Thursday, August 02, 2007

Quinceañera

Na cidadezinha do sul de Minas de onde vem a minha mãe é comum que as meninas adolescentes participem de bailes de debutantes no clube da cidade. Em São Paulo eu nunca conheci nenhuma menina que tivesse participado desse ritual. Aos quinze anos a minha fantasia era ser fotograda usando jeans com um estilingue no bolso traseiro e um boné de trás para frente. Na época eu estava passando por uma fase de não gostar de qualquer coisa que fosse girly. Como não tinha dinheiro para a foto, eu tive que me contentar em ir para a escola no primeiro dia do colegial usando uma calça de veludo cotelê amarela quase rasgando, um lencinho de bolinhas no pescoço e um batom marron escuro. Tudo isso num ônibus lotado às 7:30 da manhã.

O que me fez pensar sobre o baile de debutantes foi um filme que eu assiti há alguns dias: Quinceañera. Quinceañera é uma festa tradicional celebrada na comunidade latina, especialmente a mexicana, para marcar o aniversário de quinze anos das meninas. A festa é um grande evento na comunidade com banda ao vivo, danças tradicionais, vestidos elaborados e missa na igreja. Escrito e dirigido por Richard Glatzer e Wash Westmoreland, dois homens brancos que nem falam espanhól, o filme foi premiado no Festival de Cinema de Sundance.

Echo Park, o bairro latino de Los Angeles que está passando por um processo de gentrificação, serve como palco para estória da uma grande família latina e seus conflitos em torno de tradição, sexualidade, raça e classe social.

Madalena (Emily Rios), filha de mexicanos, está as vésperas de celebrar sua “quinceañera” quando descobre que está grávida. Seu pai é pastor de um a igreja local e a rejeita. Ela então vai morar com um tio idoso que é mais tolerante que já está abrigando um primo rebelde (Carlos). O tio mora na casa dos fundos em uma propriedade que foi recentemente comprada por um casal gay afluente, com quem Carlos começa um caso.

Segundo Emily Rios, os diretores abordaram o tema de maneira respeitosa e mostraram a cultura e as tradições mexicanas de maneira muito realista. Leia mais aqui.

Você pode assistir o filme no youtube dividido em vários segmentos.

Quinceañera - trailer


12 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Vc acredita que a minha mãe me fez participar de um baile de debutantes? E olha que eu já tinha 17 anos... Pois é, na época morávamos em uma cidade do interior de Minas e a cidade estava organizando o Baile Oficial de Debutantes para as meninas da "nata" da sociedade local. Nós não éramos nata de nada mas de alguma forma minha mãe foi convidada e me perguntou se eu queria debutar. Eu, naively, pensei que realmente a decisão era minha e que ela queria saber o que eu queria. Eu agradeci mas disse que não, que não era a minha. Pensa bem Regina, eu era headbanger naquela época, só usava jeans velho rasgado e camisetas branca/preta/cinza, de preferencia de alguma banda de heavy metal desconhecida.

Minha mãe chorou dois dias inteiros. Eu só escutava coisas do tipo "o que eu fiz pra merecer isso??" "minha única filha!!!" e ppor aí vai... logo percebi que se não participasse, ela NUNCA ia me deixar esquecer o desgosto que eu dei pra ela. Minha mãe é assim mesmo, ela NUNCA esquece nada.

No final tive que participar. Foi a pior festa da minha vida. As meninas que participaram eram todas ultra patricinhas, achando que era o dia mais lindo de suas vidas, algumas já tinham debutado não sei quantas vezes, um horror...

Meu irmão mais velho estava cursando a academia militar na época e foi responsabilizado de recrutar 20 cadetes para irem dançar com as meninas no baile. Vc precisava ver o desespero das meninas quando os cadetes chegaram. Queriam escolher, enfileraram os meninos e começaram "eu quero esse!". Um horror! Eu imediatamente olhei pro melhor amigo do meu irmão e disse "vc dança comigo". Ele, muito assustado, concordou imediatamente. Ele era negro e eu sabia que aquelas meninas de alta sociedade iam discrimina-lo. Pois bem, não é que durante o baile, a menina que estava dançando com o meu irmão vira pra ele e diz "coitada da sua irmã, eu não sei se eu dançaria com um negro". Ah... a coisa errada pra dizer pra pessoa errada... Meu irmão passou a valsa inteira falando pra menina no ouvido dela o quanto ela era ignorante, etc. Assim que terminou a valsa, ele foi direto pro banheiro e trocou sua farda por uma camiseta velha e amassada e uma calça de moleton só para não ter que tirar foto com a menina pro album dela.

Foi uma noite muito surreal...

5:54 AM  
Anonymous Anonymous said...

Regina,
Adoraria ver o filme por dois motivos. O primeiro é pessoal e o segundo é profissional: estou acabando de preparar as minhas aulas para a disciplina "Linguagens da Alteridade" que vou dar no mestrado este semestre. É interessante sugerir romances, contos, imagens, filmes, etc. como objeto de análise para os alunos. Pelo que você resumiu do filme ele se encaixaria bem na minha proposta. Pena que demora um tempão p/ chegar aqui... Mas o Bill vai logo para a CA e compra p/ mim.

A Maria Luiza participou de várias festas de 15 anos e adorou!! Aqui ainda é tradicional para famílias de classe média. Ela nunca teve nada parecido (nem festa de 15 anos, nem baile de debutante), mas se tivesse tido a opção, tenho certeza que ela teria participado! Ela é uma menina alegre, gosta de festas e pessoas. E nunca foi nenhuma patricinha. Eu, da maneira que posso, não incentivo nenhum tipo de radicalismo p/ as meninas. Sempre levamos papos "críticos", ou seja, tento levantar questões 'sociais' dentro das coisinhas que elas fazem. No entanto, tenho MUITO cuidado para não julgar práticas sociais e cair em fundamenlismos. E uma festa pode ser algo muito divertido se você as partilha alegramente e sem preconceitos com amigas e amigos.
beijocas,
Cris

10:22 AM  
Anonymous Anonymous said...

Lembrei do filme "Real girls have curves". É ótimo, você assistiu?

Ah, e só p/ complementar, a Ma. Luiza joga futebol, faz Street Dance, usa jeans e camiseta e odeia fru-frus!

beijos

10:31 AM  
Blogger Simone said...

Eu tô louca p ver esse filme!!!

11:40 AM  
Blogger Regina said...

Alexandra,

Incrivel a sua historia! Obrigada por compartilhar. O clube na cidadezinha de onde vem a minha mae nao admitia negros ou empregadas domesticas. E' realmente lamentavel. Espero que isso tenha mudado.

Em que cidade voce morava?

Beijos,

Regina

8:16 PM  
Blogger Regina said...

Cris,

O filme e' muito bom. Voce pode assisti-lo por partes no youtube no link que eu coloquei. Alguem baixou o filme inteiro e o dividiu em partes (pelo menos ate o Bill vir a California). Se eu encontrar o filme por um preco bom por aqui tb posso compra-lo para vc.

Eu acho legal a ideia de celebrar o ritual de passagem, mas acho que as vezes as familias exageram. E se isso acontece numa comunidade pequena onde nem todas as pessoas tem condicoes de bancar esse tipo de festa voce imagina a pressao nas familias e nas meninas que se sentem de fora (o filme tambem lida com isso e a questao de classe).

Eu sei que e' meio preconceituoso de minha parte, mas eu imagino que meninas que fazem questao desse tipo de coisa tendem a ser bem patricinha. Na MTV daqui tem ate um show chamado Sweet Sixteen sobre as festas super extravagantes que algumas familias oferecem as filhas. Para te dar uma ideia, uma vez tive um namoradinho aqui cuja irma ia participar de um desses bailes de debutantes. So o vestido dela ia custar $5 mil. Isso ha quase 20 anos!

Para ser honesta, se eu fosse gastar esse tipo de dinheiro eu preferiria oferecer uma viagem para a minha filha ou simplesmente guardar para a universidade. Mas tudo isso e' uma questao de valores, I guess...

A Maria Luiza e' uma gracinha de pessoa e nao e' de forma alguma uma patricinha mimada. Eu acho que se for sem exageros pode ser uma forma legal de comemorar uma data importante entre os amigos.

Beijos,

REgina

8:26 PM  
Blogger Regina said...

Cris,

Eu assisti sim, Real Women Have Curves e dentro de um tempinho vou mostra-lo a minha filha. Ela adora esse tipo de filme. E' muito bom.

Eu nao tenho nada contra as meninas mais femininas, embora ache super legal as que gostam de futebol e street dance como a Maria Luiza.

Acho bom poder ter a escolha e variar. Afinal, uma das melhores coisas do feminismo e' o fato de que agora nos, mulheres, temos mais escolhas, nao e' mesmo?

Beijos,

Regina

8:30 PM  
Blogger Regina said...

Simone,

Ja saiu em DVD. E' bom. Eu recomendo.

Bjs.

Regina

8:30 PM  
Anonymous Anonymous said...

Regina,
Você tem razão: em muitas culturas (como a mexicana do filme)a passagem da menina para os quinze anos é um ritual que muitas famílias gostam de celebrar. A Maria Luiza diz que as festas eram ótimas, as primeiras vezes que ela pôde chegar em casa de madrugada, dançar com as amigas e comer boas comidinhas. P/ vc ter uma idéia, ela tinha festa quase todo fim de semana (uma chatice p/ a gente que tinha que buscá-la). Nós compramos um vestido azul p/ ela (ficava linda) e ela usou o tal do vestido certamente mais do que 10 vezes.

Espero que você não tenha ficado chateada com o que eu falei, Regina. Eu não tive a intenção de contrariar, apenas de apontar algo que aconteceu na minha experiência como mãe. Eu nunca pensei que a Maria Luiza fosse curtir essas festas porque eu mesma era avessa à essas coisas quando tinha a idade dela. Mas ela é uma menina doce e nunca teve (e espero que não mude!) o espírito rebelde que eu tive/tenho.

Nós temos esse programa, o Sweet 16 aqui. Uma barbaridade. Elas são produtos dos pais e do mundo irreal que eles proporcionam p/ elas. Aqui em casa é ralação; não há espaço p/ moleza e/ou frescura. :-) / :-(

beijocas

12:12 PM  
Blogger Regina said...

Cris,

Eu nao fiquei chateada de forma alguma. E mesmo que voce tivesse me contrario, isso nao seria um problema. E' otimo discordar as vezes. Isso alimenta o debate, o dialogo e a troca de ideias.

Nao ha nada de errado em gostar dessas festas. A Naima e' toda forte e feminista, mas adora roupa e fazer compras. Eu ja estou ate imaginando como vai ser quando ela crescer.:-)

Bjs

Regina

11:20 PM  
Blogger oakleyses said...

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7:11 PM  
Blogger oakleyses said...

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7:32 PM  

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