Dia Internacional da Mulher Hoje é o dia internacional da mulher. Ironicamente eu passei o dia arrumando a casa, lavando roupa, preparando comida para os filhos. Essas coisas do dia a dia que acabam tomando tanto tempo e sugando a energia da gente. Só agora, pouco antes da meia noite, é que eu finalmente consegui sentar em frente ao computador para escrever alguma coisa.
Eu nunca tive ajuda alguma com a casa ou com os filhos, com execeção da ajuda do meu parceiro, é claro. Minha mãe também nunca teve ajuda e muito menos a minha avó. Não estou dizendo isso para me gabar como uma super mulher, não. Pelo contrário, às vezes é extremamente enfadonho e frustrante. Mas fazer o que, isso faz parte da vida adulta e no meu caso, vida de mãe porque essa foi a minha escolha. Eu ainda me lembro da frustração da minha mãe. Mas ter uma empregada doméstica nunca foi uma opção para ela. Muito menos uma opção para mim. Primeiro porque é caríssimo pagar pela ajuda de alguém aqui (como eu acho que deve ser) e segundo porque eu acredito que todos os membros da família devem fazer a sua parte. Agora não é a minha intenção julgar as mulheres que tem condições de pagar e decidem contratar uma empregada doméstica. É que simplesmente essa relação patroa-empregada nunca fez parte do meu universo pessoal.
No entanto, acho que comecei a divagar sobre esse assunto doméstico porque às vezes eu me sinto completamente overwhelmed. Essa é uma palavra ótima em inglês para qual ainda não encontrei uma definição exata em português. As palavras que mais se aproximam são: esgotada, oprimida, inundada. As expectativas que eu sempre tive para mim mesma são altas: ser boa mãe, ter uma profissão, ter um alto nível de educação, ter uma relação saudável com o parceiro, etc. A lista é longa e eu, como muitas mulheres que se consideram feministas da minha geração, acabo me sentindo como se não estivesse fazendo o suficiente.
Eu adoro escrever tarde da noite, mas tenho estado tão cansada ultimamente que acabo indo dormir. Pelo menos eu não tenho que lavar as toalhas e os lençóis à mão como a minha mãe tinha que fazer, mesmo quando estava grávida. Isso sem falar na minha avó, que se casou aos dezessete anos e pariu onze filhos. Não é a toa que ela sempre desencorajava as filhas a se casar.
Bom, pelo menos eu não nasci no Afeganistão. O Afeganistão juntamente com a Serra Leoa têm o índice mais alto de mortalidade materna no mundo. A situação da mulher no Afeganistão está pior do que nunca. Segundo um artigo publicado em fevereiro no jornal britânico The Independent e baseado numa pesquisa realizada pela organização Womankind, com sede no Reino Unido, 57% da meninas se casam antes dos dezesseis. Muitas delas enquanto ainda são meninas com seis, sete anos de idade A pobreza faz com que muitas famílias “vendam” suas filhas em matrimônio arranjados ou usem suas filhas e irmãs como comodidade. Consequentemente, essas meninas não tem acesso à educação. Como resultado, 88% das mulheres são analfabetas.
Minha filha tem oito anos. Ela adora brincar e eu faço o que posso para proteger sua inocência. É de partir o coração saber que do outro lado do mundo uma menina como ela está sendo vendida e a violência e o abuso que a aguardam.
Foto: The Independent