Sunday, May 14, 2006

Feliz Dia das Mães


Quando eu era mais jovem eu tinha dificuldade de me imaginar como mãe. Minha mãe mesmo sempre brincava dizendo que eu não levava muito jeito prá coisa. Eu sempre tive medo se ser completamente devorada pelos meus rebentos, de perder a minha identidade como indivíduo.

“Ser mãe é padecer no paraíso,” dizia sempre a minha mãe. Só que no caso dela eu nunca via que paraíso era esse que ela tanto falava. Ao mesmo tempo eu pensava que talvez iria me arrepender mais tarde por não ter vivenciado uma relação tão íntima como é a relação de mãe e filho ou mãe e filha.

Em meio à minha ambiguidade eu fiquei grávida do meu primeiro filho. Todos os medos vieram à tona. Ao mesmo tempo, eu lembro quando finalmente estavámos de volta em casa, eu olhei nos olhos dessa pessoinha que estudava o meu rosto tão atentamente e me senti completamente apaixonada pelo meu filho. O amor venceu os meus medos.

Quando eu já estava um pouco mais à vontade no meu papél de mãe, veio a minha filha. Eu ainda tenho medo. Mas hoje os meus medos são outros. Eu tenho mais medo da violência urbana, das guerras, da destruição do meio ambiente. Eu tenho medo do futuro que aguarda os meus filhos. Ao mesmo tempo, eu acredito que eles estarão lutando lado a lado com outros filhos por um mundo melhor.

Quanto à mim, ainda estou inteira.

Monday, May 08, 2006

Árvore da vida

Árvore da vida
Carregada de cachos de leite
Sempre morno, sempre doce
Fonte de alimento
Para o corpo e para a alma

Podem ser pequenos
Delicados como pessêgos
Recatados, parecem esconder-se por detrás das blusas
Podem ser maiores
Robustos como meninas bem alimentadas
Ousados, tentam saltar para fora a cada oportunidade vã
Podem ser adulterados e até tatuados

Bico ereto, suplicante
Atrevido, insinuante
Saciando outras bocas famintas
Fonte de desejos
Que vem do corpo e da alma

Eles aquietam
Colo sereno
Eles inquietam
Lábios entreabertos
Obra de arte que desabrocha
Em total abandono
É nossa essa herança das deusas

Feb 28, 2006
Amamentando em massa – Parte II

Nos Estados Unidos as mulheres podem amamentar em público em trinta estados. Dentre os vinte estados onde amamentar em público é considerado ilegal, quinze estados podem processar a mulher por indecência e atentado ao pudor. Já na Califórnia, a lei não só permite que as mães amamentem em público como também lhes dá o direito de processar alguém que não lhe permita fazer o mesmo. Na Califórnia e em Nova York, o direito de amamentar é considerado parte dos direitos civis da mulher.

O puritanismo da sociedade americana não é nenhuma novidade. Mas segundo Mary Lofton, da La Leche League Internacional, numa entrevista publicada na revista eletrônica Womensenews (http://www.womensenews.org/article.cfm?aid=2077), no início do século passado ninguém reparava quando uma mulher amamentava uma criança na igreja. Foi a partir dos anos 50, principalmente através de Hollywood, que os seios ganharam tanta notoriedade. Segundo ela, as pessoas tem dificuldade de associar os seios com a sua função natural da amamentação porque os seios são hiper-sexualizados na cultura americana. As mesmas pessoas que tem dificuldade de aceitar uma mulher amamentando em público não vê nenhum problema com uma adolescente praticamente expondo os seus seios num shopping center, continua ela.

A recomendação da Academia de Pediatria Americana é para se amamentar o bebê até pelo menos um ano de idade, mas a atitute da sociedade em relação à amamentação em público não encoraja as mulheres a amamentarem os filhos por um prazo muito longo. Embora a porcentagem de bebês que são amamentados nos hospitais esteja por volta de 70%, esse número cai para 33% após os primeiro seis meses de vida.

No verão de 2004, Lorig Charkoudian estava amamentando a sua filha numa cafetaria da rede Starbucks em Silver Spring, Maryland, quando um funcionário pediu para que ela cobrisse a criança ou fosse dar de mamar no banheiro. Segundo Lorig só havia uma outra pessoa na cafeteria naquele momento e ela tinha as costas viradas para ele. Lorig então organizou mais de vinte mulheres para amamentar simultaneamente no Starbucks para protestar contra a intolerância da empresa em relação à amamentação. Ela até criou um website, www.nurseatstarbucks.com, para denunciar a prática da empresa. No ano seguinte a mesma coisa aconteceu em New Orleans.

Já Barbara Walters, apresentadora do programa The View - da rede ABC de televisão - e jornalista renomada, provocou a maior controvérsia no ano passado quando falou que se sentiu incomôda e enojada quando uma mulher sentada do seu lado num avião teve a audácia de amamentar o seu filho. Entre 150 e 200 mães e seus filhos, as auto-denominadas “lactivistas,” protestaram na frente da sede dos estúdios da ABC em Nova York ameaçando boicotar o programa. Aparentemente, BW ficou surpresa. Ainda precisamos colocar muito as nossas divinas “tetas al aire,” como diz uma amiga minha espanhola, para que esse país se dê conta que se trata de “just milk, pure and simple.”
Amamentando em massa – Parte I

Acabei de ler no Síndrome de Estocolmo que as mulheres das Filipinas quebraram o recorde de amamentação em público. Foram 3.738 mulheres dando de mamar simultaneamente. Achei lindo! Isso me trouxe recordações de quando eu participei de algo semelhante aqui em Berkeley, Califórnia, em 2002.

Aconteceu no dia 2 de agosto. Era um dia lindo de verão com um céu totalmente azul e sem nuvens. A contagem se deu no anfiteatro do Berkeley High School. As mulheres não paravam de chegar com bebês récem-nascidos, outros já maiores e até crianças de dois e três anos de idade. A minha filha na época já tinha dois anos e meio e ainda amava o seu leitinho materno principalmente na hora de dormir. Foi impressionante entrar naquele teatro enorme e repleto de mães com os seus filhotes.

A minha filha nasceu pesando pouco mais que dois quilos. Ela era quase do tamanho de uma banana. No hospital onde ela nasceu havia uma equipe de “lactation consultants,” algo como consultoras de amamentação. Elas são profissionais pagas para ajudar as mães com quaisquer questões que elas possam ter no que se refere à amamentação. No meu caso, porque a minha filha era muito pequena, a consultora recomendou que eu usasse também um tubinho com leite já pronto que era colocado junto ao meu bico do peito para que ela pudesse mamar dos dois. O tal do tubinho sempre escapulia e finalmente quando voltei para casa e o meu leite desceu eu parei de usar o tubinho. Em pouca semanas a minha filha desabrochou, chegou ao peso ideal e sempre foi uma criança super saudável. Ela já está com seis anos e aprendendo a ler e a escrever em três línguas!

Para alguém que nunca teve uma idéia muito romântica sobre a experiência maternal, eu senti uma espécie de orgulho podendo alimentar um outro ser humano de uma maneira tão básica, com algo produzido pelo meu corpo. Pensei, que coisa fenomenal que é o corpo humano, em especial o corpo da mulher. Que incrível é poder gerar um outro ser humano, parir, poder alimentá-lo e vê-lo crescer diante dos meus olhos. Eu me lembro de quando tive o meu primeiro filho e o pediatra me perguntou se eu ia amamentá-lo. Para mim a resposta era óbvia. Entendo que para muitas mulheres isso não é possível por questões de escolha pessoal ou por questões físicas, mas para mim amamentar foi uma experiência de vida muito gratificante.

Eu nunca senti vergonha de amamentar em público. Eu sempre dei de mamar em restaurants, cafetarias, museus, em lojas diversas, na borda de uma piscina da YMCA e até em monumentos famosos, como a Fontana de Trevi, em Roma. Para mim amamentar, além de todos os beneficios, sempre foi muito prático: o leite estava sempre na temperatura ideal, nunca precisei me preocupar se ia estragar ou carregar aquela tralha toda de mamadeira, leite em pó e garrafa térmica na bolsa. Em viagens longas de avião então era uma beleza. Ao invés do bebê berrar de dor de ouvido na decolagem ou aterrizagem era só colocar o bichinho no peito para assegurar a tranquilidade de todos os passageiros. Mas o melhor de tudo sempre foi o prazer daquele momento íntimo e aconchegante com o bebê.