Um ano após Katrina
Faz um ano que que o furacão Katrina devastou a cidade de Nova Órleans. No entanto, a cidade mal começou o seu processo de reconstrução. A cidade já tinha problemas sociais graves: problemas com tráfico de drogas, criminalidade e um índice de pobreza o dobro que a média no resto do país. O furação só fez expor esses problemas para o resto do mundo ver.
O que ficou bem claro também foi a conecção entre raça e classe. A tragédia atingiu desproporcionalmente a população afro-americana. Segundo Jason DeParle, num ensaio publicado pelo New York Times de ontem, entre as crianças que estão “at risk” ou seja correndo risco como dizem os assistentes sociais, a discrepância é gritante: somente 7% das crianças brancas “correndo risco” são pobres, enquanto que 47% são afro-americanas.
O processo de reconstrução tem sido super lento. Um ano após, 40% da população ainda não tem eletricidade e 60% ainda não tem gás. O pior é que o prefeito da cidade, Ray Nagin, embora seja democrata e afro-americano, segue a ideologia neo-liberal do governo de George Bush. Um dos planos de reconstrução claramente favorecia bairros de maior potencial econômico, nesse caso significando o total abandono das áreas mais pobres onde a grande maioria de habitantes é afro-americana. Por outro lado, brasileiros de várias partes dos Estados Unidos estão migrando para a região para trabalhar na reconstrução da cidade. O consulado brasileiro em Luisiana que antes só recebia quatro chamadas por semana agora está tendo por volta de oito por dia. O problema maior entre os que estão chegando para trabalhar é a escassez de moradia. Em alguns casos, dezesseis pessoas têm que compartilhar o mesmo apartamento, segundo a BBC Brasil.
Eu me lembro bem de como as pessoas aqui ficaram chocadas com as cenas da probeza em Nova Órleans. Isso não me chocou em nada. É bem óbvio onde eu moro também que nas áreas mais pobres, onde quase não há supermercados, onde a violência e a presença da polícia fazem parte da rotina diária, a população é predominantemente afro-americana e latina. Quando caminho pelas áreas mais pobres e desoladas de Oakland, Califórnia, é raro eu ver uma pessoa branca. Na verdade, o que me chocou mais foi a reação das pessoas. Elas agiram como se a miséria no país que se diz o mais rico e poderoso do mundo fosse novidade. O pior e que não é.
- 1.695 pessoas morreram durante o furacão Katrina
- 78.000 casas foram destruídas
- População decaíu de 455.000 para 200.000
Fontes: New York Times – http://nytimes.com/2006/08/27/magazine/27neworleans-1html
BBC Brasil - http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/5281396.stm
Fotos: Flickr