Sunday, April 29, 2007


TV Turnoff week
Uma semana sem televisão

Quando eu era criança a minha família não tinha televisão. Eu me lembro que uma vez ou outra eu assistia Tarzan, aquele antigo, na casa da vizinha. Era também uma festa poder assistir Topo Gigio na casa de uma tia. Na escola, quando as crianças falavam sobre alguma novela – creio que na época, tratava-se da Selva de Pedra, eu simplesmente mentia e dizia que eu não gostava de televisão e que preferia a leitura. Televisão para a minha família era artigo de luxo. Ter ou não ter televisão para os meus pais não era uma opção ou uma decisão calculada que viesse contribuir para a educação e o bem estar da família.

Como eu não tinha como passar horas em frente à televisão algo inesperado aconteceu comigo: eu me apaixonei pelos livros. Não tínhamos acesso a biblioteca e os livros que tínhamos em casa eram raros. Portanto, eu os lia e re-lia em total abandono. Passava horas lendo conto de fadas da Índia, velhos livros de história e qualquer coisa que me caísse nas mãos.

Um dia, misteriosamente, ganhamos uma televisão de uma prima. Eu tinha dez anos. A televisão era enorme e nós, carinhosamente, apelidamos o aparelho de caixa de sabão. A televisão não diminuiu o meu amor pela leitura, mas diminuiu o tempo que eu passava com os livros. Eu passava as tardes assistindo desenhos animados com a minha irmã, assistia novelas e às vezes ficava acordada até a Sessão Coruja. Foi assim que assisti os meus primeiros filmes de Fellini e outros clássicos do cinema.

Muitas famílias que eu conheço por aqui limitam o tempo que as crianças passam em frente da televisão. Algumas nem sequer têm o aparelho em casa. Para essas famílias, a programação dos canais comerciais não só deixa muito a desejar como tem um efeito maléfico na educação dos seus filhos. Essas famílias são geralmente de classe média, com uma alto nível educacional e são mais conscientizadas e politizadas do que a média da população. Com exceção dos canais da PBS (Public Broadcasting Service) que são os canais de televisão pública onde praticamente não há comerciais, a programação infantil é infestada de comerciais de brinquedos e junk food que vai de Mc Donald à cereais repletos de açúcar e sem nenhum valor nutritivo.

Os meus filhos raramente assistem televisão durante a semana. Uma vez ou outra eu deixo a minha filha assistir algum programa na PBS. Os programas duram no máximo meia hora. Faço o mesmo com o meu filho que gosta de jogos no computador. Coloco o timer do fogão da cozinha por meia hora. Ele já sabe. Quando o negócio bipa ele pára. Nos finais de semana eles podem escolher um filme para sexta e outro para o sábado à noite. Eu também deixo eles assistirem algo no sábado e no domingo pela manhã. Eles não assistem canal Disney ou Nickelodeon porque eu não tenho estômago para os comerciais. Como resultado, tenho crianças criativas que adoram brincar, desenhar e ler.

Durante essa semana toda foi o “TV turn-off week.” A escola das crianças convidou as famílias a participarem do evento. Hoje à noite os meus filhos celebraram uma semana sem televisão ou jogos de computador. Eles estavam bem orgulhosos de terem conseguido passar uma semana longe das caixinhas.

Esse evento que ocorre todo ano durante o mês de abril é uma iniciativa da TV-Turn Off Network, antigamente TV-Free America, que foi fundada em 1994. É uma organização sem fins lucrativos que estimula crianças e adultos a assistirem a menos televisão, promovendo estilos de vida mais saudáveis. O lema é "desligar a TV e ligar a vida".

Alguns dados interessantes sobre o consumo de televisão nos Estados Unidos:

Quantas pessoas em média por casa nos E.U.A.? 2.55

Quantos televisores em média elas têm? 2.73

50% dos lares americanos têm pelo menos três televisores

19% dos lares têm somente um televisor

Em 1975 somente 11% dos lares tinham mais que três televisores e 57% tinham apenas um.

Em média, um lar americano tem a televisão ligada por pelo menos oito horas por dia.

O americano médio assiste 4 horas e 35 minutos de

televisão por dia.

Fico curiosa para saber quais são os dados no Brasil. Fico impressionada com o tempo que as pessoas passam em frente à televisão quando vou ao Brasil. Muitas das crianças que eu conheço preferem assistir tv do que brincar. E é melhor que eu nem me atreva a começar uma conversa durante a novela das oitos. Se tiver que falar alguma coisa é melhor esperar o comercial.


11 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Regina,

Quando eu era criança nosso tempo na frente da tv era limitado. Não pq meus pais tivessem algum problema com a qualidade da programação, ou algo assim. É que a tv ficava na sala e minha mãe não queria que nós ficássemos "fazendo bagunça" na sala dela, por isso nos mandava brincar na rua. Tinha programas que assistiamos com regularidade - eu me lembro que quando morávamos nos EUA tinha um desenho que passava as 7 da manha que adoravamos (Starblazers - conhecido como Patrulha Estelar no brasil). Como tínhamos que sair de casa as 8 para ir pra escola, nós levantávamos as 6 da manha, para poder estar prontos para ir pra escola as 7 e assistir o desenho...

Fora isso, brincavamos fora de casa, líamos MUITO, inventávamos mil brincadeiras.

Nunca desenvolvi o habito de sentar em frente da tv e ficar trocando de canal por horas sem fim. Quando ligo a tv, pego o guia, procuro algum programa que eu gostaria de ver e coloco no canal. Se não tiver nada interessante, eu nao assisto.

Antes de virmos para a Espanha assistiamos no maximo 1 hora de tv por dia (o jornal nacional de lá), uma vez por semana eu assistia o Lost. No fim de semana não ligávamos a tv. Vendemos a TV pois não queríamos deixa-la no deposito e agora vamos voltar e tentar passar um tempo sem tv.... Vamos ver como será.

Realmente o Brasil não está muito atras no consumo da TV. Meus pais vivem sozinhos e têm 3 tvs em casa. Meu sobrinho de 3 anos e meio já virou consumidor mirim - sabe o nome de todos os personagens e pede para os pais comprarem camisetas do batmam, superhomem, brinquedos mil e todo tipo de merchandise. Onde ele aprende isso? Pela TV e suas famigeradas propagandas direcionadas às crianças. Todo mundo acha bonitinho ele saber essas coisas; eu fico horrorizada.

Eu acho que se tivesse filhos eu limitaria ao máximo o uso da TV pelas crianças e certamente não deixaria assistir nenhum canal com tanto comercial. Algo assim como o que vc têm feito.

7:08 AM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, eu sou de uma geracao que nasceu vendo TV (o Toppo Giggio ainda existia, mas acabou quando eu era bem pequena - sou cria da Vila Sesamo e do Globinho), e ainda assim eu lia bastante. Acho que crianca que nao gosta de ler pode ate' nao ver televisao, mas vai brincar na rua ou fazer outra coisa que nao ler... Os pais tem que estimular o gosto pela leitura, e a escola tambem.

Quanto ao metodo de restringir o horario de ver televisao, eu concordo. Tirar completamente eu acho exagero. Vai aticar a curiosidade das criancas e faze-las se sentir por fora das conversas dos amiguinhos que vao falar da Dora, do Thomas, Power Rangers, etc.

3:47 PM  
Blogger Regina said...

Alexandra,


Antes eu assistia o noticiario na tv mas agora eu ando lendo as noticias na internete (BBC, New York Times e The Independent from the UK). Gosto de assistir os documentarios no PBS mas nem para isso tenho tempo mais. Ainda temos tv a cabo mas raramente assisto. As criancas as vezes assistem Animal Planet ou Discovery Channel.

Bjs.

Regina

11:20 PM  
Blogger Regina said...

Leila,

Eu tambem assisti muita Vila Sesamo. Eu ja estava com uns dez anos, mas ainda assim adorava o show. Eu me lembro bem da Sonia Braga, do Garibaldo, etc. Eu tb adorava os Muppets.

Concordo com voce. Acho bom limitar o uso da tv mas nao proibir de tudo. Eu me lembro de como eu me sentia como uma outsider no colegio por nao poder acompanhar as conversas sobre os programas de tv. Meu filhos sempre assistiram PBS. Mas ainda assim tenho que limitar o numero de programas. O meu filho nao liga muito para tv, mas a minha filha passaria horas se eu deixasse.

Tem tambem muitos programas interessantes no Animal Planet e no Discovery Channel. O meu filho adorava Thomas, the tank engine quando era menor. Ja' Power Rangers e outros programas do genero eu nunca deixei porque esses passam nos canais comerciais e as propagandas sao insuportaveis.

Beijocas,

Regina

11:26 PM  
Blogger forasteiro said...

É realmente vergonhoso deixar as crianças entregues as babás eletronicas. De uma olhada na nossa versão do desligue a tv http://www.desligueatv.org.br/

11:26 AM  
Blogger Regina said...

Forasteiro,

Obrigada pela dica. Eu nao sabia que existe algo semelhante no Brasil.

Bj

Regina

9:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

Regina,

Passando aqui para dar um oi e me deparo com tantos posts bons! O teu blog tá uma delícia.

Enfim, qto à tv. Quando eu tinha mais tempo e não trabalhava à noite, a Maria Luiza só assistia a TV cultura que tem excelentes programas. Tinha um programa, o Castelo Rá tim bum, que era super criativo e até eu adorava. Ah, e tinha uma novela muito legal também, bem educativa (acho que se chamava "no mundo da lua"). Só que tudo mudou quando eu me separei e tive que trabalhar à noite na universidade. Nunca mais tive o controle e as meninas acabaram por adquirir essa febre das novelas. Principalmente a mais nova. Eu, que, como vc sabe, prezo muito a leitura, fico triste porque nem uma, nem outra gosta muito de ler. Mas olha, sempre quando eu chegava do trabalho, ia 'tuck them in' e ler trechos de livros para as meninas. E a casa, recheada de 'boa literatura' (infantil, infanto-juvenil, you name it). A escola delas sempre teve o livro do mês e eu sei que ler um livro por mês é coisa que muita gente que se diz 'leitor ávido' não faz.

Quando eu era criança, por outro lado, nunca tive incentivo à leitura mas era fascinada pelo mundo dos livros. Como minha mãe não comprava muitos livros, eu lia os que eu tinha várias vezes. E daí comecei a atacar os 'clássicos'. Só dormia depois de ler. Depois, eu própria fiquei membro do 'clube do livro' e comprava os meus livrinhos.
Sei lá... é claro que o computador e a TV ocupam o lugar dos livros, mas veja: eu sempre tive livre acesso à TV e até que assistia algumas novelas só que, muitas vezes, e por pura vontade própria, eu escolhia ler. Eu posso estar enganada, mas nem tudo é tão clear-cut. Tem gente que eu conheço que teve uma infância super alegre, longe de tv, que fazia seus próprios brinquedos, etc. e que não é muito dada à leitura.

Não sei Regina. Acho que p/ mim a leitura é tão visceral que eu estou tentando achar uma maneira de justificar o triste fato de que minhas filhas não gostam (muito) de leitura. :-(


Obrigada pela força lá no blog. Entreguei tudo ontem e estou me sentido 'as free as a bird'. Agora é curtir esses dias e depois começar a me preparar p/ a defesa. Dever cumprido.

beijos

Cris

3:39 PM  
Blogger Regina said...

Cris,

Eu adoro a programacao da TV Cultura. E' uma excelente alternativa as Xuxas da vida.

Eu tb nunca perdi o gosto pela leitura apesar da televisao, mas tenho que confessar que quando era adolescente eu assistia muito mais tv que lia. Eu acho que quando a crianca passa muito tempo em frente a tv a tendencia e ler menos, especialmente se os pais tb nao cultivam o habito da leitura.

bj

Regina

1:07 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu descobri o "turnoff week" só hoje. Embora não tenha descoberto antes, tenho o costume de nunca ver tv há muitos anos. O problema é que tenho um pai que vê tv durante toda a noite e eu acabo assistindo junto (ouvindo), sem querer.

Achei bastante interessante como você educa seus filhos para não assistir tv por várias horas, creio que se a maioria dos pais pensassem como você, as pessoas cresceriam muito mais conscientes.

8:45 PM  
Blogger oakleyses said...

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7:22 PM  
Blogger oakleyses said...

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7:27 PM  

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