Thursday, April 05, 2007

Joschka Fischer

Hoje fui à duas palestras completamente distintas.

A primeira foi no Departamento de Estudos Europeus da UC Berkeley com Joschka Fischer. Joseph Martin “Joschka” Fischer, ou simplesmente Joschka Fischer como ele é conhecido, foi Ministro das Relações Exteriores da Alemanha e vice chanceler no governo de Gerhard Schröder de 1998 a 2005. Ele foi uma figura importante do Partido Verde Alemão e foi o primeiro a ocupar um cargo no governo. Segundo pesquisas de opinão pública, ele foi o político mais popular da Alemanha durante a maior parte do seu governo. Ele deixou o posto em novembro de 2005.

O tópico da palestra foi “O futuro do Oriente Médio: o que está em jogo para os Estados Unidos e a Europa.” Ele falou por mais de uma hora sobre terrorismo, globalização, Iran e reafirmou a sua oposição à guerra no Iraque. O que eu mais gostei foi do tom do discurso dele. Ao contrário da grande maioria dos políticos americanos, o estilo dele foi conciliatório, analítico e sem a mínima arrogância. Ele ressaltou a importância dos Estados Unidos e da Comunidade Européia trabalharem juntos e disse acreditar na viabilidade de dois Estados, Israel e Palestina, no Oriente Médio, reconhecendo que para isso ambos os lados precisariam fazer concessões.

Em determinado momento ele disse que nos Estados Unidos muita gente não acredita em negociar com o inimigo, que isso é visto como um sinal de fraqueza. Para essas pessoas, só existe uma maneira, e é através da força bruta. Ele discorda. Para ele, no que diz respeito à política externa, a questão que deve ser levada em conta é se a decisão de não negociar (com o Iran ou a Síria, por exemplo) é uma decisão inteligente ou não.

Depois que ele terminou de falar, ele simplesmente saiu pela mesma porta como todo o mundo, sem guarda-costas ou nenhum carro esperando. Isso jamais aconteceria com um político aqui.


A segunda palestra foi na escola dos meus filhos com o psicólogo David Brodzinsky. O tópico da palestra foi “Crianças ordinárias em famílias extraordinárias: estratégias para apoiar a auto-estima da crianças.” Ou seja, crianças como todas as outras vivendo em famílias alternativas, devido à adoção, divórcio, por serem filhos de gays ou lésbicas, por serem criados por avós, por viverem apenas com o pai ou com mãe, etc . Ele falou que nos dias de hoje no que diz respeito à famílias, diversidade é a norma. É muito comum, especialmente em grandes centros urbanos e nas áreas mais progressistas dos Estados Unidos, como a Califórnia, famílias que adotaram, famílias de gays e lésbicas, casais biraciais, mães solteiras por opção, etc.

A discussão girou em torno de como os pais podem fazer para apoiar os filhos que vêm de famílias não-tradicionais a lidarem com esteriótipos e comentários maldosos de outras crianças. Ele recomendou que os pais mantenham um diálogo constante com os filhos e demonstrem empatia quando algum incidente venha a ocorrer. Ele falou também da importância dos pais separarem a sua experiência das dos filhos e sempre perguntar antes de assumir qualquer coisa. Às vezes a maneira que os pais interpretam um incidente é completamente diferente de como a criança experenciou o mesmo incidente. Daí a importância de se perguntar a criança como ela se sentiu a respeito. Enfim, criar filhos é um aprendizado que nunca tem fim.


Na escola dos meus filhos famílias que fogem ao padrão é tão comum que eles falam com a maior naturalidade que algumas crianças têm um pai e uma mãe, outras têm duas mães; que tem uma professora que mora com a namorada; que uma outra menina foi adotada do Nepal; que uma outra criança, tem mãe que é americana branca e pai nigeriano; que numa outra família o pai é católico e a mãe judia e por aí vai. Eu me sinto privilegiada de morar em um lugar com tanta diversidade humana. Vive la différence!

Foto: Regina Camargo

Art: Google images