Tuesday, February 20, 2007


Carnaval

No Brasil eu nunca participei muito de folia carnavalesca. Quando era menina, eu detestava quando a molecada espirrava água com aqueles espirradores de plásticos alaranjados ou verdes. Eu ainda me lembro que às vezes eles colocavam água suja e espirravam até nos ônibus. Minha mãe fica nervosa com a agitação nas ruas.

Nunca gostei de carnaval de salão. Não gostava das marchinhas e do fato que os homens pareciam usar o carnaval como uma desculpa para passar a mão nas meninas. Na quarta-feira de cinzas, a banca de jornais mostrava as fotos sensacionalistas das orgias nos bailes de carnaval. Uma baixaria total e de mal gosto.

Mas, eu sempre assistia ao desfile das escolas de samba do Rio. Em São Paulo, as escolas de samba não tinham o mesmo sabor das escolas cariocas. Verde e rosa para a Mangueira, vermelho para o Salgueiro e outras cores que eu já não me lembro. Eu adorava a bateria da Padre Miguel. E as fantasias, então. Todas aquelas plumas, biquinis bordados com lantejoulas, carros alegóricos, passistas, porta-bandeira. Eu achava incrível a energia dessas pessoas dançando naquele mar de cores.

Quando vim morar aqui, fui apresentada à uma brasileira que participava de uma escola de samba. Ela tomava aulas com uma outra brasileira que já era bem conhecida por aqui. Fui para aula, mas não gostei quando ela começou a tentar me ensinar a dançar samba. Tudo me pareceu tão ensaiado e artificial. Além disso, eu não tinha a mínima paciência para os mexericos da “comunidade.” Eu queria era dançar do meu jeito e experimentar a sensação de dançar na rua em frente à uma multidão de pessoas. Embora eu saiba como disfarçar bem, sou meio tímida. Porém, a idéia de dançar na rua me atraiu por ser algo inusitado que provavelmente eu nunca teria feito no Brasil.

Aprendi a dançar meio acidentalmente. Qualquer dia eu conto. Mas adoro dançar. Eu me sinto completamente viva e em harmonia com o meu corpo quando estou dançando.

Um mês após a minha aula, acabei conhecendo um rapaz da Guatemala que dirigia um grupo de dança com pessoas de várias partes do mundo que eram apaixonadas pela cultura brasileira. Ele me convidou de última hora para dançar com o grupo no carnaval de rua de San Francisco que acontece no final de maio. Improvisei uma fantasia de baiana e dancei até fazer bolhas na sola do pé.

No ano seguinte, eu já estava mais preparada. Ao oposto do Brasil, os grupos daqui cada ano usam cores diferentes dependendo do tema que escolhem. No ano seguinte, eu improvisei uma outra fantasia (da foto acima) e lá fui eu de novo dançando com uma amiga cubana, duas espanholas, uma americana, uma iraniana, uma japonesa e tantas outras.

Eu dancei no Carnaval de San Francisco durante oito ou nove anos. Dançar nas ruas de San Francisco foi uma experiência incrível. Eu ainda me lembro dos preparativos de última hora. Com o tempo o grupo se tornou mais organizado, com ensaios e coreografias. Eu nunca tive tempo ou paciência para os meses de preparo, mas sempre participei da ala dos “passistas improvisadores.” Os temas também eram interessantes. Homenageamos Duke Ellington (na foto ao lado), os povos indígenas das Américas, o Olodum, Ghandi e a paz.

Com o tempo o carnaval de San Francisco foi se tornando mais competitivo e professionalizado e, de certa forma, ficando mais parecido com o carnaval carioca, incluíndo algumas mulheres que sentiam a necessidade de desfilar nuas, ou praticamente nuas. E assim, perdeu um pouco da inocência inicial, quando as pessoas se juntavam para dançar não para ganhar nenhum prêmio ou para impressionar alguém, mas pelo simples prazer de dançar.



Sunday, February 18, 2007




Gung Hei Fat Choy – Happy Chinese New Year

Hoje marca o início do ano novo lunar, também conhecido como ano novo chinês. Esse é o ano do javali de fogo ou javali dourado que acontece somente a cada sessenta anos fechando um ciclo. Acredita-se que o ano do javali tráz sorte mas é também um ano turbulento.

Diz a lenda que Buda estava prepaparando uma festa e convidou todos os animais prometendo a cada um uma surpresa e um presente. Porém somente doze apareceram e ganharam um ano de acordo com a ordem de chegada: o Rato ou Camundongo; O Boi ou Búfalo (Vaca, na Tailândia); o Tigre (Pantera, na Mongólia); O Coelho (Gato, na Tailândia ); o Dragão (Crocodilo, na Pérsia); a Cobra ou Serpente (Pequeno Dragão, na Tailândia ); o Cavalo; a Cabra ou Carneiro; o Galo ou Galinha; o Macaco; o Cão; o Porco ou Javali. O Cavalo de Fogo rege a cada 60 anos.


No sítio do magia dourada encontrei o seguinte sobre o ano do javali:
“Em 18/02/2007, terá início o Ano Novo Chinês. Segundo o Calendário Chinês, 2007 será o Ano do Javalí que vai até 06/02/2008. Com o Javalí, fecha-se mais um ciclo de 12 anos, do 78° ciclo de 60 anos. Cada ciclo de 12 signos, em alternância com os cinco Elementos da Natureza (Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água), completa um ciclo de 60 anos. Na tradição oriental, um indivíduo ao completar 60 anos, retorna ao seu ponto de origem, com o mesmo Elemento, ou seja, ele passa pelos cinco Elementos e retorna aos tempos de criança. A tradição chinesa afirma que aqueles que nascem no Ano do Javalí terão fartura por toda a vida. O Ano do Javalí é ideal para quem planeja aumentar a família, isto porque, segundo a cultura chinesa, um ano sob a regência do Javalí é sempre propício aos partos e nascimentos. 2007 será muito positivo para os corajosos que não tem medo de enfrentar desafios, um ano ideal para transpor antigas barreiras e tomar decisões que vinham sendo adiadas, perfeito para concluir projetos e colher os seus frutos. O ano do Javalí representa um tempo de mudanças, com amplo potencial para inovações. Isto porque os anos do Javalí são caracterizados por descobertas científicas e tecnológicas. Foi num ano sob a regência desse signo (1983) que a Micosoft lançou o seu primeiro sistema operacional para computadores pessoais, o "MS-DOS", responsável por todo o avanço nessa área. Os anos do Javalí, também têm sido marcados por catástrofes naturais de origens climáticas.”

Que nos venha a fartura, a boa sorte e o espírito inovador, mas que estamos livres das tragédias naturais ou provocadas por seres humanos. Em Beijing, o ano novo já começou de maneira explosiva: pelo menos125 pessoas se feriram com fogos de artícifio enquanto estavam tentando celebrar o ano novo em parques, nas ruas e nos templos.

By the way, sou do signo de Tigre e você? Se quiser dar uma olhadinha nas características do seu signo no horóscopo chinês visite esse sítio. O meu é tem tudo a ver.

Por aqui as festividades continuam por um mês. Nesse ano o desfile em San Francisco com dragões, acrobatas e carros alegóricos acontecerá no início de março. Se não estiver chovendo muito, eu estarei lá.



Wednesday, February 14, 2007

Valentine's day na era do Youtube



Hoje cedo recebi o meu primeiro presente via youtube do meu amor que se encontra na Alemanha. Foi gravado ao vivo no dia 11 de Fevereiro durante um show em um clube chamado JazzKeller perto de Frankfurt. Ele dedicou o solo para mim. Achei muito fofo e tive de compartilhar.
HAPPY VALENTINE'S DAY!

HAPPY VALENTINE'S DAY!


Tuesday, February 13, 2007


Meme das atitudes eco-conscientes

A Leila me convidou para continuar a meme das atitudes eco-conscientes, criada pela Lúcia Malla, Denise e Allan no novo blog coletivo Faça a Sua Parte.

Algumas coisas que faço em favor do meio ambiente:

* Reciclo tudo que posso: papél, papél alúminio, latas, jarros de vidro (daqueles que vêm com molho de tomate ou com geléia).

* Procuro o máximo que posso não desperdiçar comida. O frango com arroz de hoje vira a canja de amanhã. Também ensino os meus filhos a colocarem no prato somente a quantia que sabem que vão comer.

* Levo a minha própria sacola quando vou ao supermercado fazer compras.

* Sempre compro frutas e legumes orgânicos, ou seja, onde não houve o uso de pesticidas ou agro-tóxicos.

* Não como carne vermelha, embora de vez em quando ainda coma peixe e frango. Além da crueldade contra os animais, o alto consumo de carne bovina contribui para o desmatamento. O alto consumo de peixe contribui para o esvaziamento dos oceanos.

* Quando tenho que me livrar de algum computador ou algum aparelho eletrônico que não funciona mais, eu os levo a um local especializado em lixo eletrônico.

* Quando vou a algum lugar com outras amigas ou a um passeio com outra família dirigimos no mesmo carro sempre que podemos.

* A escola dos meus filhos foi a primeira a receber o certificado green no contado de Alameda (Berkeley é uma das cidades do contado). Eles compraram copinhos e pratinhos reúsaveis para serem usados no dia-a-dia da escola assim como em eventos para as famílias. Eles compram frutas e legumes orgânicos de uma fazenda local. E na hora de reformarem a escola escolheram produtos que não degradam o meio ambiente. As crianças reciclam restos de comida que são colocados em uma caixa com terra e minhocas para serem transformados em fertilizantes para o jardim e a horta da escola.

Meus pecados ecológicos:

* Eu adoro caminhar, mas também adoro dirigir. Aprendi a andar de bicicleta quando já tinha 24 anos e morro de medo de andar de bicicleta no trânsito. O transporte coletivo daqui não é eficiente. O BART, o equivalente ao Metrô de São Paulo, é caro e os trens não correm com a mesma frequência. A passagem de ônibus não é tão cara, mas também demora entre um e outro e o serviço não funciona em alguns bairros. Há muitos lugares por aqui que são impossíveis de se chegar sem carro. Meu sonho de consumo é ter um carro híbrido, de preferência uma minivan.

* Quando os meus filhos eram bebês eu usei fralda descartável. Eu sei que não foi ecologicamente correto, mas eu não tive a paciência de usar fraldas de pano. Existe serviços de fralda que coletam as fraldas sujas em casa e depois as devolvem limpas. Eu não sei quantas vezes por semana eles fazem isso, mas eu não tive estômago para ficar com uma pilha de fraldas sujas em casa esperando a entrega.

Agora convido a Cris, a Elizabeth, a Sofia e quem mais tiver interesse em participar. Outros "memes": Denise Arcoverde, Andrea e Anita.

Friday, February 09, 2007


Da vida, da morte, da cara torta da sorte

Hoje, que de acordo com o relógio já virou ontem, choveu o dia todo. Foi um dia cinzento e melancólico apesar da beleza das gotas frescas penduradas nas plantas.

No meio do ano passado, a mãe de uma coleguinha de escola da minha filha foi diagnosticada com um tumor no cérebro. Em princípio parecia que o tratamento ia funcionar, embora os médicos não pudessem operá-la devido a localização do tumor.

Na semana passada, a professora pediu para eu ir tirar fotos da menina na sala de aula pra enviá-las à mãe porque esta já não podia mais visitar a escola. Eu fiz fotos lindas da menina lendo, escrevendo e fazendo trabalhos de arte. Hoje fui imprimir as fotos, escrevi um cartão bonito para a mãe e a família. Embrulhei tudo cuidadosamente por causa da chuva e dei para a menina colocar na mochila para levar para a casa. Às seis da tarde recebi um telefonema de uma outra mãe dizendo que a moça havia falecido à tarde, provavelmente na hora em que eu estava escrevendo o cartão, quem sabe.

Talvez faça parte da condição humana sempre questionarmos diante de tal situação o que poderíamos ter feito diferente. Talvez eu deveria ter imprimido as fotos antes. Talvez eu devesse ter ajudado mais a família. Talvez eu devesse ter encarado o meu próprio medo e desconforto e ter ido visitá-la. Talvez. Talvez. Talvez.

Mas a verdade é que nada que eu ou qualquer outra pessoa tivesse feito ou não feito poderia ter alterado essa situação trágica. Embora possamos encontrar algum conforto nas vezes que tentamos ajudar essa família, não há como negar o fato de que a morte dessa mãe desperta um dos nossos medos mais profundos: o medo da morte premature, de surpresa. No fundo sabemos que se aconteceu com ela pode acontecer com qualquer um de nós.

É de partir o coração. Ela era uma advogada brilhante que lutava contra a indústria tabagista, entre outras coisas. Ela era também uma mãe super dedicada. A minha filha ficou super triste, pois havia visitado a sua casa várias vezes. Ela também ficou preocupada com a amiga, perguntando “e agora, quem vai ser a mãe dela?” Provavelmente o próximo passo será: se isso aconteceu com a mãe dela pode acontecer com a minha também.

Sometimes life just isn’t fair.

Um dos meu maiores medos enquanto mãe é morrer antes de ver meu filho e a minha filha criados. Sendo mãe eu tenho uma responsabilidade maior do que com a minha própria vida. Eu já passei por fases durante as quais não queria continuar vivendo. Mas isso parou completamente quando eu decidi ser mãe. Eu tenho que viver a minha vida por completo não só por mim, mas pelos meus filhos. Por isso também tomo muito cuidado com a minha saúde.

Em princípio as outras famílias foram bem solidárias, mas com o tempo também ficou difícil ajudar sem parecer intruso. É um equilíbrio delicado: de um lado o desejo de se respeitar a privacidade, do outro a ânsia de querer ajudar, sem saber exatamente o que fazer. O mais difícil, na minha opinião, foi para nós, os pais e as mães, lidar com a nossa própria vulnerabilidade, nossa própria mortalidade.

Nessa vida não há garantia, exceto que todo o mundo tem seu dia.

Thursday, February 08, 2007


I want my youtube

Ás vezes as mudanças que supostamente deveriam melhorar as coisas na verdade só vêm a atrapalhar. Pois é, na última sexta eu tinha escrito um post sobre o quanto eu gosto de dançar para acompanhar um vídeo do youtube que eu queria compartilhar. Algo bem light para terminar a semana.

Quando abri o meu blog percebi que o Blogger tem agora o New Blogger. As pessoas que estavam usando o Old Blogger como no meu caso tiveram que mudar para o New Blogger. Até aí tudo bem. O lembrete recomendando a mudança anunciava features mais avançados e tal e coisa. Eu consegui efetuar a transição sem nenhum problema. Só que quando eu fui no youtube para postar o meu vídeo a coisa não funcionou.

Como sou super teimosa, tentei em vão por dias. Por isso andei sumida. Finalmente fuçando o grupo de ajuda do Blogger eu descobri uma maneira, ainda que mais complicada, para postar vídeos no meu blog. Se fosse por mim eu ficaria com o Old Blogger mesmo. Eu sei que a tecnologia só avança se houver inovação, mas cá entre nós, como diz a minha mãe, para que procurar chifre em cabeça de égua?

Cartoon: Google images

Thursday, February 01, 2007


Cinco minutos de repouso para o planeta

Hoje eu passei a tarde inteira gravando um CD em um estúdio cercada por eletricidade por todos os lados. Corri para a casa e cheguei ainda a tempo para participar do blackout simbólico convocado pela L'Alliance pour la Planète, um grupo de organizações ambientais da França. A idéia foi bem simples e um pouco de última hora: cinco minutos de repouso para o planeta para coincidir com a apresentação de um relatório sobre as condições climáticas apresentadas por cientista da ONU. Pediram-se às pessoas do mundo inteiro para que apagassem as luzes e desligassem todos os aparelhos eletrônicos entre as 7:55 e às 8:00 da noite de acordo com a faixa horária do lugar onde moram.

O evento também contou com o apoio de organizações ambientais brasileiras. Estou curiosa para ver quantas cidades participaram no Brasil. Por aqui eu li sobre a convocação em sítios alternativos e blogs, mas ainda não sei quantas pessoas participaram.

As luzes da torre Eiffel ficaram apagadas durante os cinco minutos do protesto. Em Roma, o Coliseu e o Capitol ficaram escurecidos. Na Grécia, o parlamento, a prefeitura e o ministério do exterior desligaram as suas luzes.

Aqui em casa, as crianças leram à luz de velas como eu fazia quando visitava os meus avós ou quando faltava a luz na minha casa, em São Paulo. Ainda me lembro de como quando eu era criança a minha mãe sempre tinha velas pela casa porque quase toda vez que havia uma tempestade faltava a luz. Onde moro raramente falta eletricidade. Estamos tão acostumados com a presença das luzes e dos aparelhos eletro-domésticos e eletrônicos que mal paramos para pensar em como seria a vida sem a eletricidade.

Embora esse blackout tenha sido um gesto simbólico, eu achei linda a idéia das pessoas no mundo inteiro pararem por cinco minutos para refletir sobre o estado atual do planeta. Espero que esse evento volte a acontecer e que conte com a mobilização de mais gente.

Fiquei só imaginando como deve ter sido ver a França escurecer por cinco minutos da janela de um avião ou a bordo de uma nave.

Foto de Paris: BBC World News