Tuesday, July 31, 2007


Arrivederci Antonioni!
E lá se vai outro grande cineasta. O filme de Antonioni que mais me marcou foi Zabriskie Point. Eu o assisti quando era bem jovem no Cineclube do Bixiga, um cineminha pequeno especializado em filmes de arte. Era o início dos anos 80 em São Paulo e a contracultura americana via Jack Kerouac estava super na moda. Eu fiquei super impressionada com as imagens do Vale da Morte, na Califórnia.

Jamais imaginei que um dia fosse morar nesse estado. Um dia desses ainda irei conhecer Zabriskie Point, no Vale da Morte.

O filme, lançado em 70, mostra o movimento de contracultura daquela época nos Estados Unidos.

Foto: Zabriskie Point de Alain Briot, via Google Images.



Monday, July 30, 2007

Adeus Ingmar

Hoje faleceu Ingmar Bergman, um dos gênios do cinema. Ele tinha 89 anos.

O primeiro filme que eu vi dele foi Sonata de Outono. O filme me havia sido recomendado pelo meu professor de História da Comunicação no início dos anos 80. Tive de escrever uma análise sobre o filme.

Eu adoro filmes introspectivos que me fazem refletir sobre a vida e o relacionamento entre as pessoas. Depois assisti Gritos e Sussuros, Morangos Silvestres, Sonhos de uma Noite de Verão, Cenas de Um Casamento, O Sétimo Selo e Fanny e Alexander.

Mas O Sétimo Selo foi um dos filmes que mais me marcou.


…and she embraces us

Like a lover

Like someone who has been longing

For this moment

As she opens the window

The secret is no longer a secret

She, who knows no limits,

Takes us by the hand.

She is the Absolute,

The last undeniable truth.

(Escrito em agosto de 89, inspirado pelo filme O Sétimo Selo.)


…e ela nos abraça

Como uma amante

Como alguém a espera desse momento

Quando ela abre a janela

O segredo deixa de ser segredo

Ela, que desconhece limites,

Leva-nos pela mão

Ela é o Absoluto,

A última verdade incontestável

Ingmar, que você encontre morangos silvestres onde quer que esteja.

Mad in Paris - Paris a le Blues



Mais um pouquinho de Paris para começar a semana…

Thursday, July 26, 2007


Como nao posso ir à Paris…

Como não posso ir à Paris fui ao cinema assistir Paris, je t’aime, uma série de declarações de amor feita por vários diretores. Paris é uma das minhas cidades favoritas. Não sei porque mas me sinto muito a vontade lá. As pessoas que acreditam em reencarnação diriam que são coisas de uma outra vida.

Mesmo da primeira vez, foi como se eu já soubesse aonde ir. Cheguei no Charles de Gaulle com pouco dinheiro como sempre, peguei um trem e fui direto para Île de la Cité. Eu só tinha uns dois dias na cidade porque estava a caminho de Barcelona para encontrar uma outra amiga. Depositei a minha babagem num locker de uma estação de trem e fui descobrir a cidade. Eu estava tão cansada que adormeci ao sol no gramado em frente à catedral de Notre Dame, enquanto esperava chegar a hora para encontrar um amigo americano que estava morando lá há um tempo.

Na segunda vez, dirigimos da Alemanha para visitar uns amigos em Paris. Estacionamos o carro, um Peugeaut vermelho muito bonitinho que o Kai tinha, no bairro da Porte de La Villette onde estava tendo um show de jazz com Miles Davis e John Mc Laughlin. O único detalhe é que a minha mala de mão e o contrabaixo do Kai estavam no carro porque estávamos mudando da casa de um amigo para a casa de um outro. Eu fiquei meio paranóica (coisa de paulistana), mas o Kai que sempre acreditou na bondade humana simplesmente cobriu a mala e o instrumento com um cobertor e me garantiu que nada ia acontecer. O show foi incrível e quando voltamos a janela do carro estava quebrada e a minha mala tinha sido roubada. Eles só não roubaram o instrumento porque não passava pela janela.

Tive que comprar de calcinha para cima. Felizmente eu tenho um faro super aguçado para uma barganha e às vezes pura sorte. No dia seguinte depois de lidar com a polícia sobre o roubo decidi aproveitar o dia e ir até Montmatre. Decidi na estação de metrô de Barbès-Rochechouart e no caminho eis que me deparo com a versão francesa das Lojas Marisa, Chez Tati. Chez Tati salvou a pátria. A mãe do meu amigo quando ouviu que a minha mala havia sido roubada falou toda empolgada: “não existe lugar melhor para perder as roupas que em Paris.” Mal sabia ela que se não fosse pela Chez Tati eu estaria com a roupa do corpo.

Eu estava grávida de cinco meses da última vez que visitei Paris. Os trens estavam em greve por isso tive de pegar um ônibus da fronteira com a Alemanha até Paris. Na volta também foi o maior sufoco. Era novembro e o tempo estava cinzento e chuvoso. Eu fiquei num hotelzinho perto do cemitério Pére Lachaise. Caminhei muito como sempre faço e apesar da loucura com os trens eu não me arrependo nem um pouco.

Mas voltando ao filme, uma das vinhetas que mais me tocou foi a de uma jovem imigrante que mora afastada da cidade e trabalha como babá. Ela deixa o seu bebê na creche e pega o trem lotado para ir cuidar de um outro bebê o dia todo. Eu também gostei do monólogo de uma mulher americana que economizou dinheiro por muitos anos para ir visitar Paris e da vinheta sobre o marido que decidiu deixar a esposa quando descobre que ela está prestes a morrer. Ele decidi então fingir que ainda a ama e no processo acaba por apaixonar-se de novo por ela.

Cada vinheta retrata uma faceta diferente do amor: o amor entre amantes, o amor na família, o amor pela cidade, o amor entre dois vampiros e a dor da perda. Numa das vinhetas, a divina Juliet Binoche faz o papél de uma mãe cujo filho faleceu.

Enfim, a fotografia é belíssima e dá vontade de pegar o primeiro avião apesar das greves e nessa época do ano, do barulho de construção em cada esquina.


Saturday, July 21, 2007

Susheela Raman - Ganapati


A India acaba de eleger a sua primeira mulher presidente, Prathibha Patil. Fica aqui a minha pequena homenagem na voz da cantora inglesa/indiana Susheela Raman.


Ganapati é um dos nomes para Ganexa ou Ganesha, uma das representações de Deus no hinduísmo. Ele é o primeiro filho de Shiva e Parvati. Ganesha representa o intelecto e a sabedoria.

Segundo a wikipédia, “Ganesha é o símbolo das soluções lógicas, e deve ser interpretado como tal. Seu corpo é humano enquanto que a cabeça é de um elefante, e ao mesmo tempo, seu transporte (vahana) é um rato. Desta forma Ganesha representa uma solução lógica para os problemas, ou "Destruidor de Obstáculos". Sua consorte é Buddhi (um sinônimo de mente) e ele é adorado junto de Lakshmi (a deusa da abundância) pelos mercadores e homens de negócio. A razão sendo a solução lógica para os problemas e a prosperidade são inseparáveis.

...

Em termos gerais, Ganesha é uma divinidade muito amada e frequentemente invocada, já que é o Deus da Boa Fortuna quem proporciona prosperidade e fortuna e também o Destruidor de Obstáculos de ordem material ou espiritual. É por este motivo que sua graça é invocada antes de iniciar qualquer tarefa.”

Leia mais sobre Ganapati e hinduísmo aqui.

Que Ganapati ilumine o caminho da nova presidente.

Friday, July 20, 2007

De Mali à Cali

No final de semana passada recebi um e-mail do meu amigo Dore Stein, que é o DJ de um programa de rádio chamado Tangents com uma lista de shows. Tangents é um programa excelente por uma série de fatores. Primeiro, como a emissora é da rede pública não há interrupção para comerciais. Segundo, é um show onde se pode ouvir música do mundo inteiro, especialmente coisas difíceis de encontrar. Terceiro, o tipo de música que se ouve nesse show raramente aparece nas rádios comerciais. O show vai ao ar todos os sábados das 20:00 às 24:00 horas (horário de San Francisco) e é possível ouvir o show pela internete.

Eu já tive o privilégio de substituir o Dore como dj algumas vezes. Foi uma experiência ótima que repito sempre que tenho a oportunidade. Uma vez ele dedicou metade de um show à música lusofônica e me chamou para colaborar com ele durante essa parte.

Muitas das pessoas que curtem música do mundo já se tornaram ouvintes assíduos. Às vezes ele também organiza festas com shows ao vivo. E de vez em quando ele manda um e-mail para todo mundo com uma lista de eventos e as primeiras pessoas a acertarem uma certa pergunta ganham um ingresso.

Dessa vez eu fui a sortuda. Ganhei um par de ingressos para ver dois artistas incríveis do Mali: Vieux Farka Toure, filho do legendário guitarrista Ali Farka Toure que faleceu no ano passado; e Toumani Diabate com a Symmetric Orchestra. O show foi na Villa Montalvo, um centro cultural localizado numa mansão, estilo vila italiana, a uma hora e meia de viagem daqui.

O local conta com três palcos ao ar livre e uma galeria de arte. Além de música, há também performances literárias e cursos de arte. Villa Montalvo foi construída em 1912 por James Duval Phelan, prefeito de San Francisco por três turnos consecutivos. Com fama de ser liberal, ele acabou sendo o primeiro senator eleito pelo estado da Califórnia. Villa Montalvo era o lugar favorito de Phelan que convidava artistas, músicos e escritores para visitar o local. Após a sua morte e de acordo com o que ele deixou estipulado no testamento, a vila passou a ser um local público o qual passou a ser administrado pela Associação de Artes de San Francisco desde 1930.

O nome Montalvo foi uma homenagem a um escritor espanhól do século XVI chamado Garcia Ordonez de Montalvo. Foi ele quem batizou o estado com o nome de Califórnia. Em uma de suas fábulas ele descreve Califórnia como uma ilha cheia de ouro e jóias, regida por amazonas, cuja rainha chamava-se Califia. Na estória, as amazonas cavalgavam em grifos, seres mitológicos com o corpo de leão e cabeça e asas de águia.

A entrada do lugar é impressionante. Para entrar na propriedade é necessário atravessar um desses portões de ferro com uma coluna de cada lado, onde do alto espiam duas estátuas dos grifos, uma de cada lado. Dirigi por uma milha até chegar ao alto de uma colina onde fica o centro cultural. Por boa parte do percuso pude avistar mansões de estilo europeu como as que se vê na área de Napa Valley. Eu nunca tinha visto tanta casa luxuosa num mesmo lugar. Eu às vezes me esqueço como tem gente rica nesse mundo.

Chegando no teatro ao ar livre avistei o meu amigo. O lugar estava cheio e do lado esquerdo do palco estava o contigente do Mali. Uma das mulheres estava linda, vestida da cabeça aos pés em amarelo.

Eu me apaixonei pela música do Mali quando ouvi Salif Keita pela primeira vez há quase 20 anos. Depois descobri Oumou Sangare, Boubacar Traore, Ali Farka Toure, Toumani Diabate e Rokia Traore, entre outros.

Vieux Farka Toure está seguindo a tradição de seu pai tocando um estilo de blues do Mali, também conhecido como desert blues. Alguns acreditam que o blues americano teve a sua origem no blues do Mali.

Toumani Diabate começou a tocar a kora quando tinha cinco anos de idade. A kora é um instrumento de 21 cordas feitas de linha de pesca, calabaça e pele de antílope. Ele participou de um projeto com Ali Farka Toure pouco antes de sua morte que lhe rendeu um Grammy. Foi a primeira vez que um músico ganhou o prestioso prêmio tocando kora.

Toumani Diabate faz parte de uma longa linhagem de griots, um tipo de repentista do Mali. Os griots são encarregados de manter viva a cultura Mandiga do antigo império medieaval do Mali que incluía outros países da área.

Durante o show um dos músicos falou que griot é na verdade uma palavra francesa que não descreve adequadamente o significado desses cantadores e trasmissores da história oral daquela região. Segundo ele, a palavra em bambara, um dos idiomas dominantes do Mali é djeli. Djeli també significa sangue. Ele disse que de acordo com a tradição mandinga o ser humano é o microcosmo do universo e é o sangue que mantém o corpo funcionando. O djeli tem a mesma função na comunidade, ou seja, cabe ao djeli zelar pelo bem estar da comunidade.

A Symmetric Orchestra é um conjunto de músicos de alto calibre oriundos de diversos países na África Ocidental que antigamente formam o Império do Mali e utiliza uma combinação de instrumentos tradicionais como o balafon, o djembe, o sabar (esses dois últimos são tambores) com instrumentos modernos como a bateria, o piano elétrico e o contrabaixo.

O show teve muitos pontos altos. O músico que tocava o djembe era incrível e realmente sabia como comandar a atenção da audiência; foi lindo quando o cantor se dirigiu à grupo do Mali cantanto sobre as virtudes da cultura do seu pais em Bambara; e por último, quando Toumani falou:

- Dizem que o inglês, o francês e até o chinês são línguas universais. Para mim, a música e a cultura são línguas universais... Dizem que a África é um continente pobre, mas de que vale riqueza se alguém não tem cultura?

Bravo!

Vale a pena visitar os dois artistas no link abaixo:

http://www.myspace.com/vieuxfarkatoure

http://www.myspace.com/toumanidiabate

Para Toumani Diabate também visite esse link:

http://www.worldcircuit.co.uk/#Toumani_Diabate

Lá você encontrará quatro músicas do seu último cd e um clip de mais ou menos dez minutos sobre o seu trabalho. O clip foi feito no Mali e é muito bonito (em francês, com subtítulo em inglês). Mesmo se você não é fluente em nenhum dos dois idiomas ainda vale a pena pelas imagens e pelo sentido geral da coisa.



Noite alta

São cinco e meia da manhã e eu ainda não preguei o olho. Está amanhecendo e eu estou tomando um chá de camomila para ver se finalmente me acalmo. Escrever também ajuda a me relaxar, portanto aqui estou. Eu normalmente nunca tenho problemas para dormir. Muito pelo contrário, durmo até demais. Só não consigo dormir na véspera de viagem. Eu não viajo até agosto mas já ando super nervosa com tudo. Também não durmo bem quando o meu marido tem que sair de casa às três ou quatro da manhã para pegar um vôo às seis. Mas hoje foi pior. Ele saiu para viajar e nós só vamos nos ver quando eu voltar do Brasil por isso tínhamos muitos detalhes para coordenar.

É incrível o número de detalhes que envolvem uma viagem internacional, especialmente com crianças. Tive que renovar os dois passaportes da minha filha (o brasileiro e o americano). Do lado brasileiro, deu o que fazer para eu encontrar um lugar que fizesse as fotos no tamanho estabelecido pelo consulado brasileiro (as fotos para o passaporte americano são bem menores). Depois de telefonar para vários lugares uma amiga brasileira me recomendou um lugar. O fotógrafo era vietnamita e já sabia que em vários outros paises a foto tem que ser maior. O único problema é que como o tamanho fugia ao padrão tive que pagar $20 por quatro fotos (embora o consulado pedisse duas ele só fazia quatro). Oh, well... Do lado americano, eu tive que pagar $100 a mais para receber o passaporte em um mês. O passaporte em si já custa quase $100 (e no momento demora mais de dois meses). Nessa história toda o passaporte americano saiu quase $200 enquanto que o brasileiro custou $30 e ficará pronto dentro de uma semana. Pelo menos nesse aspecto o consulato brasileiro está supra-sumo da eficiência. Além disso não pude me esquecer da autorização de viagem assinada pelos pai senão as crianças não viajam.

Foi um outro pesadelo tentar pagar pela passagem área do Brasil aqui. O pessoal do Visa é tão eficiente que pensou que eu estava tentando sacanear a mim mesma e bloqueou a transação. Telefonamos e o cara do Visa diz que terei de tentar de manhã. Eles devem pensar que os malandros só sacaneam com o cartão tarde da noite. Ufa!

Enquanto meu marido preparava as malas, pagava as contas, etc eu aproveitei o tempo para guardar a roupa limpa e juntar as meias. É incrível como as meias desaparecem, quero dizer só uma delas desaparece. Acabei com uma pilha de meias solitárias e encardidas do meu filho que acabaram no lixo.

Finalmente, meu marido saiu às 4:00 para o aeroporto. Eu estava terminando de dobrar as últimas roupas quando senti um chacoalhão brusco. Depois mais um. Dessa vez eu senti a terra balançar debaixo dos meus pés por uns 30 segundos e uns enfeitinhos que eu tenho numa prateleira pequena no quarto começaram a cair. Já passei por muitos terremotos mas fiquei morrendo de medo como dessa vez. Fiquei com as pernas bambas com medo de outro acontecer logo em seguida (isso é bem comum) e eu sozinha com as crianças dormindo.

A minha filha acordou e tentei o máximo possível manter a calma e ela adormeceu de novo. Telefonei para o meu marido e ele me disse que a Bay Bridge (a ponte que conecta Berkeley à San Francisco) estava fechada desde a meia-noite por causa de um acidente (nada relacionado ao terremoto) e ele quase perdeu o vôo.

Esse terremoto foi 4.1 na escala Richter. O terremoto de 1989 quando uma parte da ponte desabou foi bem mais intenso. (7.1 na escala Richter) mas como eu estava sentada num banco na rua à espera do ônibus não me pareceu tão grave. Eu só fui me dar conta da seriedade da coisa quando cheguei em casa e vui ver as notícias. Os geólogos dizem que há 25% de chance dessa área ser atingida por um terremoto de 7.0 ou mais nos próximos 25 anos.

Wednesday, July 18, 2007

Radio Tarifa - Sin Palabras

Sin Palabras

Composição: Desconhecido

no te alejes de mí
no te alejes de mí
deja que yo te mire
te sienta a mi lado
ya ves
no te vayas de mí
no te vayas de mí
despierta y te veo
a mi lado feliz
ya me acuerdo
te vi asomar
tus ojos
sin palabras
la química
sonrisas, miradas y todo

vuelvo a sentir
no lo creí
vuelvo a nacer
la sal, la vida
ya me acuerdo
te vi asomar
tus ojos
sin palabras
la química
sonrisas, miradas y todo

Luto

Estou muito triste com essa tragédia que poderia ter sido evitada em São Paulo.

Minhas sinceras condolências às famílias e aos amigos das vítimas.


Estou voltando…

Tenho várias coisas interessantes para compartilhar sobre esses últimos 14 dias. Aos poucos colocarei a minha cabeça em dia. Mas vamos começar pelo começo porque por aqui está tudo um pouco nublado, inclusive o tempo que está mais para início de inverno que para verão.

Não foi a minha intenção sair de férias sem avisar. How rude of me! Muito menos tive a intenção de deixar como último post um texto num tom que para alguns tenha parecido meio patriótico ou anti-patriótico, dependendo da perspectiva d@ leitor(a). Na verdade, após ler os comentários abaixo, eu gostaria de esclarecer algumas coisas sobre o post abaixo. Primeiro, eu não deixei de ser cidadã brasileira quando me tornei cidadã estadounidense. Para mim ter mais do que uma cidadania é uma questão prática que não representa nenhum conflito de interesses. No meu mundo utópico ninguém precisaria de passaporte e teria a liberdade de trabalhar e morar em qualquer lugar. Mas como o mundo não funciona de acordo com a minha utopia, a diferença é que agora eu poderei votar e eu não me sentirei tão vulnerável com as reviravoltas políticas daqui.

Segundo, quando eu disse que me emocionei durante a cerimônia eu estava me referindo ao fato de estar cercada por tanta gente de tantos paises diferentes e não ao aspecto jurídico do processo. Foi comovente estar rodeada por pessoas que tiveram a coragem de deixar os seus paises e culturas de origem para se aventurar numa terra distante. Somehow we made it, somehow we survived. O apresentador também mencionou a determinação dessas pessoas e eu fiquei imaginando as histórias pessoais de cada um ali presente. Esse país, especialmente a área onde moro e outras grandes metrópoles, é um dos lugares mais interessantes que eu conheço graças à essas pessoas que acrescentam a sua cultura e gastronomia onde se estabelecem. Por último, eu sempre me senti mais à vontade entre estrangeiros e quanto mais diverso o grupo, melhor. É claro que é um prazer quando encontro um brasileir@ e descobrimos que temos algo em comum além do passaporte. Infelizmente não é sempre que isso acontece.

Finalmente, fiquei pensando no que leva as pessoas a sair do país onde nasceram. Existe todo o tipo de história: sonho de economizar dinheiro; conhecer outros paises/culturas; dificuldades familiares, etc. No meu caso, quando eu sai do Brasil a inflação era tão galopante que mesmo trabalhando como jornalista eu precisava abrir crediário para comprar um calça jeans da Levy’s ou um par de sapatos (isso porque eu ainda morava com os meus pais). Meu pai trabalhou feito um louco a vida toda e nunca conseguiu ter sua casa própria, apesar de ter construído várias para outras pessoas. Ele era pedreiro. Nos últimos anos antes de morrer ele trabalhou de porteiro em edíficios de classe média zelando pela segurança alheia enquanto no nosso bairro tarados ficavam à espreita nas esquinas, a casa estava infestada de cupim e o esgoto corria à céu aberto. E imagine que a nossa casa nem na favela ficava.

É difícil ser imigrante, mas eu acho que é mais doloroso ainda se sentir como cidadão de segunda classe em seu próprio país. Talvez seja por isso que algumas pessoas estejam dispostas a atravessar a fronteira com o México a pé ou a fazer o percurso entre a costa da África até a Europa em pequenos barcos.

Tem muitas coisas que eu aprecio no Brasil: a beleza da terra; o som da língua portuguesa que passei a apreciar mais depois que comecei a falar outro idioma; a música e a poesia; a generosidade e a simplicidade de algumas pessoas. Mas também tem muita coisa que eu não gosto: o machismo; a objetificação da mulher (inclusive das meninas); o classismo e o resquício da escravidão na maneira como empregadas domésticas são tratadas; o racismo não assumido, entre outras.

Não estou dizendo que aqui é um paraíso. Muito pelo contrário. Os problemas são diferentes, mas como eu não nasci e não fui criada aqui consigo manter uma certa distância emocional. A ferida arranha mas não dói tanto e ninguém está interessado se eu venho da zona norte ou da zona sul.

Bom, mas eu quero realmente dizer é que estou indo para o Brasil em agosto. Faz dois anos que não vou. Após passar dias pesquisando o preço de passagens áreas para o Brasil, decidi que vamos em agosto. Eu estou ao mesmo tempo empolgada com a viagem e ao mesmo tempo apreensiva. As notícias do acidente áereo de hoje em São Paulo e as confusões dos aeroportos também não ajudam nem um pouco.

O que acontece é que eu ando completamente sem ânimo para nada. Eu só sinto vontade de dormir. Embora eu tenha feito algumas coisas interessantes sobre as quais gostaria de escrever, ando tão quietinha no meu casulo que nem sequer ando comentando nos blogs amigos. Eu tenho horror a transições. Quando fui ao Brasil pela primeira vez depois de estar morando aqui por três anos fiquei com dor de barriga e com as pernas bambas na escada rolante to aeroporto de Cumbica em São Paulo.

Sempre mergulho por inteiro onde quer que esteja. Quando estou no Brasil, estou 100% no Brasil. Quando estou aqui estou 100% aqui. Essa minha atitude meio Zen, do tipo “o melhor lugar do mundo é aqui e agora” como já cantava o Gil, é o que me ajuda a lidar e a conviver com as distâncias, as separações, as saudades, e as transições presentes na minha vida. Mas o que eu não suporto é esse espaço entre o aqui e o lá, essa ponte suspensa sobre a terra de ninguém, esse espaço entre o que podia ser e o que há de vir.

Visitar o Brasil para mim é como embarcar numa outra dimensão. Eu adoro reconectar com a minha cidade, com a minha irmã e a minha mãe. Mas quando ainda estou aqui me preparando, tenho que encarar os meus medos, meus demônios antigos e meus fantasmas desbotados.

Alguém por aí afora também passa por essa angústia, essa apreensão quando visita o Brasil, a cidade ou o estado de origem?

Ah, as minhas neuras com o Brasil felizmente não passam pelo meu peso porque eu não dou a mínima para o que os outros pensam ou dizem nesse sentido. Gisele Bundchen, eat your heart out! I couldn’t care less and that is a good thing!



Wednesday, July 04, 2007


4 de julho

Hoje à noite eu fui ver os fogos de artíficio na marina de Berkeley em comemoração ao 4 de julho, dia da independência dos Estados Unidos. A polícia fecha a avenida que vai dar na marina e as saídas e entradas mais próximas da freeway. Cada cidade da área da baía de San Francisco organiza um show de fogos de artíficio e o céu fica coberto de fogos logo que anoitece. O show dura meia hora. Em Berkeley uma equipe profissional solta os fogos no final do pontilhão de onde se se pode ver a Golden Gate, a Bay Bridge e a cidade de San Francisco ao fundo. É muito bonito.

As pessoas estacionam longe e caminham por um viaduto que vai dar na marina. O viaduto estava lotado com gente de toda idade. Eu fui sozinha porque os meus filhos não gostam do barulho dos fogos. Caminhei pela multidão ouvindo muito espanhól, chinês e inglês entre outras línguas. Olhei ao redor e vi pessoas de diversas etnias, inclusive um menino indiano e sua família seguidores da religião Sihk, o pai com um turbante e o menino com um coquinho no alto da cabeça.

Esse é realmente um país de imigrantes. Eu me sinto muito à vontade na região onde moro porque estou sempre rodeada de outros estrangeiros. Essa diversidade humana é uma das minhas coisas favoritas sobre Berkeley e San Francisco. A universidade de Berkeley atrae profissionais do mundo inteiro. Uma vez eu estava em um playground com os meus filhos e haviam cinco línguas sendo faladas ao mesmo tempo. Mesmo em São Paulo, a minha cidade natal, que eu considero uma capital cosmopolita eu nunca vi tanta diversidade cultural e linguística.

Eu me tornei recentemente cidadã estadounidense sem desistir da minha cidadania brasileira. O requerimento para cidadania são cinco anos de green card, ou seja, cinco anos de residência permanente. Eu já estava aqui há vinte quando iniciei o processo no ano passado. Sempre tive uma resistência muito grande em aplicar para a cidadania por causa das minhas objeções ao governo desse país, especialmente o atual. Mas foi precisamente a aversão que sinto por esse governo o que me levou a aplicar para a cidadania. Finalmente poderei votar nas próximas eleições presidenciais e mal posso esperar. No mesmo dia da cerimônia eu já me registrei como votante. O voto aqui não é obrigatório como no Brasil. Eu nunca entendi a apatia política de muita gente por aqui que simplesmente não vota. É um direito que eu faço a absoluta questão de exercer.

No dia da cerimônia de juramento eu estava esperando uma overdose de patriotismo. Levantei-me cedíssimo para chegar a tempo no Masonic Auditorium, o mesmo teatro onde fui assistir Ojos de Brujo e Carlinhos Brown. No início da cerimônia houve hasteamento da bandeira e outras pompas cívicas do gênero. Foi com uma certa relutância que entreguei o meu greencard na entrada. Eu já tinha esse documento há tanto tempo que de certa forma sentia-me apegada a esse pedaço de plástico que sempre me garantiu o regresso a esse país.

Logo após a cerimônia eu já apliquei para o passaporte. Sempre gosto de ter todos os passaportes em dia, just in case. Nunca se sabe quando teremos que partir, nóia de imigrante, ou pelo menos dessa imigrante. Fiquei sabendo que teria que enviar o meu certificado de cidadania com a aplicação para o passaporte. Quando perguntei ao funcionário o que eu teria que fazer se fosse barrada em algum lugar agora que eu já não tinha mais o green card, ele disse com a maior convicção: “simplesmente diga que você agora é cidadã americana.” Eu respondi: “Tá bom que com o meu sotaque eles vão acreditar.” Bom, não fui barrada por ninguém e o danado do passaporte chegou depois de dois meses de espera.

Havia 1234 pessoas de 91 países participando da cerimônia. Foi emocionante quando alfabeticamente todos os países foram chamados. Cada vez que o nome de um país era mencionado as pessoas daquele país se levantavam até que pouco a pouco o auditório inteiro estava de pé para o juramento. O oficial da imigração então saudou a audiência em inglês, espanhól, francês, russo e tagalog, o idioma da Filipinas. Ele até se desculpou pelo seu francês macarrônico dizendo que havia apenas começado a aprender.

Por último um apresentador de uma das redes de televisão daqui fez um discurso para os novos cidadões. Esse apresentador imigrou para os Estados Unidos quando tinha apenas oito anos de idade. Ele fez um discurso comovente falando que ao adquirir a cidadania estadounidense não estávamos renunciando a nossa cidadania natal, mas sim acrescentando à mesma. E com essa combinação de heranças nós, os imigrantes, adicionávamos a nossa contribuição à riqueza cultural desse país. Eu me senti afortunada por estar na companhia de pessoas de tantos países diferentes que decidiram morar aqui. Fiquei imaginando quais foram as experiências que as trouxeram aqui e por um momento me senti completamente em casa sendo estrangeira e ao mesmo tempo cidadã.

Tuesday, July 03, 2007


Non-stop Bhangra


Nesse último sábado fui a um evento no Richshaw Stop em San Francisco. O Rickshaw fica perto do Civic Center, a prefeitura de San Francisco, e é um desses hole in the wall, como eles falam aqui. Não há nada de chamativo na entrada e se não fosse pela fila eu teria passado batido. Mas por dentro o clube até que é simpático. No andar de cima tem um bar e a área onde fica o dj.

Uma vez por mês acontece um evento chamado Non-Stop Bhangra. Bhangra é um estilo de música e dança mais ou menos como um hiphop/funk indiano originado na região de Punjabi. Eu estava doente com um gripe de verão danada da qual não estou totalmente recuperada, mas eu não podia perder essa. Há alguns meses eu levei a minha filha numa festinha de aniversário de uma menina da classe dela que é do Nepal. A festa foi num lugar que tem shows de música e dança de várias partes do mundo. Para a festa os pais contrataram uma professora que dá aula de bhangra para ensinar as crianças. A minha filha ficou encantada. E eu também.

Non-Stop Bhangra começa com uma aula com essa professora que dura uma meia hora. A aula é uma malhação incrível. No final da aula eu já estava pingando suor. Após a aula há dois djs que se alternam e o grupo de dança faz mais duas apresentações. O evento começa às 9:30 da noite e vai até as duas da manhã. Além das apresentações de dança teve gente tocando o dhol, um tambor indiano que marca o ritmo de bhangra, uma tela com cenas de bollywood e desenhos animados indianos, um pintor que estava trabalhando numa tela durante o evento inteiro e até uma moça que apareceu não sei de onde com um bambolé iluminado.

Eu combinei de me encontrar com a mãe da menina do Nepal (a mãe é americana, mas muito interessada na cultura de origem da filha) que foi com uma amiga. As duas se foram às 11:00 da noite e eu fiquei até o final. No início do evento haviam algumas pessoas da minha idade ou um pouco mais velhas. Mas quando foi ficando mais tarde só foi sobrando a meninada. Pelo menos por aqui as pessoas que já não estão na faixa dos vinte não seguram a onda até muito tarde. É uma pena, mas eu não ia deixar isso estragar a minha noite. Dancei sozinha até dizer chega. Na verdade, o lugar estava tão lotado que nem dava para perceber quem estava dançando com quem.

Num determinado momento, um rapaz começou a me passar uma cantada e a fazer as perguntas de praxe. Finalmente, ele me perguntou para onde eu ia depois do clube. Eu respondi que ia para casa com os meus filhos. Ele quase caiu e eu quase morri de rir. Ele ficou mais chocado ainda quando eu disse que estava ali sozinha.

Ah, os prazeres da idade! É tão bom não dar a mínima para o que os outros pensam e estar num clube somente para dançar e me divertir sem ter a preocupação de tentar conhecer alguém. It is liberating! Pois bem, eu disse ao jovem que para se divertir não precisa estar acompanhado, never forget that, e saí dançando na minha.

Sempre gostei de fazer coisas sozinha. É claro que é divertido sair com amigas ou com o parceiro, mas eu nunca deixei que isso me impedisse de ir a algum lugar. Um homem jamais deixaria de ir a algum lugar por não ter companhia. Por que tem de ser diferente com mulheres? O único problema foi caminhar até o carro depois porque aquela área à noite é meio barra pesada. Simplesmete dei um carreirão. Da próxima vez trarei um daqueles pepper spray.

Non-Stop Bhangra - San Francisco, 30 de Junho

Captain Bhangra Da