Monday, July 31, 2006
Sunday Morning
As I woke up this beautiful Sunday morning,
My sleepy daughter still wrapped around my body,
I had yet to find out that across the world, in
Mothers were dying clutched with their children in a final embrace
Unable to protect them from the bombings
This is what hell must look like
I have a strange taste in my mouth
For I am also a mother
The pain stamped in those women’s faces
May as well be stamped on mine
The politicians announce the birth of a new middle-east
While death is all I see
Today, July 30, the deadliest day yet, around 50 people were killed in
Domingo de Manhã
Quando eu acordei nessa bela manhã de domingo,
Minha filha adormecida e agarrada ao meu corpo,
Eu ainda não sabia que do outro lado do mundo, no Líbano,
Mulheres estavam morrendo agarradas aos seus filhos num abraço final
Incapazes de protegê-los dos bombardeios
É assim que deve ser o inferno
Sinto um gosto estranho em minha boca
Pois também sou mãe
A dor estampada no rosto daquelas mulheres
Poderia estar estampada no meu
Os políticos anunciam o nascimento de um novo oriente médio
Enquanto a morte é apenas o que vejo
Hoje, 30 de julho, foi o dia mais violento na guerra no Líbano até agora. Em torno de 50 pessoas morreram, entre elas 34 crianças.
Friday, July 28, 2006
Recentemente eu pensei num filme que assisti há muito tempo chamado La double vie de Veronique, sobre duas mulheres idênticas (ou será somente uma mulher vivendo duas vidas simultaneamente?), uma na Polônia e a outra na França. Enfim, é um filme bonito, embora meio melancólico pelo que eu me lembro. Outro dia falo mais sobre o filme.
Mas do que eu quero falar hoje é sobre ma double vie. Pois é, ma double vie se deve ao fato de que em dois anos eu terei passado exatamente metade da minha vida no Brasil e metade aqui. Quando escrevo, especialmente quando se trata de um poema, ele me vem ora em português ora em inglês. Geralmente, tudo começa com algumas palavras ou alguma idéia que fica dançando na minha cabeça e quando finalmente sento para escrever é como se a minha bolsa tivesse rompido em trabalho de parto. E quando eu me dou conta, pronto, já pari.
Foi assim que aconteceu com o último poema que escrevi. Eu carreguei as duas frases inciais por dias sem ter tempo de sentar para escrever. Os eventos que vem acontecendo nessas duas últimas semanas tem me abalado profundamente. As imagens horríveis dos ataques no Líbano e em Israel, a violência no Iraque e em Gaza, as explosões na Índia, o terremoto e a tsunami na Indonésia. Tanta morte, tanta destruição. Enquanto isso, cá estou eu, desfrutando do verão californiano, caminhando pelo meu bairro arborizado e cheio de jardins, absorvendo essa luz dourada que é filtrada pela neblina e que eu só conheço daqui.
Sinto-me como se eu estivesse vivendo num casulo, embora eu saiba muito bem que essa sensação de estar protegida é puramente ilusória. Acredito que tudo nesse mundo é interconectado. Somos todos parte de uma rede, queiramos ou não. Eu não acredito em dicotomias como o bem contra o mal, nós contra eles, eles contra nós. Prefiro o complexo ao simples. Como já dizia Caetano, “todo corpo em movimento está cheio de inferno e céu.” Também não entendo a falta de empatia de algumas pessoas que conseguem se dissociar do sofrimento alheio, quando as pessoas que estão sofrendo não são da mesma nacionalidade, raça, orientação sexual, classe social, ou religião que elas.
O único problema dessa minha “double vie linguística” é que algumas coisas são muito específicas e não traduzem bem de uma língua para outra. Embora eu trabalhe com traduções, às vezes tenho dificuldade em traduzir adequadamente o que escrevi. Ainda mais porque escrever poesia para mim é algo muito pessoal e quando o sentimento me vem numa língua às vezes fica difícil transpor-lo para outra. Mas assim mesmo eu vou tentar.
O poema que vou publicar no post a seguir nasceu originalmente em inglês. Vou fazer o possível para traduzir-lo para o português após a publicação do original em inglês.
Shalom, Salam, Paz
My eyes are tired
My eyes are tired
My heart is filled with sorrow
As I walk through my beautiful neighborhood
I think of people dying by the hundreds in Lebanon
Many of them children like mine
I think of people trapped in their villages
The whole world watching
I think also about the people of Haifa
Terrified in their shelters
The insanity engulfing them all
Muslim, Christian and Jew
Holly land transformed in perpetual hell
As I walk through my peaceful neighborhood
Filled with the smells of coffee and nice restaurants
I think of the hundreds dead in Indonesia
Mother earth unleashing her wrath in unexpected bursts
Geological plates shifting bellow us in mysterious ways
The stench of rotting flesh
The resilience of the human spirit
The fragility of us all
I think of my beloved Bay Area
This tragic fate, may we be spared
As I walk through my innocent neighborhood
People smile at me while walking their dogs
I think of the explosion in India
Tired people just trying to get home
Frantic relatives searching for them
Faith can make you blind
Have mercy on us all
I take solace in the hazy view of the Pacific, the Golden Gate,
The gentle green and the flowers around me
This golden light let it shine
July 22
This poem is dedicated to the dead in Lebanon, Gaza, Israel, Indonesia and India.
Meus olhos estão cansados
Meus olhos estão cansados
E o meu coração transborda de dor
Enquanto caminho pelo meu bairro, que é lindo
Penso nas centenas de pessoas mortas no Líbano
Muitas delas crianças como as minhas
Penso nas pessoas presas em suas aldeias
Enquanto o mundo inteiro assiste
Penso também nas pessoas de Haifa
Aterrorizadas em seus abrigos
Todos engolfados pela mesma insanidade
Mulçulmano, Cristão e Judeu
Terra santa transformada em inferno perpétuo
Enquanto caminho pelo meu bairro, que é pacífico
E cheio de aromas de café e restaurants
Penso nas centenas de pessoas mortas na Indonésia
Mãe Terra desencadeando a sua fúria de maneira emprevisível
Placas geológicas deslocando-se misteriosamente abaixo de nós
O odor de corpos apodrecendo
A força do espírito humano
A nossa fragilidade
Penso na minha querida Bay Area
Que sejamos salvos de tal trágico destino
Enquanto caminho pelo meu bairro, que é inocente
Pessoas passeando com seus cachorros sorriem para mim
Penso na explosão na Índia
Pessoas cansadas tentando ir para a casa
Parentes desesperados procurando por elas
A fé pode cegá-lo
Tenha piedade de todos nós
O meu consolo é a vista translúcida do Pacífico, da Golden Gate
Esse verde delicado e as flores ao meu redor
Que essa luz dourada brilhe
22 Julho - Dedicado aos mortos no Libano, Gaza, Israel, Indonesia e India.
Thursday, July 20, 2006
Tuesday, July 18, 2006
Guerra no Oriente Médio
Tenho amigos em Israel e no Líbano, inclusive uma brasileira que recentemente foi transferida de San Francisco para trabalhar no consulado brasileiro em Beirute. Estou acompanhando o conflito através da BBC internacional, do site do Democracy Now e de vários blogs. Em sete dias de conflito mais de 200 civis já foram mortos no Líbano, entre eles dezenas de crianças e mais de um milhão de pessoas tiveram que abandonar as suas casas. Esse número só tende a aumentar nos próximos dias com ofensiva israelense em retaliação ao sequestro de dois soldados israelenses se intensificando. Em Israel, dezenas de foguetes disparados por Hizbollah na área de Haifa, mataram 24 pessoas, entre as quais 12 eram civis.
Israel diz estar tentando destruir a infraestrutura da Hizbollah no Líbano, mas é a população do Líbano que está pagando o preço. Pontes foram bombardeadas e completamente destruídas assim como o aeroporto internacional de Beirute e há um grande número de pessoas completamente isoladas no sul do Líbano. Isso está acontencendo bem em meio a estação turística quando o país estava demostrando sinais de estar se recuperando da instabilidade política e econômica, resultado de anos de guerra civil. No momento, estima-se que há entre 300 e 500 brasileiros, descendentes de libaneses, passando ferias no Líbano. Um casal de libaneses naturalizados brasileiros e seus dois filhos morreram em decorrência dos ataques.
O correspondente da BBC disse que no Líbano não há sirenes para anunciar que um bombardeio está prestes a acontecer. Fico só imaginando a angústia, a ansiedade e o desespero das pessoas nesse tipo de situação. Por outro lado, em Israel, a população está recebendo ordens para permanecer em casa e quando ouvem a sirene devem se recolher nos abrigos. Enquanto isso, as crianças no Líbano que nasceram durante os anos após a guerra civil já mostram sinais do trauma dessa guerra através dos seus desenhos. O que os militares israelenses e os guerrilheiros do Hizbollah se recusam a ver é que a sua intransigência, ignorância, ódio e desrespeito pela vida humana transformam a terra santa num inferno perpétuo onde ninguém tem paz. Onde há violência nunca poderá haver paz ou justiça. Enquanto israelis e árabes continuam se recusando a reconhecer a sua humanidade no outro, crianças de ambos os lados continuam pagando o preço. Em meio a tanto rancor, violência e desconfiança, a tendência é que elas continuarão a reproduzir o ciclo. A semente já foi plantada. Os meus olhos estão cansados e o meu coração pesado.
An eye for an eye makes the whole world blind. (Ghandi)
Um olho por olho faz com que o mundo todo fique cego. (Ghandi)
Shalom, Salam, Paz
Sunday, July 16, 2006
Cabelos
Cabelos
Curtos, longos, channel
Lisos, ondulados, crespos, pixaim
In between
As de cabelo liso querem ter cachos
As de cabelo crespo querem domá-los
As que tem pixaim
Acham que a solução é alisá-los
E as que tem cabelo “in between”?
Jubas imensas
A la Gal Costa
Indomáveis, incontroláveis
Cabelos que começam liso na raiz
E ao primeiro sinal de escova ou umidade
Tornam-se armados como uma aura,
Uma coroa, uma juba leonina
Poderosa
Encarapinhados, emaranhados
Macios, desvendados
Shampoo, condicionador
Chapinha, secador
Coisas com nomes estranhos
Como escova progressiva
Será que também existe escova retroativa
Para reverter os danos da progressiva?
Coisas com nomes engraçados
Como ativador de cachos
Como se cachos pudessem ser desligados
Dreadlocks, tranças,
Extenções feitas com cabelo 100% humano
E sabe-se lá mais com que
Grisalhos, pintados
Punk e repicados
Reciclados
Mas são fortes e resistentes
É um milagre que após tudo isso
Não fiquemos todos carecas
Thursday, July 06, 2006
06 de julho de 2006
Nascida de João e Maria
Menina da roça de pés descalços
Brincando com boneca de sabugo de milho
Filha de Maria
Com véu branco e fita azul no pescoço
Rezando para Nossa Senhora do Carmo
Adeus montanhas azuladas de Minas
Foi-se embora e abandonou o noivo às vésperas do casamento
Mulher decidida, segue rumo à cidade grande
Sem sequer olhar para o jardim em frente à igreja
Onde as moças caminham do lado de dentro
Os moços do lado de fora
E todo o mundo conhece todo o mundo
Na cidade conhece um moço bonito de cabelo ondulado,
Amigo dos parentes com quem ela mora
Eles gostam de filmes de Mazaropi, música mexicana e passeios dominicais
Mas após a morte da tia
O casamento é simples, sem bolo nem festa
Chegam as filhas
Primeiro eu, com uma coleção de doenças infantis
Depois minha irmã
Sempre rezando para as coisas melhorarem
Costurando por horas a fio
As filhas estão criadas
O marido Deus levou
Mas da vida brotaram-se netos
Viagens, mudanças
Redescobertas
Agora chegou a sua vez
É hora de ir para a escola
De fazer lição de casa
Maria é finalmente livre
Para abraçar o mundo
Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant
Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida