Sunday, April 29, 2007


Globe for Darfur
Dia Global for Darfur

O Dia Global por Darfur foi organizado por um grupo de organizações de direitos humanos incluindo a Anistia Internacional para marcar o quarto aniversário do início do conflito que já provocou 200 mil mortes e cerca de dois milhões de desabrigados. Milhares de pessoas marcharam em 35 capitais do mundo (inclusive em San Francisco) com o intuito de denunciar a apatia da comunidade internacional e demandar a intervenção de forças internacionais para resolver o conflito na região. Celebridades como Hugh Grant, George Clooney, Mick Jagger, Thandie Newton (na foto) e Matt Damon também participaram do evento. Alguns deles
posaram para fotos segurando uma ampulheta com um líquido vermelho simbolizando o sangue já derramado em Darfur. O tema do protesto foi “Acabou o tempo... Proteja Darfur.” Segundo a BBC, outras 10 mil ampulhetas foram carregadas pelas ruas durante o protesto.

O sítio Globe for Darfur oferece sugestões básicas para as pessoas interessadas em mostrar o seu apoio às vítimas desse conflito. Globe for Darfur funciona como uma plataforma para denunciar os crimes que estão acontecendo em Darfur e para estimular o envolvimento da comunidade internacional. O sítio é em inglês com a opção para outros idiomas, inclusive o português. Entre outras coisas, você pode adicionar a sua assinatura a uma petição a ser enviada para o Secretário Geral das Nações Unidas. A petição demanda que a comunidade internacional pressione todos os lados envolvidos no conflito a negociarem uma trégua. Faça como o George Clooney e eu. Adicione a sua foto com a boininha azul para mostrar o seu apoio.

Outra petição importante diz respeito a violência sexual sofrida por mulheres e meninas. Veja abaixo um trecho da petição:

Façam Soar o Alarme contra a Violação e Violência Sexual em Darfur

O uso sistemático da violação como arma de guerra em mulheres e meninas – incluindo meninas tão jovens quanto os 8 anos de idade – é generalizado e sucede no dia a dia. Este é um crime contra a humanidade. Em diversas áreas, foram mandadas retirar patrulhas concebidas para garantir a segurança das mulheres.

Para melhorar imediatamente esta terrível situação os líderes mundiais devem:

Certificar-se que as forças de paz em Darfur Protegem as mulheres contra a violação garantindo uma maior presença de pessoal feminino no local, e executando patrulhas diárias em todos os campo civis.

Oferecer o apoio e a ajuda que as forças de paz africanas que se encontram em Darfur necessitam para poderem proteger melhor os civis.

Enviar uma força da ONU a Darfur para que as mulheres tenham uma melhor protecção contra a violação e a violência sexual e para que sejam investigados os casos reportados de abuso.

Fazer com que o Governo do Sudão desarme a milícia Janjawid que tem sido responsável por um vasto número de ataques em Darfur e no Chad Oriental.

Fazer com que o Governo do Sudão permita o acesso das associações de ajuda humanitária às vitimas de violação e violência sexual em todo o Darfur.

Certificar-se que o Governo do Sudão irá trazer perante a justiça os que forem acusados de violação e ataques de carácter sexual em Darfur.

Fotos: Globe for Darfur e Google Images



TV Turnoff week
Uma semana sem televisão

Quando eu era criança a minha família não tinha televisão. Eu me lembro que uma vez ou outra eu assistia Tarzan, aquele antigo, na casa da vizinha. Era também uma festa poder assistir Topo Gigio na casa de uma tia. Na escola, quando as crianças falavam sobre alguma novela – creio que na época, tratava-se da Selva de Pedra, eu simplesmente mentia e dizia que eu não gostava de televisão e que preferia a leitura. Televisão para a minha família era artigo de luxo. Ter ou não ter televisão para os meus pais não era uma opção ou uma decisão calculada que viesse contribuir para a educação e o bem estar da família.

Como eu não tinha como passar horas em frente à televisão algo inesperado aconteceu comigo: eu me apaixonei pelos livros. Não tínhamos acesso a biblioteca e os livros que tínhamos em casa eram raros. Portanto, eu os lia e re-lia em total abandono. Passava horas lendo conto de fadas da Índia, velhos livros de história e qualquer coisa que me caísse nas mãos.

Um dia, misteriosamente, ganhamos uma televisão de uma prima. Eu tinha dez anos. A televisão era enorme e nós, carinhosamente, apelidamos o aparelho de caixa de sabão. A televisão não diminuiu o meu amor pela leitura, mas diminuiu o tempo que eu passava com os livros. Eu passava as tardes assistindo desenhos animados com a minha irmã, assistia novelas e às vezes ficava acordada até a Sessão Coruja. Foi assim que assisti os meus primeiros filmes de Fellini e outros clássicos do cinema.

Muitas famílias que eu conheço por aqui limitam o tempo que as crianças passam em frente da televisão. Algumas nem sequer têm o aparelho em casa. Para essas famílias, a programação dos canais comerciais não só deixa muito a desejar como tem um efeito maléfico na educação dos seus filhos. Essas famílias são geralmente de classe média, com uma alto nível educacional e são mais conscientizadas e politizadas do que a média da população. Com exceção dos canais da PBS (Public Broadcasting Service) que são os canais de televisão pública onde praticamente não há comerciais, a programação infantil é infestada de comerciais de brinquedos e junk food que vai de Mc Donald à cereais repletos de açúcar e sem nenhum valor nutritivo.

Os meus filhos raramente assistem televisão durante a semana. Uma vez ou outra eu deixo a minha filha assistir algum programa na PBS. Os programas duram no máximo meia hora. Faço o mesmo com o meu filho que gosta de jogos no computador. Coloco o timer do fogão da cozinha por meia hora. Ele já sabe. Quando o negócio bipa ele pára. Nos finais de semana eles podem escolher um filme para sexta e outro para o sábado à noite. Eu também deixo eles assistirem algo no sábado e no domingo pela manhã. Eles não assistem canal Disney ou Nickelodeon porque eu não tenho estômago para os comerciais. Como resultado, tenho crianças criativas que adoram brincar, desenhar e ler.

Durante essa semana toda foi o “TV turn-off week.” A escola das crianças convidou as famílias a participarem do evento. Hoje à noite os meus filhos celebraram uma semana sem televisão ou jogos de computador. Eles estavam bem orgulhosos de terem conseguido passar uma semana longe das caixinhas.

Esse evento que ocorre todo ano durante o mês de abril é uma iniciativa da TV-Turn Off Network, antigamente TV-Free America, que foi fundada em 1994. É uma organização sem fins lucrativos que estimula crianças e adultos a assistirem a menos televisão, promovendo estilos de vida mais saudáveis. O lema é "desligar a TV e ligar a vida".

Alguns dados interessantes sobre o consumo de televisão nos Estados Unidos:

Quantas pessoas em média por casa nos E.U.A.? 2.55

Quantos televisores em média elas têm? 2.73

50% dos lares americanos têm pelo menos três televisores

19% dos lares têm somente um televisor

Em 1975 somente 11% dos lares tinham mais que três televisores e 57% tinham apenas um.

Em média, um lar americano tem a televisão ligada por pelo menos oito horas por dia.

O americano médio assiste 4 horas e 35 minutos de

televisão por dia.

Fico curiosa para saber quais são os dados no Brasil. Fico impressionada com o tempo que as pessoas passam em frente à televisão quando vou ao Brasil. Muitas das crianças que eu conheço preferem assistir tv do que brincar. E é melhor que eu nem me atreva a começar uma conversa durante a novela das oitos. Se tiver que falar alguma coisa é melhor esperar o comercial.


Friday, April 27, 2007

Bom fim de semana!




Because I Am A Queen
India Arie

Sometimes I shave my legs and sometimes I don't
Sometimes I comb my hair and sometimes I won't
Depend on how the wind blows I might even paint my toes
It really just depends on whatever feels good in my soul

I'm not the average girl from your video
and I ain't built like a supermodel
But, I learned to love myself unconditionally
Because I am a queen
I'm not the average girl from your video
My worth is not determined by the price of my clothes
No matter what I'm wearing I will always be India Arie

When I look in the mirror and the only one there is me
Every freckle on my face is where it's supposed to be
And I know my creator didn't make no mistakes on me
My feet, my thighs, my lips, my eyes; I'm lovin' what I see

I'm not the average girl from your video
and I ain't built like a supermodel
But, I learned to love myself unconditionally
Because I am a queen
I'm not the average girl from your video
My worth is not determined by the price of my clothes
No matter what I'm wearing I will always be India Arie

Am I less of a lady if I don't wear pantyhose?
My mama said a lady ain't what she wears but, what she knows
But, I've drawn a conclusion, it's all an illusion, confusion's the name of the
game
A misconception, a vast deception
Something's gotta change
Don't be offended this is all my opinion
ain't nothing that I'm sayin law
This is a true confession of a life learned lesson I was sent here to share with
y'all
So get in where you fit in go on and shine
Clear your mind, now's the time
Put your salt on the shelf
Go on and love yourself
'Cuz everything's gonna be all right

I'm not the average girl from your video
and I ain't built like a supermodel
But, I Learned to love myself unconditionally
Because I am a queen
I'm not the average girl from your video
My worth is not determined by the price of my clothes
No matter what I'm wearing I will always be India Arie

Keep your fancy drinks and your expensive minks
I don't need that to have a good time
Keep your expensive car and your caviar
All I need is my guitar
Keep your Kristal and your pistol
I'd rather have a pretty piece of crystal
Don't need your silicon I prefer my own
What God gave me is just fine

I'm not the average girl from your video
and I ain't built like a supermodel
But, I learned to love myself unconditionally
Because I am a queen
I'm not the average girl from your video
My worth is not determined by the price of my clothes
No matter what I'm wearing I will always be India Arie

Wednesday, April 25, 2007


Surpresas da vida

Hoje por volta das 6:00 da tarde fiquei sabendo que Salif Keita, um cantor do Mali, estava tocando em Berkeley e que o baterista dele tinha espaço para duas pessoas no guest list. Vim para casa correndo, preparei a janta, surpevisionei os banhos das crianças e sai voando. O show foi fenomenal.

O espetáculo aconteceu no Zellerbach, o teatro da UC Berkeley. Geralmente todo mundo senta bem quietinho e mal se atreve a bater palmas. As regras to teatro não permitem dançar no corredor por causa da remota possibilidade de um incêndio. Então, para pessoas como eu, é uma tortura assistir um show como esse (ou Gil, Olodum, etc.) nessas condições. Felizmente, vez por outra eles acabam abrindo uma exceção, principalmente se o artista pede.

Na segunda música Salif disse que hoje era o aniversário do baterista e pediu que a platéia cantasse o parabéns e que dancasse em homenagem ao músico, pois afinal de contas essa era uma festa africana. Alguns ainda meio acanhados se levantaram e aos poucos muita gente estava dançando. Dancei praticamente o show inteiro e sai levitando.

Eu fui procurar o baterista conhecido nosso no final do show para agradecê-lo pelo convite e a primeira coisa que falei foi: joyeux anniversaire! Ele virou para mim e disse que não era o aniversário dele e que Salif faz isso toda noite. Segundo ele, cada noite um músico diferente é escolhido para representar o aniversariante. Tudo isso para fazer com que a platéia gringa se anime a dançar. Ele tentou também fazer a audiência cantar em coro como os cantores brasileiros fazem, mas só alguns gatos pingados se atreveram. Mesmo assim, no final do show o palco estava cheio de pessoas dançando freneticamente.

Bom, eu sei que isso não aconteceria no Brasil. Eu me lembro que uma vez James Taylor ficou pasmo ao ver tantos brasileiros cantando You’ve got a friend junto com ele no Rock in Rio.


Outra coisa que fiquei sabendo durante o show é que hoje é o Dia Internacional de Conscientização sobre a Malária na África. No meio do show um represente da Nothing But Nets, uma organização que visa a compra e a doação de mosquiteiros para famílias em países africanos veio falar sobre a importância desse dia e sobre o trabalho da sua organização. Segundo ele, um milhão de pessoas morre anualmente em decorrência da malária. A organização nasceu da inciativa do jornalista esportivo Rick Reilly. Ele escreveu uma artigo sobre malária para a revista Sports Illustrated e pediu para que os leitores que praticam ou gostam de esportes que utilizam alguma forma de tela doassem $10 para a compra de mosquiteiros. Milhares de pessoas doaram dinheiro atingindo o total de um milhão de dólares em questão de meses. Foi daí que nasceu a NothingButNets.net.

É a primeira vez que os Estados Unidos participa desse evento que foi iniciado em 2001. As Nações Unidas inclui a malária como uma das prioridades para o Millennium Development Goals (Metas para o Desenvolvimento do Milênio). O continente africano perde $12milhões por ano devido à malária e essa está associada à pobreza. Os mosquiteiros é uma das maneiras mais econômicas e eficientes de se combater a malária reduzindo os casos da doença pela metade.

Desfrutem um pouco desse cantor maravilhoso nos clips abaixo. Também escrevi sobre Salif Keita aqui.


Tuesday, April 24, 2007


Mês da poesia

Abril é o mês da poesia por aqui. Na escola dos meus filhos poesia é o tema: escrevendo, lendo e conversando sobre poetas. É lindo ver crianças da primeira série falando sobre poesia. A minha filha está aprendendo sobre Langston Hughes e Maya Angelou.

O poeta e escritor mexicano Juvenal Acosta é alguém que conheci há quase vinte anos. Sempre nos encontrávamos no Caffe Strada, um lugar simpático com mesinhas redondas ao ar livre em frente ao campus da universidade de Berkeley. Muitas das mesinhas tem mapas de várias partes do mundo decoupados. É o meu Café (não adianta, eu não me acostumo com a palavra cafetaria) favorito. Perdemos o contato, mas descobri que ele leciona em San Francisco. Encontrei o poema dele por acaso. E o meu foi uma bobeirinha que eu escrevi na ocasião do seu aniversário.


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

Fernando Pessoa

AMAR A LA EXTRANJERA

Those things I felt for you in Spanish

and talked about in English

with my therapist

my cat

and the inhabitants of this Tower of Babel, I just

cannot bring myself to repeat them

anymore

In the language I use on the daily, daily basis

to get jobs, tobacco and cappuccinos.

Inside my tongue

there is a foreign blood

and inside that blood there is still

another foreign blood

- I must say I go from blood to blood

like an international vampire -

Why ask why

I won't ask anymore questions

I'm fed up with getting answers

I won't repeat myself in circles of damn pain

My traveling heart

is learning everything there is to know

about foreign towns

foreign tongues

and silence.

Juvenal Acosta, Berkeley 1991

Juvenal faz 30 anos!

O poeta quer poetizar

Ainda mais a sua vida,

Que por ser vida de poeta,

Já transpira poesia.

Entre musas e cappucinos

Ele constrói versos

Da mais pura madeira

Vinda diretamente

Dos campos argentinos.

Regina Camargo, Setembro 1991

Foto: Berkeley Marina, Regina Camargo

Monday, April 23, 2007


Aniversário do blog

Hoje este blog está completando um ano. Agradeço o carinho de todos os leitores(as) que passaram por aqui no decorrer desse ano, dos que participaram deixando comentários aos que preferiram ficar quietinhos. Através desse blog fiz amizades e aprendi muito com tod@s voces. Todo esse processo tem enriquecido muito a minha vida. Agradeço também o apoio da Denise Arcoverde e de todas as poderosas.

Fotos: tarde de domingo no Berkeley Rose Garden

Sunday, April 22, 2007


Dia da Terra

O pessoal do Faça a sua Parte sugeriu uma blogagem coletiva para comemorar o Dia da Terra. O Flávio propôs que os participantes da blogagem escrevam sobre uma meta para lidar com a questão do meio ambiente.

Como já disse antes, na minha casa reciclamos tudo (inclusive aparelhos eletrônicos e computadores), não desperdiçamos comida, carrego a minha própria sacola para o supermercado, apoio o comércio local, procuro comprar comésticos que não são testados em animais, não compro artigos de couro ou com pele animal, sou quase vegetariana (ainda como tandoori chicken de vez em quando), compro roupas usadas, etc. Para comemorar o Dia da Terra a cidade de Berkeley aceitou todo tipo de lixo eletrônico gratuitamente nesse final de semana, assim nos livramos de coisas quebradas que haviam se acumulado ao longo dos anos.

Mas ainda tenho muito que melhorar. Eu tenho duas metas para esse ano: caminhar mais e trazer o meu próprio copo quando compro o meu latté (aqui eles vendem copo reusável para o café).


Mas nesse Dia da Terra, eu gostaria também de ressaltar a importância de dois tópicos que a meu ver não recebem a devida atenção no movimento ambientalista mais tradicional: a questão da justiça ambiental e do racismo ambiental. E óbvio que as nossas escolhas pessoais e a maneira como conduzimos as nossas vidas tem um impacto enorme no meio ambiente. Mas a questão ambiental é também política e vai muito além da preservação dos recursos naturais, das florestas e dos animais. Na área onde moro, por exemplo, os bairros de classe média e classe média alta são arborizados, tem supermercados em abundância com uma fartura de alimentos saudáveis (orgânicos ou não). Nos bairros mais pobres (onde os moradores são em sua maioria afro-americanos, árabes, latinos e outros imigrantes) quase não há árvores nas ruas, muitas das casas são decrépitas com tinta descascando que pode expôr crianças a tóxicos que causam dificuldades de aprendizagem, no lugar de supermercados há um liquor store em cada esquina com todo o tipo de junk food mas onde não se encontra uma banana para comprar. É também bastante comum que esses bairros sejam próximos de zonas industriais. Como consequência, muitas crianças nessas comunidades sofrem com asma e há um incidência maior de doenças como o câncer.

O mesmo acontece a nível global. Recentemente, eu descobri que a cidade de Berkeley não aceita um tipo de plástico entre os plásticos que são recicláveis porque esse tipo de plástico acaba sendo exportado para algum lixão na China.

É claro que é mais fácil continuar reciclando as minhas garrafas, latas e papél sem pensar muito em tudo isso porque francamente, é deprimente. Mas vivemos interconectados numa teia global. O que acontece nos Estados Unidos afeta a China, afeta o Brasil. A questão ambiental, na minha opinião, tem que também incluir a questão da justiça social.

Foto: vista do Lawrence Hall of Science, em Berkeley, nesse domingo.

Arte: Google images.






Chovendo na Roseira
Elis Regina
Composição: Tom Jobim

Olha está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Luisa
Que é de Paulinho
Que é de João
Que é de ninguém

Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento

Olha um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera

Olha que chuva boa prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa criadeira
Que molha a terra
Que enche o rio
Que limpa o céu
Que trás o azul

Olha o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança em vasto rio de águas calmas

Ah, você é de ninguém
Ah, você é de ninguém

Foto: tirada na frente da minha casa hoje

Friday, April 20, 2007

Bom fim de semana!

Ojos de Brujo - Kien engaña no gana


Thursday, April 19, 2007


The right to bear arms (and to kill one another)
O direito de portar armas (e de matar uns aos outros)

Três dias após a chacina na universidade Virginia Tech, o assunto ainda domina a manchetes de jornais e as notícias na televisão. A emissora NBC decidiu veicular o vídeo-manifesto mandado pelo atirador na manhã do tiroteio. Como já era de se esperar, as famílias das vítimas condenaram a decisão da emissora por sua falta de sensibilidade. A NBC, por sua vez, se defendeu usando o argumento de que o vídeo proporcionaria um insight no que levou Cho Seung-Hui a cometer o atentado. Na minha opinião, a mostra desse vídeo não revelou absolutamente nada no que diz respeito às razões pelas quais um indivíduo resolve cometer esse tipo de atrocidade. Mesmo o chefe de polícia que está investigando o crime disse que o vídeo não ajudou nas investigações. A BBC, que eu geralmente prefiro ao invés dos canais americanos, também decidiu exibir partes do vídeo. O editor defendeu a sua posição nesse blog. Ele justificou a sua postura dizendo que os trechos do vídeo foram cuidadosamente selecionados e contextualizados e que, em sua opinião, essas passagens do vídeo eram relevantes para a audiência da BBC.

Será que o público realmente quer e necessita saber nos mínimos detalhes os pensamentos de um psicopata? Creio que não. Como eles dizem aqui: there is no redeeming value. A imprensa televisiva está se tornando cada vez mais explícita, comercial e superficial. Daniel Pearl sendo degolado, Sadam sendo enforcado, as torres do World Trade Center desmoronando. Essas imagens explícitas de violência são mostradas e repetidas com tanta frequência que elas chegam a perder o choque inicial. O público passa a ser o voyeur de uma mídia cada vez mais exibicionista. A tragédia, com trilha sonora e tudo, acaba se confundindo com filme hollywoodiano.

Como sempre, as grandes emissoras e a CNN se limitam à uma cobertura superficial, redundante e sensacionalista do evento. Sempre que acontece uma tragédia dessa magnitude, a CNN imediatamente cria um logo e uma trilha sonora. As mesmas imagens são recicladas over and over again. Especialistas em vários assuntos são entrevistados, vítimas são homenageadas, procissões de pessoas carregando velas, flores e ursinhos de pelúcia são depositados em altares improvisados num script cada vez mais previsível. É comovente. Mas ninguém tem a coragem de fazer as perguntas difíceis, aquelas que incomodam porque mexem com a core, ou seja o cerne, dessa sociedade. Muitas das entrevistas com especialistas giraram em torno da segurança nas universidades. Como já era previsto, as respostas demonstraram a preocupação com a segurança, em como tornar as universidades e escolas mais seguras. Mas ninguém menciona o controle de armas. Muitos psicólogos foram entrevistados, mas a ênfase é geralmente no atirador. O problema é individualizado e nem os jornalistas nem os especialistas se comprometem à uma análise mais profunda que venha a debater alguns dos problemas sérios que afetam especialmente a juventude nessa sociedade: violência, solidão, alienação, individualismo, vídeo games que utilizam violência explícita, doença mental, filmes que trivializam e glorificam cenas de violência, etc.

Para botar mais sal na ferida, Dana Perino, a porta voz da Casa Branca, disse que o presidente estava mandando suas preces e condolências para as famílias das vítimas, mas que ao mesmo tempo ele acreditava no direito ao porte de armas contanto que este fosse feito legalmente.
O NRA, National Riffle Association, por sua vez, diz que guns dont kill people, people do (armas nao matam pessoas, pessoas matam). Mas, senhoras e senhores, qual é a arma mais popular e eficiente usada em homícidios? Quem acertar ganha o trof
éu abacaxi.

Andei lendo alguns foruns. Teve gente que tem a petulância de argumentar que na verdade precisamos de mais armas ao invés de menos, que se os professores e os alunos estivessem armados o número de vítimas teria sido menor. A era do velho oeste ainda impera na cabeça de alguns. Realmente, a estupidez humana desconhece limites.

Os melhores artigos que eu li foram publicados pelo jornal britânico, The Independent. Os links estão abaixo (em inglês, sorry).

Recomendo os seguintes artidos publicados no Independent:

Rupert Cornwell: A brutal truth: Massacre is just part of everyday life in America

The Big Question: Is there a link between America's lax gun laws and the high murder rate?

Segundo o jornal, houve 19 tiroteios em escolas na última década. Infelizmente, considerando que o número de armas nesse pais quase equivale à população, acho que essa não vai ser a última vez que presenciamos esse espetáculo macabro.

Foto: Google images (tirada no ano 2000)

A Leila também escreveu sobre esse assunto.

PS: Responderei a todos os comentários nos outros posts abaixo mais tarde. Desculpem a demora.



Wednesday, April 18, 2007

Day of silence

Criado em 1996, o Day of Silence (Dia do Silêncio) é um evento que ocorre anualmente nas escolas de ensino médio e superior americanas para chamar a atenção sobre a discriminação, o preconceito e as ameaças contra estudantes gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros em todas as instituições de ensino a nível nacional. Este é um dos maiores eventos estudantis do país e conta também com a participação de muitos professores assim como estudantes heterossexuais. Essa é também uma forma de demonstrar solidariedade com a comunidade LGBT (sigla em inglês) que é silenciada durante o decorrer do ano.

O meu filho vai começar o middle-school (6.a, 7.a e 8.a séries) em setembro. Ontem eu recebi um e-mail da escola para onde ele irá no próximo ano escolar avisando os pais que a escola iria respeitar a decisão dos alunos que decidissem participar do Day of Silence.





Monday, April 16, 2007



Crise doméstica


Bom, devo começar me desculpando pela demora e agradecendo a paciência das pessoas que passaram por aqui nos últimos dias. Eu geralmente tenho o hábito de escrever à noite quando as crianças já foram dormir, o telefone não toca, o gato não precisa de comida e finalmente posso me sentar em frente ao computador sem ser interrompida. O único problema é que às vezes eu estou tão exausta que não tenho pique para terminar o que gostaria de escrever, especialmente se for sobre um assunto mais sério.

Nos últimos dias eu também passei por uma “crise doméstica.” Na quinta-feira passada ao invés de sentar para escrever como faço normalmente antes de dormir, decidi limpar a cozinha e o banheiro. Como já disse aqui antes, sempre sinto a necessidade de ajeitar o ninho antes da chegada do parceiro. Fiquei limpando e organizando o meu caos até às quatro da manhã. E passei os outros três dias absolutamente detestanto tarefas domésticas.

Na minha opinião, não existe nada mais cansativo, repetitivo, aborrecedor que o cotidiano doméstico. Todo o dia a mesma coisa: café da manhã, preparar a lancheira, levar criança na escola, trabalhar, fazer compras, buscar criança na escola, decidir o que fazer para o jantar, cozinhar, lavar roupa (que também envolve separar, dobrar e guardar). Sem falar na faxina pesada: banheiro, cozinha, passar aspirador. O marido ajuda e os filhos limpam o próprio quarto. Mas ainda assim, eu sempre penso que enquanto estou limpando o chão poderia estar escrevendo um poema ou lendo ou fazendo qualquer outra coisa mais interessante. Esse é o preço de ter uma família. Agora posso entender melhor a frustração da minha mãe quando eu era pequena. Ela ficava irritada e eu sem entender o por quê. Agora entendo. Ela também se sentia limitada pelas suas obrigações domésticas. Nós nunca tivemos empregada. Eu também não tenho nenhuma ajuda paga. Acho importante para as crianças aprenderem a cuidar do seu espaço e acho que é a responsabilidade da família de manter o seu próprio lar. Mas que é um pé isso é!

Art: Google images

Wednesday, April 11, 2007

Postcard from Vienna

Acabei de receber essa foto via e-mail. No ano passado a Áustria celebrou os 250 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart com um vasto programa cultural que incluiu espectáculos de música, ópera, teatro e exposições.

A história que é celebrada e ensinada nas escolas é a história dos privilegiados, dos vencedores ou dos gênios, como é o caso de Mozart. Mas na história de todo país há sempre outras histórias por ser contadas. E foi assim que eu descobri o projeto Hidden Histories – Remapping Mozart (Histórias escondidas – Re-mapeando Mozart).

Mas, está super tarde. Amanhã eu continuo.

Foto: Kai Eckhardt, Viena.





Tuesday, April 10, 2007



Walking in clouds

Adoro Youtube. Hoje encontrei essa pérola: o meu marido arrasando no contrabaixo na época em que nos conhecemos.

Nós nos conhecemos num clube de jazz, no dia mais longo no hemisfério norte, quando o sol não põe até lá pelas nove da noite. Ele estava numa turnê pelos Estados Unidos e Canadá e eu trabalhando de garçonete, enquanto estudava de dia. O grupo, John Mc Laughlin Trio, tocou no Yoshi’s por cinco noites. Pensando bem, se não fosse por estarmos no mesmo lugar ao mesmo tempo durante esses cinco dias jamais teríamos nos conhecido. Uma janela de oportunidade se abriu o suficiente para que um pouco de magia tocasse o meu coração amedrontado.

No final da primeira noite, ele veio com uma desculpa esfarrapada dizendo que havia perdido um livro e quem sabe eu o teria encontrado. Notei um sotaque e perguntei de onde ele vinha. Ele respondeu com um sotaque leve, mas definitivamente alemão, West Germany. Eu tinha imaginado qualquer país, menos Alemanha Ocidental. Sim, nós nos conhecemos em 1989, uns meses antes da queda do muro de Berlim quando a Alemanha ainda era dividida em duas. Além do mais, aquele homem na minha frente não correspondia em nada ao esteriótipo que temos de alemães no Brasil, ou seja, ele não era loiro de olhos azuis.

Durante dois anos e meio fizemos “ponte aérea.” entre a Califórnia e Frankfurt. Gastamos os tubos com passagens e com longas conversas (também umas poucas brigas) por telefone. Essas são algumas das loucuras da minha juventude das quais não me arrependo. Nossas vidas ainda é uma sucessão de aeroportos e adeuses. Mas tem sempre a volta.

É incrível como o começo de um romance fica gravado na memória. Eu ainda me lembro de todos os detalhes como se seu corpo fosse uma paisagem, um mapa a ser estudado: as sardas no nariz, coisa do lado alemão; uma pinta exatamente no meio do pulso direito; outra no ombro esquerdo; o relógio de pulso com a pulseira azul marinho e no mostrador, as fases da lua; a ponta dos dedos arredondatas de tanto tocar o instrumento; o braço bronzeado com pelos suaves, aloirados, ligeiramente tocando o meu no banco detrás do carro a caminho do aeroporto; uma minúscula cicatriz de infância no canto da boca e um sorriso largo que iluminava a sala.

Era verão e eu me senti plena como um girassol. Durante aqueles cinco dias eu vivi em estado de graça. As if I was walking on clouds. And indeed I was.

Na época escrevi:


Your presence

Crosses my thoughts

In subtle ways

When I am not alert

When I least expect it

And it leaves me with

This grin on my face

Agosto, 1989

Tua presença

Atravessa meus pensamentos

De maneira sútil

Quando eu não estou alerta

Quando eu menos espero

E me me deixa

Com esse sorriso no rosto

Monday, April 09, 2007

Camp Jesus

Ontem assisti um documentário sensacional: Camp Jesus, sobre um acampamento de verão para crianças evangélicas nos Estados Unidos. Nesse acampamento elas são treinadas para serem “soldados do exército de Deus” e tem de se comprometer a lutar na cruzada contra o aborto. Segundo o filme, 25% da população americana é evangélica e 75% das famílias que decidem educar os filhos em casa (homeschooling) são cristãos fundamentalistas. Os que continuam mandando os filhos para a escola rejeitam a teoria da evolução em favor da “teoria da criação.” As escolas públicas no estado do Kansas tem de ensinar as duas teorias lado a lado, o que vai contra a separação entre a Igreja e o Estado, um dos pilares da sociedade americana. A ideologia conservadora dos cristãos fundamentalistas tem ganho terreno especialmente no governo Bush.

A Folha Ilustrada de ontem publicou a seguinte resenha:

Filme polêmico mostra "exército" de crianças cristãs nos EUA

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EDUARDO SIMÕES

da Folha de S.Paulo

Um grupo de crianças estende os braços em direção a uma imagem em tamanho natural de George W. Bush. A "adoração", na verdade uma oração para o "líder", não faz parte de um episódio de "South Park" satirizando o presidente norte-americano. É a realidade de meninos e meninas, com idade a partir de 6 anos, que freqüentam um insólito acampamento de verão nos EUA. Lá, rezam, choram e gritam, entre outras coisas, contra o aborto.

Revelado no documentário "Jesus Camp", em cartaz nos EUA desde o início de outubro, o acampamento Kids on Fire [crianças em chamas], em Devil's Lake, Dakota do Norte, ensina crianças a se tornarem "soldados do exército de Deus". Numa das cenas mais impressionantes, elas aparecem vestindo roupas semelhantes a uniformes do exército, com pintura de camuflagem no rosto, dançando com espadas de madeira, ao som de um "heavy metal cristão", segundo definição do jornal "The New York Times".

Nenhum dos personagens retratados no documentário se mostrou, até agora, insatisfeito com o resultado ou repercussões do filme. Salvo o ex-presidente da Associação Nacional de Evangélicos, Ted Haggard, que colocou um comunicado no site da instituição acusando o documentário de "manipular os fatos" como faria Michael Moore, e comparando a câmera do documentário à do filme de terror "A Bruxa de Blair".

Haggard, ferrenho oponente do casamento gay e conhecido como conselheiro de Bush, foi afastado na semana passada da associação, depois de ser acusado de ter pago, durante três anos, para fazer sexo com um garoto de programa, de quem também teria comprado anfetaminas. Após seu afastamento, o pastor enviou um pedido de desculpas à associação, numa carta em que se disse "culpado de imoralidade sexual".

Leia a matéria na íntegra aqui.

Jesus Camp - trailer


Sunday, April 08, 2007

Domingo no parque


Passamos o dia no parque hoje celebrando a Páscoa com os nossos amigos do “grupo de alemão.” Algumas das pessoas desse grupo eu conheço desde que as crianças eram bebês. Nós nos encontrávamos uma vez por semana para as crianças bricarem. Eu ainda vejo algumas das mães uma vez por semana. Eu aprendi o pouco do alemão que falo graças à companhia dessas mulheres. Quando estamos em grupo elas só falam em alemão. Eu sou a única tupiniquim.

As crianças se divertiram brincando de cabo de guerra, de pular corda e de corridas de saco e de ovo na colher. A comida estava ótima e depois o bando de crianças foi ao bosque para procurar as cestinhas com chocolate.

Eu adoro o som das minhas crianças rindo. Eles são tão criativos e se perdem nas suas fantasias. A vida é cheia desses momentos mágicos. Agora, mais do que nunca, eu estou notando e saboreando esses momentos.

Nunca pensei que um dia eu fosse dizer isso: é bom estar viva. Muito bom! É uma delícia sentir esse sol morno de primavera e essa grama fria, quase molhada, sob os meus pés.

Fotos: quintal de casa e Lake Temescal, Oakland.




Feliz Páscoa, Happy Easter, Frohe Ostern

Segundo os meus filhos, uma das vantagens de ter pais de culturas diferentes (e viver numa terceira) é poder celebrar muitas tradições. Na Páscoa, por exemplo, eles pintam ovos para decorar a casa. Essa é uma tradição alemã. Nos Estados Unidos as crianças normalmente pintam ovos cozidos. Mas na Alemanha, eles pintam os ovos ocos. Eu explico: primeiro tem fazer um buraquinho na parte de cima e outro na parte de baixo do ovo com uma agulha; o próximo passo é assobrar o conteúdo do ovo para esvaziá-lo (depois o interior pode ser utilizado para um bolo ou um omelete); por último, coloca-se o ovo num palito e a criança pinta. Depois de seco, passa-se uma linha ou uma fitinha pelo ovo e é só pendurar.

Quanto aos ovinhos de chocolate, os pais espalham os ovinhos e coelhinhos de chocolate pelo jardim para as crianças procurarem. Entre eles eu acrescento um maior por criança, o brasileiro. Tenho uma forma de plástico e todo o ano faço um ovo no estilo brasileiro. É engraçado, os detalhes dos quais sinto falta quando penso no Brasil. Sinto falta de ver os ovos dos mais variados tamanhos e cores pendurados nas padarias, além de sentir falta de um pãozinho quentinho. Acabei matando a minha vontade numa lojinha de produtos brasileiros aqui perto. Uma vez cheguei a ir no North Beach, o bairro italiano em San Francisco, à procura do tal ovo. Mas o que eu achei não era tão bom como os brasileiros.

Este ano eu decidi conversar com os meus filhos sobre o aspecto religioso da Páscoa para os cristãos. No que eles me perguntaram:

- Mãe, o que é que o coelho e os ovos de Páscoa tem a ver com Cristo?

- Bom, expliquei, há muito tempo os coelhos e os ovos eram uma tradição pagã (aqui em Berkeley, é possível que uma criança saiba o significado dessa palavra). Depois de um tempo, esses símbolos foram adotados pelo cristianismo. Acho que basicamente, esses símbolos estão associados a chegada da primavera no hemisfério norte, à fertilidade e à regeneração do círculo da vida.

Além da farra em casa, fazemos um piquenique com outras crianças do grupo de alemão que os filhos frequentam.

As crianças adoram. No final do dia, voltarei com mais fotos.

PS: Encontrei esse trechinho na wikipédia que achei interessante:

Os termos "Easter" (Ishtar) e "Ostern" (em inglês e alemão, respectivamente) parecem não ter qualquer relação etimológica com o Pesach(páscoa). As hipóteses mais aceitas relacionam os termos com Eostremonat, nome de um antigo mês germânico, ou de Eostre, uma deusa germânica relacionada com a primavera que era homenageada todos os anos.

É sugerido por alguns historiadores que muitos dos atuais símbolos ligados à Páscoa (especialmente os ovos de chocolate, ovos coloridos e o coelhinho da Páscoa) são resquícios culturais da festividade de primavera em honra de Eostre que, depois, foram assimilados às celebrações cristãs do Pessach, depois da cristianização dos pagãos germânicos. Contudo, já os persas, romanos, judeus e armênios tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos por esta época.

Um ritual importante ocorria no equinócio da primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos (símbolo da fertilidade) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Este ritual foi adaptado pela Igreja Católica no principio do 1º milênio depois de Cristo, fundindo-a com outra festa popular da altura chamada de Páscoa. Mesmo assim, o ritual da decoração dos ovos de Páscoa mantém-se um pouco por todo o mundo nesta festa, quando ocorre o equinócio da primavera.


Saturday, April 07, 2007


Sábado de Aleluia e a malhação do Judas

Eu pensei que essa era uma tradição que já não existia mais no Brasil. Para a minha surpresa, hoje passeando em cyberspace percebi que esse não é o caso.

Malhação

Como ensinar o perdão

Condenar a violência

Promover o diálogo

Quando o desejo de vingança

Vira brincadeira de criança?

O boneco linchado,

Queimado, enforcado

Pendurado nos postes

Lembrança da crueldade humana

Ontem era o Judas,

Hoje ele tem cara de político,

E no ano que vem

Terá a cara de quem?

Laura escreveu um post excelente sobre a malhação de Judas e a violência.

Vanessa escreveu um post lindo sobre as suas recordações da semana santa em Minas.

Friday, April 06, 2007


Sexta-feira da paixão

Hoje é sexta-feira

Sexta-feira da paixão

Via Crucis

Dia de procissão

Entro na igreja aberta

Não tem missa nem vela

Numa manhã cinzenta

Duas mulheres trabalham

Um menino ensaia a leitura

Espio pela fresta

Memória vaga

Desbotada

No banco, sentadinha

A menina

Rodeada de mulheres

Terços entre os dedos

Véu de renda preto

Cristo ensanguentado

Velório virtual

Sem saber porquê

Mesmo aos cinco anos

Aceito a mea culpa

Sempre o mesmo ritual

Todo ano o filme se repete

Pôncio Pilatos lavando as mãos

Como os políticos ainda o fazem

Como nós o fazemos ao ignorarmos

O sofrimento alheio

O caminho da cruz,

Das guerras sem piedade,

Do desespero, da fome,

Da tortura,

Da morte que não faz questão de nome

Como no filme, as mulheres

Fonte de compaixão

Guardiãs da dor

Marias, Verônicas, Madalenas

Mães, irmãs, amantes

Exploradas, violentadas, solitárias

Enlouquecidas de dor

Ave Maria, cheia de graça

Rogai por todos nós

April 6, 2007

Essa foi a primeira vez que entrei numa igreja nos E.U.A. numa sexta-feira santa. Por alguma razão, essa semana santa me trouxe muitas lembranças. Além do domingo de ramos, eu me lembrei da única malhação de Judas que presenciei quando era menina. Eu me lembro que senti medo quando vi os meninos maiores batendo e ateando fogo num boneco do tamanho de uma pessoa. Essa é uma tradição trazida pelos portugueses e espanhóis para a América Latina. Não sei se isso ainda existe, mas é uma imagem extramente violenta que me lembra de linchamentos.

Os portugueses podem ter trazido a malhação de Judas, mas também trouxeram o bacalhau. Graças a Deus, porque essa era a única coisa que me ajudava num dia tão triste como a sexta-feira da paixão. Sempre adorei bacalhau e ficava beliscando o peixe ainda cru, com a minha mãe irritada falando “pára, menina.” O meu bacalhau já estava de molho há dois dias, exatamente como a minha mãe fazia. Ficou uma delícia, embora não tão bom quanto o dela.:-)

Foto: Pátio da Igreja de Santo Ambrósio, em Berkeley, de Regina Camargo.

Thursday, April 05, 2007

Joschka Fischer

Hoje fui à duas palestras completamente distintas.

A primeira foi no Departamento de Estudos Europeus da UC Berkeley com Joschka Fischer. Joseph Martin “Joschka” Fischer, ou simplesmente Joschka Fischer como ele é conhecido, foi Ministro das Relações Exteriores da Alemanha e vice chanceler no governo de Gerhard Schröder de 1998 a 2005. Ele foi uma figura importante do Partido Verde Alemão e foi o primeiro a ocupar um cargo no governo. Segundo pesquisas de opinão pública, ele foi o político mais popular da Alemanha durante a maior parte do seu governo. Ele deixou o posto em novembro de 2005.

O tópico da palestra foi “O futuro do Oriente Médio: o que está em jogo para os Estados Unidos e a Europa.” Ele falou por mais de uma hora sobre terrorismo, globalização, Iran e reafirmou a sua oposição à guerra no Iraque. O que eu mais gostei foi do tom do discurso dele. Ao contrário da grande maioria dos políticos americanos, o estilo dele foi conciliatório, analítico e sem a mínima arrogância. Ele ressaltou a importância dos Estados Unidos e da Comunidade Européia trabalharem juntos e disse acreditar na viabilidade de dois Estados, Israel e Palestina, no Oriente Médio, reconhecendo que para isso ambos os lados precisariam fazer concessões.

Em determinado momento ele disse que nos Estados Unidos muita gente não acredita em negociar com o inimigo, que isso é visto como um sinal de fraqueza. Para essas pessoas, só existe uma maneira, e é através da força bruta. Ele discorda. Para ele, no que diz respeito à política externa, a questão que deve ser levada em conta é se a decisão de não negociar (com o Iran ou a Síria, por exemplo) é uma decisão inteligente ou não.

Depois que ele terminou de falar, ele simplesmente saiu pela mesma porta como todo o mundo, sem guarda-costas ou nenhum carro esperando. Isso jamais aconteceria com um político aqui.


A segunda palestra foi na escola dos meus filhos com o psicólogo David Brodzinsky. O tópico da palestra foi “Crianças ordinárias em famílias extraordinárias: estratégias para apoiar a auto-estima da crianças.” Ou seja, crianças como todas as outras vivendo em famílias alternativas, devido à adoção, divórcio, por serem filhos de gays ou lésbicas, por serem criados por avós, por viverem apenas com o pai ou com mãe, etc . Ele falou que nos dias de hoje no que diz respeito à famílias, diversidade é a norma. É muito comum, especialmente em grandes centros urbanos e nas áreas mais progressistas dos Estados Unidos, como a Califórnia, famílias que adotaram, famílias de gays e lésbicas, casais biraciais, mães solteiras por opção, etc.

A discussão girou em torno de como os pais podem fazer para apoiar os filhos que vêm de famílias não-tradicionais a lidarem com esteriótipos e comentários maldosos de outras crianças. Ele recomendou que os pais mantenham um diálogo constante com os filhos e demonstrem empatia quando algum incidente venha a ocorrer. Ele falou também da importância dos pais separarem a sua experiência das dos filhos e sempre perguntar antes de assumir qualquer coisa. Às vezes a maneira que os pais interpretam um incidente é completamente diferente de como a criança experenciou o mesmo incidente. Daí a importância de se perguntar a criança como ela se sentiu a respeito. Enfim, criar filhos é um aprendizado que nunca tem fim.


Na escola dos meus filhos famílias que fogem ao padrão é tão comum que eles falam com a maior naturalidade que algumas crianças têm um pai e uma mãe, outras têm duas mães; que tem uma professora que mora com a namorada; que uma outra menina foi adotada do Nepal; que uma outra criança, tem mãe que é americana branca e pai nigeriano; que numa outra família o pai é católico e a mãe judia e por aí vai. Eu me sinto privilegiada de morar em um lugar com tanta diversidade humana. Vive la différence!

Foto: Regina Camargo

Art: Google images