Reveillon às avessas
Eu estou morando aqui há tanto tempo que já me acostumei a passar o Natal no inverno. Na verdade, eu gosto. Acho aconchegante. Mas o Ano Novo é outra coisa.
Eu não sinto saudade nenhuma de Carnaval, mas eu sinto saudade do reveillon no Brasil. Sinto falta do verão, da praia, das pessoas vestidas de branco, das festas que rolam até de madrugada com gente de toda idade.
Aqui é uma chatice. Além do frio e da chuva, muitas pessoas não celebram a passagem do ano. Vão dormir. Sim, passam a passagem do ano dormindo, uma coisa impensável no Brasil. Mesmo durante a virada do milênio não havia ninguém nas ruas do meu bairro. A maioria das casas estavam silenciosas.
Algumas pessoas fazem festa, mas muitas vezes as festas acabam antes da meia noite. (?) Uma vez fui a uma festa que terminou às 8 da noite. Outra vez terminou às 11. Mas o mais engraçado foi o ano passado. Fui convidada para uma festa de reveillon na casa de uns amigos. O convite veio via e-mail. Eu nem me preocupei em conferir a data, pois tinha a certeza que a festa seria no dia 31. No dia 31, por volta das 10 da noite, eu cheguei na casa do meu amigo com as crianças. Eu notei que a casa estava meia escura e quieta, mas pensei que talvez a galera estivesse se congregando na cozinha. Bati na porta e o meu amigo abriu usando um roupão de banho. Ele já estava na cama. A festa tinha sido na noite anterior. Pode? Ora bolas, onde já se viu fazer uma festa de reveillon uma noite antes? A desculpa foi que talvez as pessoas preferissem passar a passagem do ano somente com os seus familiares. Roncando? Eu, hein?
Felizmente, no ano passado estava rolando o Dance Jam, o lugar onde eu vou dançar às sextas-feiras. Por alguma razão, naquela semana eles decidiram organizar o baile na sexta e no sábado. Na verdade, é mais como um baile hippie. Mas deu para o gasto, como diria a minha mãe. No mais, as opções são os clubes onde a entrada nesse dia é caríssima e não se pode levar criança. Eu adoro como no Brasil as crianças são integradas nas celebrações de fim de ano, nas festas de família, nos casamentos. Não existe esse negócio de mandar criança pra cama às 8 da noite na véspera da passagem do ano. Como já disse aqui uma vez, eu detesto essa estória de excluir criança desses tipos de festividades. Criança não é cachorro, apesar do carinho que eu também sinto pelos mesmos.
Em princípio, eu pensava que tinha a ver com o inverno e que as pessoas ficam com menos pique por causa do frio. Mas quando passei um reveillon na Alemanha descobri que é muito parecido com o Brasil. As pessoas fazem festas nas casas, soltam fogos de artifício e esperam até a meia noite. Ele chamam o reveillon de Sylvester ou Sylvesterabend (a noite de São Silvestre). A lenda diz que Silvestre foi um papa que milagrosamente curou o imperador romano Constantino I de lepra. O imperador por sua vez recompensou o papa com a generosa doação de terras e bens. O dia 31 de dezembro é o dia de São Silvestre.
Bom, nesse ano eu já estava me preparando para um reveillon a la Mexicana na casa da minha vizinha, mas ela acaba de se mudar e não deu tempo de preparar a casa para a festa. Então, a festa foi adiada. Eu estarei em casa com os filhotes e um amiguinho que vem passar a noite. Acho que só me resta assistir a tal bola de Nova York na televisão e brindar com suco de maçã, já que o marido vai estar tocando em algum clube para uns hippies que pagaram uma grana para ter um reveillon com música ao vivo.
Ah well, c’est la vie et la vie est comme ça!