars (nada contra), ela prefere filmes com heroínas fortes e que contam estórias sobre relacionamentos. Assistimos juntas Akeelah and the Bee, Quatro Amigas e um Jeans Viajante (Sisterhood of the Travelling Pants), Meu Melhor Amigo (Because of Winn-Dixie) e Driblando com o Destino (Bend It Like Beckham).

Esse último assistimos no final de semana passado. Eu adorei. O filme é dirigido por Gurinder Chadha, diretora inglesa de origem indiana. Ela também dirigiu um outro filme muito bem humorado sobre as vidas de um grupo de mulheres anglo-indianas em Bhaji on the Beach. Driblando com o Destino (Bend It Like Beckham) conta a estória de Jess que sonha em ser jogadora de futebol professional, como seu ídolo David Beckham. Os pais são indianos tradicionais e têm outros planos para a filha. A mãe quer que ela siga os passos da irmã mais velha que está se preparando para casar. O pai, embora reconheça o talento da filha, também tenta fazer com que ela mude de idéia, pois teme que ela seja rejeitada por ser mulher e ser indiana. O sonho dele era ser jogador de futebol, mas ele desistiu quando se sentiu discriminado pelos ingleses. Mas Jess não desiste do seu sonho e no final o choque cultural se resolve.

Eu tenho o maior orgulho de ter uma filha que sabe o que quer e que às vezes me deixa louca com suas perguntas e demandas.

Bend it like Beckham - Trailer

Thursday, August 02, 2007

Quinceañera

Na cidadezinha do sul de Minas de onde vem a minha mãe é comum que as meninas adolescentes participem de bailes de debutantes no clube da cidade. Em São Paulo eu nunca conheci nenhuma menina que tivesse participado desse ritual. Aos quinze anos a minha fantasia era ser fotograda usando jeans com um estilingue no bolso traseiro e um boné de trás para frente. Na época eu estava passando por uma fase de não gostar de qualquer coisa que fosse girly. Como não tinha dinheiro para a foto, eu tive que me contentar em ir para a escola no primeiro dia do colegial usando uma calça de veludo cotelê amarela quase rasgando, um lencinho de bolinhas no pescoço e um batom marron escuro. Tudo isso num ônibus lotado às 7:30 da manhã.

O que me fez pensar sobre o baile de debutantes foi um filme que eu assiti há alguns dias: Quinceañera. Quinceañera é uma festa tradicional celebrada na comunidade latina, especialmente a mexicana, para marcar o aniversário de quinze anos das meninas. A festa é um grande evento na comunidade com banda ao vivo, danças tradicionais, vestidos elaborados e missa na igreja. Escrito e dirigido por Richard Glatzer e Wash Westmoreland, dois homens brancos que nem falam espanhól, o filme foi premiado no Festival de Cinema de Sundance.

Echo Park, o bairro latino de Los Angeles que está passando por um processo de gentrificação, serve como palco para estória da uma grande família latina e seus conflitos em torno de tradição, sexualidade, raça e classe social.

Madalena (Emily Rios), filha de mexicanos, está as vésperas de celebrar sua “quinceañera” quando descobre que está grávida. Seu pai é pastor de um a igreja local e a rejeita. Ela então vai morar com um tio idoso que é mais tolerante que já está abrigando um primo rebelde (Carlos). O tio mora na casa dos fundos em uma propriedade que foi recentemente comprada por um casal gay afluente, com quem Carlos começa um caso.

Segundo Emily Rios, os diretores abordaram o tema de maneira respeitosa e mostraram a cultura e as tradições mexicanas de maneira muito realista. Leia mais aqui.

Você pode assistir o filme no youtube dividido em vários segmentos.

Quinceañera - trailer


Wednesday, August 01, 2007

Los Pasos Perdidos

O verão no norte da Califórnia não passa de ensaio. O ar está frio e as noites nubladas por causa do fog, o nevoeiro típico dessa área. No interior do estado faz bastante calor mas no litoral onde moro o clima é geralmente agradável e até mesmo frio, como agora.

No frio eu tenho vontade de alugar uns DVDs e ficar enroladinha embaixo do cobertor. E é isso que tenho feito. Nos últimos dias tenho assistido alguns filmes bem legais.

O primeiro deles foi Los Pasos Perdidos, uma co-produção argentina-espanhola da diretora uruguaia Manane Rodríguez. O filme conta a estória de Mônica (Irene Visedo), uma jovem de vinte e poucos anos, nascida na Argentina mas criada na Espanha. Ela parece ter um relacionamento bom com a família, embora o pai seja um tanto vigilante (um guarda-costas a segue todo momento).

O motivo de tanta vigilância é porque Mônica é na verdade Diana Beardi, neta do poeta Bruno Beardi (Federico Luppi). Sequestrada quando ainda era bebê, ela foi criada pelo torturator responsável pela morte dos seus pais. Bruno Leardi vai à Espanha à procura da neta. Ele abre um processo junto à corte espanhola exigindo um exame de DNA. Em princípio a jovem o rejeita e declara total lealdade à sua família. Mas aos poucos, como em um quebra-cabeças, a verdade se torna evidente.

Sempre achei incrível a determinação da Madres de Plaza de Mayo, com seus lenços brancos demantando o paradeiro de seus filhos e filhas desaparecidos durantes os anos de repressão militar na Argentina. Muitos dos corpos dos desaparecidos nunca foram encontrados pois estes foram jogados no Rio da Prata.

Dando uma pesquisada na internete eu descobri que de 200 à 500 bebês foram sequestrados com os seus pais. Muitos deles foram criados por famílias aliadas ao regime militar.

Desde 1987 até julho de 2006, a organização Abuelas de Plaza de Mayo já localizou 88 dessas crianças. Alguns desses jovens decidiram permanecer com as famílias que os haviam criado, mas muitos outros decidiram reconectar com suas famílias de origem.

Fico só imaginando o nó na cabeça dessas pessoas em descobrir que os pais que os haviam criado eram na verdade responsáveis pela morte de seus pais biológicos. Além disso, esses jovens cresceram ouvindo a versão fascista dos acontecimentos daquela época na Argentina.

Leia aqui sobre um rapaz que passou por essa experiência (em inglês).

Veja aqui fotos das abuelas.

Leia aqui uma sinopse do filme (em espanhól).

Veja aqui cenas do filme.

Encontrei também o sítio do Memoria Abierta, uma aliança de oito organizações de direitos humanos na Argentina dedicada a preservação da memória do que aconteceu durante os anos de terrorismo militar.

Arte: Maria Amaral via Google Images.