Wednesday, July 18, 2007


Estou voltando…

Tenho várias coisas interessantes para compartilhar sobre esses últimos 14 dias. Aos poucos colocarei a minha cabeça em dia. Mas vamos começar pelo começo porque por aqui está tudo um pouco nublado, inclusive o tempo que está mais para início de inverno que para verão.

Não foi a minha intenção sair de férias sem avisar. How rude of me! Muito menos tive a intenção de deixar como último post um texto num tom que para alguns tenha parecido meio patriótico ou anti-patriótico, dependendo da perspectiva d@ leitor(a). Na verdade, após ler os comentários abaixo, eu gostaria de esclarecer algumas coisas sobre o post abaixo. Primeiro, eu não deixei de ser cidadã brasileira quando me tornei cidadã estadounidense. Para mim ter mais do que uma cidadania é uma questão prática que não representa nenhum conflito de interesses. No meu mundo utópico ninguém precisaria de passaporte e teria a liberdade de trabalhar e morar em qualquer lugar. Mas como o mundo não funciona de acordo com a minha utopia, a diferença é que agora eu poderei votar e eu não me sentirei tão vulnerável com as reviravoltas políticas daqui.

Segundo, quando eu disse que me emocionei durante a cerimônia eu estava me referindo ao fato de estar cercada por tanta gente de tantos paises diferentes e não ao aspecto jurídico do processo. Foi comovente estar rodeada por pessoas que tiveram a coragem de deixar os seus paises e culturas de origem para se aventurar numa terra distante. Somehow we made it, somehow we survived. O apresentador também mencionou a determinação dessas pessoas e eu fiquei imaginando as histórias pessoais de cada um ali presente. Esse país, especialmente a área onde moro e outras grandes metrópoles, é um dos lugares mais interessantes que eu conheço graças à essas pessoas que acrescentam a sua cultura e gastronomia onde se estabelecem. Por último, eu sempre me senti mais à vontade entre estrangeiros e quanto mais diverso o grupo, melhor. É claro que é um prazer quando encontro um brasileir@ e descobrimos que temos algo em comum além do passaporte. Infelizmente não é sempre que isso acontece.

Finalmente, fiquei pensando no que leva as pessoas a sair do país onde nasceram. Existe todo o tipo de história: sonho de economizar dinheiro; conhecer outros paises/culturas; dificuldades familiares, etc. No meu caso, quando eu sai do Brasil a inflação era tão galopante que mesmo trabalhando como jornalista eu precisava abrir crediário para comprar um calça jeans da Levy’s ou um par de sapatos (isso porque eu ainda morava com os meus pais). Meu pai trabalhou feito um louco a vida toda e nunca conseguiu ter sua casa própria, apesar de ter construído várias para outras pessoas. Ele era pedreiro. Nos últimos anos antes de morrer ele trabalhou de porteiro em edíficios de classe média zelando pela segurança alheia enquanto no nosso bairro tarados ficavam à espreita nas esquinas, a casa estava infestada de cupim e o esgoto corria à céu aberto. E imagine que a nossa casa nem na favela ficava.

É difícil ser imigrante, mas eu acho que é mais doloroso ainda se sentir como cidadão de segunda classe em seu próprio país. Talvez seja por isso que algumas pessoas estejam dispostas a atravessar a fronteira com o México a pé ou a fazer o percurso entre a costa da África até a Europa em pequenos barcos.

Tem muitas coisas que eu aprecio no Brasil: a beleza da terra; o som da língua portuguesa que passei a apreciar mais depois que comecei a falar outro idioma; a música e a poesia; a generosidade e a simplicidade de algumas pessoas. Mas também tem muita coisa que eu não gosto: o machismo; a objetificação da mulher (inclusive das meninas); o classismo e o resquício da escravidão na maneira como empregadas domésticas são tratadas; o racismo não assumido, entre outras.

Não estou dizendo que aqui é um paraíso. Muito pelo contrário. Os problemas são diferentes, mas como eu não nasci e não fui criada aqui consigo manter uma certa distância emocional. A ferida arranha mas não dói tanto e ninguém está interessado se eu venho da zona norte ou da zona sul.

Bom, mas eu quero realmente dizer é que estou indo para o Brasil em agosto. Faz dois anos que não vou. Após passar dias pesquisando o preço de passagens áreas para o Brasil, decidi que vamos em agosto. Eu estou ao mesmo tempo empolgada com a viagem e ao mesmo tempo apreensiva. As notícias do acidente áereo de hoje em São Paulo e as confusões dos aeroportos também não ajudam nem um pouco.

O que acontece é que eu ando completamente sem ânimo para nada. Eu só sinto vontade de dormir. Embora eu tenha feito algumas coisas interessantes sobre as quais gostaria de escrever, ando tão quietinha no meu casulo que nem sequer ando comentando nos blogs amigos. Eu tenho horror a transições. Quando fui ao Brasil pela primeira vez depois de estar morando aqui por três anos fiquei com dor de barriga e com as pernas bambas na escada rolante to aeroporto de Cumbica em São Paulo.

Sempre mergulho por inteiro onde quer que esteja. Quando estou no Brasil, estou 100% no Brasil. Quando estou aqui estou 100% aqui. Essa minha atitude meio Zen, do tipo “o melhor lugar do mundo é aqui e agora” como já cantava o Gil, é o que me ajuda a lidar e a conviver com as distâncias, as separações, as saudades, e as transições presentes na minha vida. Mas o que eu não suporto é esse espaço entre o aqui e o lá, essa ponte suspensa sobre a terra de ninguém, esse espaço entre o que podia ser e o que há de vir.

Visitar o Brasil para mim é como embarcar numa outra dimensão. Eu adoro reconectar com a minha cidade, com a minha irmã e a minha mãe. Mas quando ainda estou aqui me preparando, tenho que encarar os meus medos, meus demônios antigos e meus fantasmas desbotados.

Alguém por aí afora também passa por essa angústia, essa apreensão quando visita o Brasil, a cidade ou o estado de origem?

Ah, as minhas neuras com o Brasil felizmente não passam pelo meu peso porque eu não dou a mínima para o que os outros pensam ou dizem nesse sentido. Gisele Bundchen, eat your heart out! I couldn’t care less and that is a good thing!



15 Comments:

Blogger Andréa said...

Nao precisava se explicar, Regina. Acho eu. Muito gentil da sua parte fazer isso. Bem-vinda de volta das ferias! Eu tenho pensado muito se devo ou nao pegar a minha cidadania. Posso fazer isso desde o ano passado, mas ainda nao fiz por causa das tais utopias. Soh tenho um motivo pra querer faze-lo, o poder de votar, como vc mesmo disse.
Quando vou ao Brasil tambem fico na neura. E quando estou aqui morro de saudade. Acho que nunca mais vou deixar de ser assim, e isso eh um saco.
Beijos.

9:16 AM  
Blogger Andréa said...

Esqueci de dizer: tenha uma excelente e tranquila viagem pro Brasil e aproveite bastante. Espero que a neura passe, ou acalme, e que vc se divirta muito, que eh pra isso que a gente viaja nessa vida (mesmo quando vamos a trabalho). Beijo.

9:18 AM  
Blogger Regina said...

Andrea,

O preco da aplicacao vai praticamente duplicar no final de julho (de $400 para mais de $700). Aplique sim. Voce nao tem nada a perder e podera votar. Precisamos de mais pessoas como voce votando nesse pais.

Que tipo de neura voce sente quando vai ao Brasil? Vc tb pode falar sobre isso comigo via e-mail (reginacamargo1@gmail.com) se preferir.

Beijos,

REgina

10:31 AM  
Blogger Regina said...

Andrea,

Obrigada, voce como sempre e' super gentil. A neura so' melhora quando eu ja estou la' curtindo a minha irma e a minha mae (exceto pelo medo de assalto, bala perdida e outras coisinhas, hehehe).

bjs.

Regina

10:33 AM  
Anonymous Anonymous said...

Regina querida,

Primeiramente eu queria agradecer a tua gentileza e consideração para com os teus leitores aqui do blog. Eu, como assídua leitora e comentadora, me sinto sempre agraciada quando você compartilha as tuas experiências e idéias.

Outra coisa que eu queria dizer é que, no teu lugar, eu faria exatamente o mesmo e pelos mesmos motivos. Afinal, você não tem nenhum interesse em voltar ao Brasil, tem uma família estabelecida nos E.U.A., num lugar excelente (isso faria toda a diferença para mim) e os teus filhos nasceram aí. Eu acho que a questão de se sentir 'cidadã', i.e., estar num país que te dê condições para exercer a tua cidadania, são fatos indisputáveis.

Eu entendi agora o porquê de você ter se sentido emocionada. Não é uma questão de 'nacionalismo' (o que a gente tem discutido nos meus e nos teus posts), mas sim uma questão de solidariedade com pessoas que passaram por situações semelhantes à tua. It takes courage and guts to leave your country.

Quanto à tua vinda ao Brasil, deixe-me dizer que sou absolutamente neurótica com viagens e também sofro muito por antecipação. Fico nervosíssima antes de viajar. Só para te dar uma idéia, uma vez que eu fui para a Inglaterra, deixei uma carta para a Maria Luiza me despedindo!! Mudanças me desestabilizam também. Por outro lado, paradoxalmente, sempre adoro as minhas viagens, principalmente aquelas que acho que vou detestar!!

Você vem para Curitiba? Gostaria tanto de recebê-la aqui. Seria um prazer imenso. A Maria Luiza viaja no dia 10 de agosto... e eu já começo a ficar nervosa. É a primeira vez que ela viaja sózinha para ficar tanto tempo longe de casa...e ela tem apenas 17 anos. Vou morrer de saudades, pois além de queridíssima ela sempre foi minha grande amiga e companheira.

beijos e fique bem.

TUDO VAI DAR CERTO.

Cris

11:07 AM  
Anonymous Anonymous said...

Mesmo quando eu estou super a fim de ir em qualquer viagem, sempre me dá um mau humor na véspera, uma ansiedade, sentimentos ruins, falta de vontade de entrar no avião, etc. Depois que eu aterriso no lugar, fico super feliz e essa sensação ruim passa.

3:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

Morar fora não deve ser facil, afinal a pessoa fica longe da familia, amigos, etc. Morar aqui tbem não é facil, afinal esse pais está um caos. O q fazer?!?
Beijos

6:07 PM  
Blogger Simone said...

Ainda estou fora do Brasil há pouco tempo, e ainda me sinto lá e aqui. Mas, concordo plenamente c vc em se colocar por completa onde está... Espero aprender isso c o tempo...

10:00 AM  
Blogger Regina said...

Cris,

Realmente temos em comum as neuras pre-viagem. Imagino so como voce deve estar com a viagem da Maria Luiza.

Achei interessante o que voce escreveu sobre nacionalismo. Quero escrever mais a respeito, assim que eu organizar melhor a minha cabeca.

Bj.

Regina

1:30 AM  
Blogger Regina said...

Leila,

E' exatamente isso. As vezes eu fico tao mal humorada que ate me arrependendo de ter comprado as passagens.

Bjs.

Regina

1:31 AM  
Blogger Regina said...

Ursula,

Nao existe lugar ou situacao perfeito. A gente sempre tem que fazer o melhor que pode com o que tem.

Aqui existe um proverbio que diz: "the grass is always greener on the other side" (a grama e' sempre mais verde do outro lado). E' isso ai...

Bj

Regina

1:32 AM  
Blogger Regina said...

Simone,

Eu entendo bem a sua situacao. E' dificil especialmente no comeco. E' normal e e' o preco que pagamos quando decidimos morar no exterior. Mas eu estava me referindo a outra coisa: eu conheco pessoas que nunca conseguem se decidir se querem morar aqui ou la. Isso para mim e' o pior. E' muito doloroso ver pessoas nessa situacao porque por causa da indecisao elas nao conseguem ser felizes em nenhum dos dois lugares.

Eu conheco gente que ja "voltou de vez" para o Brasil varias vezes e sempre acabam voltando para ca e quando chegam aqui continuam idealizando a vida no Brasil.

Bj

Regina

1:37 AM  
Blogger oakleyses said...

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7:23 PM  

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