Thursday, November 29, 2007

Que tamanha solidão!

Há mais ou menos um mês um amigo meu perdeu o trabalho. Esse amigo mora longe, portanto nós nos comunicamos somente via e-mail. Por um tempo estávamos nos comunicando com frequência. Mas depois que ele perdeu o emprego, ele simplesmente desapareceu do mapa. Acho que ele está deprimido. No seu último e-mail ele escreveu que estará “mais presente” quando tiver algo para oferecer, como se o carinho que eu sinto por ele dependesse de alguma “performance” da sua parte. Existe algo triste em alguém que pensa que só pode mostrar o seu lado heróico.

Isso me fez pensar que muitos homens ainda sentem a necessidade de guardar a sua dor e compartilhar somente quando se sentem vitoriosos. Eu acho que mágoa guardada pode um dia virar ataque do coração. Uma pena!

O Zeca geralmente tem uns insights muito bons a respeito da pressão que muitos homens sentem. Uma vez eu escrevi um post sobre o quanto aprecio homens que não têm medo do seu lado feminino. O Zeca escreveu um comentário lindo dizendo que uma vez um amigo ficou zangado com ele quando ele disse que estava com saudades. Como se saudade fosse um sentimento reservado somente às mulheres.

Quando eu escrevi um outro post sobre o primeiro dia do meu filho numa escola enorme, o Zeca escreveu sobre o conflito interno vivido por alguns meninos entre fazer a coisa certa ou bancar o valentão.

Eu aprecio muito a opinião de homens como o Zeca. Precisamos de mais homens que se recusam a vestir a camisa de força que às vezes a sociedade tenta lhes impor.

Eu escrevi o “poeminha” abaixo faz um tempão. Curiosamente, o que me inspirou foi uma foto que vi em uma revista. Não consegui encontrá-la, mas a foto acima é bem parecida com a original.

Strange is the solidarity

Among men

They share the laughter

But leave no room for tears

What a lonely place to be! (1989)


A solidariedade entre os homens é estranha.

Eles compartilham as risadas

Mas não deixam espaço para as lágrimas.

Que tamanha solidão! (1989)

Foto: Google images, of course.




Friday, November 23, 2007

Dzihan&Kamien-Ocean Air


Vou dançar para ver se recupero o meu astral.

Bom fim de semana para tod@s.

Dzihan&Kamien-Ocean Air

Thursday, November 22, 2007


Gracías a la vida, que me ha dado tanto...

Eu tenho muito a agradecer nesse Thanksgiving: meus filhos, minha família, meus amig@s reais e virtuais, todas as oportunidades que a vida já me ofereceu, o fato de vivermos em paz, ter comida na mesa, um teto sobre a minha cabeça e muito mais.

Hoje estou especialmente agradecida pela minha saúde. Passei uma semana de cama com a minha filha. Foi uma gripe tão forte que me fez dormir dia e noite. Fazia tempo que eu não me sentia tão doente assim. Finalmente estou voltando ao normal, embora ainda me sinta um pouco enjoada e fraca.

Por isso o meu jantar de Thanksgiving foi super simples: pure de batatas, vagem refogada, um franguinho assado (comprado pronto) e stuffing (pão torrado cortado em pedaços pequenos e refogado com manteiga e ervas). Para a sobremesa torta de maçã e sorvete de baunilha. Eu também comprei uma mini torta de abóbora só para não deixar passar em branco.

Inicialmente eu ia fazer o Tofurky (dica da Andrea). Encontrei a caixinha na área de congelados do mercado hoje de manhã. Só que eu não me dei conta que é preciso deixar o “bicho” na geladeira por 24 horas primeiro antes de assar. Eu também não tinha reparado que leva três horas para assar! Bom, acho que vamos comer Tofurky no final de semana!

PS: Sobre o post abaixo: na manhã seguinte após o incidente com o meu filho na escola eu escrevi um bilhete para um dos professores dele. Eu fiquei impressionada com a rapidez da escola em lidar com esse assunto. O professor me telefonou às 10:00 da manhã e uma hora mais tarde uma pessoa que só lida com conflict resolution (mediação de conflitos) ligou para me informar que as meninas iriam ter consequências por suas ações e que a escola não tinha a mínima tolerância com esse tipo de comportamento. Ela fez uma reunião entre as três meninas e o meu filho. Ele teve a oportunidade de dizer como ele se sentiu com o que elas fizeram e elas pediram desculpas. Foi um alívio para mim (e para ele também, obviamente).

Fotos: Whole Foods Supermarket e Lake Merrit, Oakland, ao entardecer.


Thursday, November 15, 2007


Como (às vezes) a humanidade é feia

Estamos com a primeira gripe forte do ano. Os três: as crianças e eu. Com direito à febre, dor de cabeça e nariz que não para de escorrer. Essa semana foi a maior enrolada. Segunda foi feriado. Terça tive que levar as crianças no médico porque o meu filho estava com um resfriado que já durava quatro dias. Na quarta fui trabalhar, mas me telefonaram para buscar a minha filha na escola porque ela não estava passando bem. Hoje ficamos de molho, ela e eu.

Para completar o meu filho chegou da escola meio caladão. Ele começou a preparar um cereal e derramou o leite sobre a mesa. Quando eu lhe disse que prestasse mais atenção, ele explodiu comigo. Achei estranho tanta agressão por causa de uma tijela de cereal e perguntei que diabos tinha acontecido para tamanho mau humor. Finalmente, ele confessou que três meninas o haviam atacado enquanto ele estava tentando pegar suas coisas no locker (aqueles armários nos corredores de escolas americanas que a gente vê em filmes). Elas começaram a rir e a puxar o cabelo dele.

É claro que a minha primeira reação é querer dar uns sopapos nessas fedelhas. Mas isso só pioraria as coisas. Amanhã vou ver o que devo fazer primeiro: falar com o professor, com o diretor ou com a counselor (a terapeuta escolar).

É incrível como não há limites para a ignorância e a crueldade humana. Hoje mesmo eu li um artigo no New York Times sobre o alto número de crianças maltratadas e abandonadas em Angola, no Congo e na República do Congo por serem acusadas de bruxaria. Acontece geralmente quando alguém morre na família. A família então acusa uma das crianças de ter causado a morte e o abuso começa. Muitas dessas crianças acabam indo viver nas ruas. Além das crenças dessas culturas, a pobreza é um outro motivo que leva as familías a cometerem tal atrocidade. Nessas culturas abandonar uma criança por ela ser acusada de bruxaria é aceitável, enquanto que por falta de recursos não é.


Encontrei nesse blog aqui uma tradução meio capenga (his words) do artigo para as pessoas que preferirem lê-lo em português.


Wednesday, November 14, 2007


Rain keeps falling on my head

Muitas pessoas se sentem mais otimistas na sua juventude quando a vida se apresenta cheia de possibilidades e ainda não temos consciência – ou pelo menos ainda não contemplamos – a nossa própria mortalidade.

Pois comigo aconteceu o oposto. Eu passei por momentos de tristeza profunda quando era mais jovem, sem muita esperança que as coisas pudessem um dia mudar. No meu olhar, o copo estava sempre meio vazio, nunca meio cheio.

Mas com o tempo a vida me surpreendeu com coisas boas que foram aos poucos curando feridas antigas e restaurando a minha fé nessa jornada. Hoje em dia, eu faço um esforço deliberado em transferir o meu foco de atenção para coisas que me trazem contentamento, especialmente quando estou me sentindo triste ou deprimida. Uma caminhada geralmente ajuda.

Eu já perdi muitas pessoas na minha vida. Algumas delas ainda jovens e de maneira inesperada. Aprendi que não há muito tempo a perder reclamando ou guardando rancor. A vida passa muito rápido. O meu único medo é não ter tempo suficiente para as coisas que ainda quero fazer.

Sábado choveu o dia inteiro por aqui. Os dias cinzentos e chuvosos típicos do hemisfério norte (nem mesmo a Califórnia está imune todo o tempo) geralmente me deixam blues. Daí eu me lembrei de uma musiquinha que eu adorava quando era criança. A Van escreveu um post sobre o seu lado brega que me inspirou. Eu me lembrei de Burt Bacharach, um brega americano, bem água com açúcar, mas que me lembra de uma certa inocência que encontro entre algumas pessoas nessa cultura.

Burt Bacharach foi a minha introdução à cultura americana. Eu tinha mais ou menos uns 7 anos quando ouvi Raindrops keeps falling on my head pela primeira vez. É claro que eu não entendi nada. Ainda assim, comecei a saltidar no quintal cantarolando a música num inglês inventado. Burt Bacharach me fez sonhar com casas com lareira e quintais sem cerca onde a grama é verdinha e com bairros onde crianças andam de bicicleta e as calçadas são limpas.

É claro que não é bem assim, mas eu ainda me emociono quando ouço What the world needs now. It is so true!

Raindrops Keep Falling on My Head


Raindrops keep falling on my head
And just like the guy whose feet are too big for
his bed,
Nothing seems to fit, those Raindrops are fallin'
on my head they keep fallin'
So I just did me some talkin' to the sun,and
I said I didn't like the way he got things done
Sleepin' on the job, those raindrops are fallin'
on my head they keep fallin'
But there's one thing I know,
the blues they send to meet me, won't defeat me
It won't be long till happiness steps up to greet
me
Raindrops keep fallin' on my head,but that doesn't
mean my eyes will soon be turnin' red,
Cryin's not for me, cause I'm never gonna stop the
rain by complainin because
I'm free,nothings worryin' me
It won't be long till happiness steps up to greet
me

Foto: 4th Street, Berkeley


Tuesday, November 13, 2007

Flor

Acabo de descobrir e não consigo parar de ouvir...

Sunday, November 04, 2007

Dia de los Muertos

No último domingo fui à Fruitvale, o bairro latino de Oakland. É incrível como o bairro me lembra o Brasil com sorveteiros de rua e barraquinhas vendendo abacaxi em pedaços e cachorro quente.

Fui com a intenção de fotografar o Dia de los Muertos com fiz no ano passado. Mas fiquei super desapontada ao descobrir que nesse ano o festival foi na semana anterior. Decidi então dar uma volta no bairro e depois ir ao Museu de Oakland, onde está tendo uma exposição de instalações comemorando o Dia de los Muertos.

Vi altares super interessantes. Uma instalação que me comoveu era feita com linhas que estavam conectadas ao teto. Nas linhas estavam costuradas palhas com os nomes de pessoas que morreram tentando atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos. No centro havia um grupo de fotos dessas pessoas. Várias pessoas morrem todos os anos durante essa travessia. Algumas vítimas de acidentes de carro, outras se perdem no deserto onde acabam morrendo de fome e exaustão.

Outra instalação que me chamou a atenção foi feita em homenagem à uma artista de origem japonesa e latina na qual o esqueleto traditicional do Dia de los Muertos estava vestido com um kimono honrando as duas culturas. Havia também uma penteadeira com artigos de beleza e uma foto dela.

De lá fui dar um passeio na Chapel of Chimes onde também estava tendo uma exposição de nichos sobre o Dia de los Muertos. Os nichos são feitos usando caixas que são decoradas com objetos simbolizando coisas que eram importantes para a pessoa que morreu. Fiquei empolgada fotografando e quando me dei contra percebi que estava quase entrando em uma sala onde um velório estava acontecendo. Só que naquele momento não havia ninguém ali. Só eu olhando da porta e o morto no caixão.

Para completar o meu domingo fazendo as pazes com a morte fui dar uma volta no cemitério que fica ao lado. O lugar estava lindo com as árvores mudando de cor. É um cemitério cheio de vida onde pessoas vão passear com o cachorro ou com os filhos, outros aproveitam para correr e os mais aventureiros até piquenique ali fazem.



Saturday, November 03, 2007

Casamento, California style

O meu sábado foi cheio de música, cores e vinhos. Primeiro fui a um concerto em uma capela. Na verdade só pude ficar por uma hora. Era um festival de flauta, mas na verdade não se limitava à flauta. Foi um show super íntimo e bonito. Kai foi um dos convidados especiais.

Mas logo depois da apresentação dele tivemos que sair correndo para um casamento na área de Napa Valley que fica por volta de uma hora e meia daqui. A correria foi tanta que eu me senti como o cara do filme “Quatro casamentos e um funeral”, quando ele se levanta de manhã e se dá conta de que está atrasado para um casamento e sai correndo de casa. Pois bem, saímos da capela voando com o Kai ajeitando a gravata no carro.

O trânsito estava ruím e quando deu ele pisou no acelerador como se estivessemos na autobahn (as estradas na Alemanha não tem limite de velocidade). Felizmente não fomos pegos.

Chegamos no lugar e a cerimônia já havia começado. A moça que estava se casando era a empresária de uma das bandas com quem o Kai toca. Saltamos do carro e ele se deu conta que a camisa estava para fora da calça e teve de voltar ao estacionamento para ajeitá-la. Eu tinha levado um sapato prateado para usar na festa, mas esqueci dentro do carro. Tive que esperar a cerimônia acabar para correr atá o carro e mudar de sapato. O prateado ficou bonito, mas nada prático. Toda vez que eu tinha que caminhar na grama o salto se enterrava no barro. Acabei andando na ponta dos pés.

A comida estava divina, bem californiana: peixe, risoto de champignon, salada e legumes grelhados. O casamento foi meio tradicional mas de uma maneira bem anti-convencional. Os votos foram os noivos mesmos que escreveram e num determinado momento quatro pessoas chegaram dançando em pernas de pau. Eram três moças vestidas de homem e um rapaz vestido de noiva.

O meu casamento também foi bem anti-convencional. Para se ter uma idéia, nem minha família nem a família do Kai pode estar presente: a minha no Brasil, a dele na Europa. A mãe do meu ex-namorado viajou até a Califórnia para o meu casamento. Na verdade, ela me surpreendeu pois embora tivesse mandado um convite eu não esperava que ela fosse vir porque ela mora em outro estado. Foi ela que acabou fazendo o brinde representando as duas mães, a minha e a do Kai, que não puderam estar presentes.

A única coisa que foi um pouco desagradável nesse casamento de hoje foi a exclusão de crianças. Esse já é o terceiro casamento que eu vou aqui onde não se pode levar criança. Eu acho um absurdo excluir criança em um evento tão familiar como um casamento. Os meus filhos ficaram com o padrinho, mas muitas pessoas haviam vindo de Chicago, Washington D.C. e outras partes do país. Essas pessoas tiveram que pagar $75 para uma babá perto da festa.

Na minha opinião, a presença de crianças em casamentos abençoa a união, mesmo que o casal decida não ter filhos. Casamentos são ritos de passagem que celebram amor e família e como tal devem incluir várias gerações.

Enfim, o lugar era lindo como uma vila italiana e as cores do outono tornaram a tarde ainda mais especial.