Wednesday, January 28, 2009

Strange fruit


Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

As árvores do sul carregam uma fruta estranha
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Corpos negros que balançam na brisa do sul
Fruta estranha que pendura das árvores de poplar.
Cena pastoral do sul galhardo
Os olhos arregalados e a boca torcida,
Perfume das magnólias, doce e fresco
Então, o cheiro repentino de carne queimando.
Está aqui a fruta para que os corvos arranquem
Para que a chuva recolha, para que o vento sugue,
Para que o sol apodreça, para que as árvores deixem cair,
Aqui é uma colheita estranha e amarga.

My Rhapsody Playlist

Hoje eu ouvi uma remix (a versão acima) dessa música da Billie Holiday. A letra da música é super gráfica e descreve o linchamento de homens negros nos sul dos Estados Unidos. Eu estava ouvindo esse cd enquanto estava dirigindo para uma palestra de um jornalista que escreveu um livro sobre a experiência de pessoas que se identificam como biraciais ou multiraciais. Esse é um conceito relativamente novo nos Estados Unidos porque até recentemente uma pessoa filho(a) de pai afro-americano e de mãe branca (ou vice-versa) era automaticamente considerado negro. Depois eu volto para falar mais sobre a palestra.


Tuesday, January 27, 2009


A noite e seus detalhes



Monday, January 26, 2009

Todas as maças

Estou com uma gripe horrível. Passei praticamente o dia todo na cama sem energia para nada. Tentei dar uma caminhada à tarde até a loja de materiais de construção para comprar uma lâmpada para a minha cozinha e me senti como se estivesse caminhando nas nuvens ou como se estivesse assistindo a mim mesma caminhar.


Eu me sinto com frequência... (Um, essa sentença não me soa bem. Talvez soasse melhor - eu frequentemente me sinto – não, acho que só estou me indagando porque a sentença me veio à cabeça primeiro em inglês que no caso seria I often feel? Esse é um exemplo tipíco das línguas cruzadas na minha cabeça, como elas se intersectam, como uma interfere na outra e como às vezes eu acabo me traduzindo sem nem mesmo perceber.)


Mas enfim, muitas vezes quando estou caminhando sozinha, eu me sinto como se eu estivesse do lado de fora assistindo às pessoas e as coisas acontecendo ao meu redor. Quando não estou me sentindo bem então, essa sensação se torna ainda mais aguçada. É como se eu tivesse o poder de me fazer invisível e de me separar da realidade ao meu redor. Não, não estou perdendo o que me resta do meu juízo. Pelo contrário, quando estou me sentindo assim, na verdade estou totalmente presente e prestando a atenção aos mínimos detalhes. Eu sempre carrego a minha camêra digital onde vou e acabo fotografando coisas super inusitadas durante essas caminhadas.


Mas hoje eu quase não fotografei nada porque comecei a lembrar de muita coisa. Eu me lembrei de como eu era doente quando era criança. Eu tive de tudo: cachumba, hepatite, ameba, lombriga, sarampo, pneumonia, piolho, catapora, bronquite alérgica, asma. Eu tinha pavor, na verdade ainda tenho, de injeção, de ambulância e de hospital. Eu me lembro de der de pegar dois ônibus doente e vomitando e depois ainda esperar em fila de INPS, fila de Santa Casa; de precisar sair no meio da noite para tomar injeção de adrenalina e fazer inalação porque a asma não me deixava dormir. Durante um período na minha vida eu tinha de ir ao hospital de duas em duas semanas.


Naqueles dias, o meu único consolo era uma maça ou uma pera embrulhadas em papel de seda roxo. O vidinha, sô...


Por isso mesmo com essa gripe danada, eu ainda aprecio a saúde que tenho e todas as maças ao meu redor.


PS: Eu estava ouvindo essa música da banda inglesa Cinematic Orchestra enquanto estava escrevendo esse post. Chama-se Child Song.




Sunday, January 25, 2009


Parabéns, Paulicéia Desvairada!

Hoje é o aniversário da minha cidade: São Paulo completa 455 anos! Eu quase havia me esquecido senão fosse por um lembrete de uma amiga do Facebook. Quando se muda de país os feriados também mudam e acabamos por esquecer alguns deles.

Há tanto tempo que não escrevo nada por aqui. Tenho muito que escrever sobre a eleição do Obama, sobre a proposição 8 aqui que invalidou o casamento entre gays e lésbicas, sobre o meu Natal celebrado à maneira mexicana, as minhas impressões sobre Los Angeles e a Disneylândia e sobre a posse do Obama.

Ainda escreverei sobre tudo isso, mas hoje eu quero falar da minha cidade que é a minha cidade maravilhosa e que só é mesmo bonita em cartão postal. Eu nasci no Hospital Cruzada Pró-Infância, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, perto da Praça da Sé, o marco zero de São Paulo. Eu passei a primeira metade da minha vida lá e embora já esteja morando fora há 23 anos ainda conheço certas áreas da cidade como a palma da minha mão.

Sempre que posso ainda visito o Horto Florestal na zona norte, onde eu morava quando era criança. Meus filhos também gostam de caminhar pelas trilhas onde eu caminhava quando era menina. Da última vez que fomos lá vimos um grupo de capivaras pastando gentilmente em total abandono, alheias ao barulho do trânsito.

Conheço muito bem também o Parque do Ibirabuera, onde consegui o meu trabalho de período integral com a prefeitura. Eu era tão nova – tinha apenas 15 anos na época – que na hora do almoço eu ia me balançar no parque do outro lado do lago. Foi também no Ibirapuera que presenciei shows inesquecíveis de MPB. Os shows eram gratuitos e atraiam toda a galera bicho-grilo como eu. Semprei adorei isso sobre a minha cidade: a variedade de shows e muitos deles gratuitos.

Todo mês de dezembro havia uma campanha para a popularização do teatro e os ingressos eram vendidos com bastante desconto nessa época. Foi assim que consegui aprender muito sobre teatro e ver peças incríveis como Doce Deleite com Marília Pera e Marco Nanini.

Ainda gosto do Bixiga, da Vila Madalena, das estações de metrô com exibições de obras de arte ao invés de billboards anunciando coisas que ninguém precisa como os que eu vejo aqui. Adoro o MASP e a vista linda da cidade, o Trianon, os museus no Ibirapuera. Além do Pavilhão Japonês e do Museu de Arte Moderna, na última vez que estive em São Paulo, em julho do ano passado, visitei pela primeira vez o museu Afro-brasileiro. Incrível. O Museu da Língua Portuguesa, o primeiro do mundo, também me deixou babando.

Adoro as livrarias, os sebos e a curiosidade dos paulistanos. Na minha última visita eu reparei que agora há bibliotecas intinerantes em certas estações do metrô. Que idéia genial! Existem até máquinas onde se pode comprar um livro por $5 reais. Os livros podem não ser exatamente da mais alta qualidade, mas ainda assim, é melhor que junk food.

Mas o que eu realmente adoro é andar pelas ruas da cidade de madrugada, especialmente na Avenida Paulista. Eu adoro quando a cidade está mais tranquila, mais quieta, embora ainda haja comércio aberto. Eu adoro o ritmo 24 horas da cidade que nunca dorme, apenas cochila. Adoro ver as bancas de jornais, as barraquinhas vendendo frutas no meio da noite. No final da Avenida Paulista eu atravesso a Rua da Consolação, onde na esquina se encontra o Cine Belas Artes. Esse e o cineclube do Bixiga eram os meus favoritos para ver filmes europeus e filmes de arte. A Avenida Paulista desemboca na Avenida Dr. Arnaldo com o mercado de flores que nunca fecha e sua explosão de cores em frente ao cemitério com seus anjos de mármore à espera de alguns que estão do outro lado da rua no Hospital das Clínicas.

Tenho lembranças incríveis da minha cidade, muitas ótimas, outras desagradáveis. Uma amiga minha do Recife um dia me disse que em São Paulo não se pode ver o horizonte. Eu nunca tinha reparado nisso. Mas por isso mesmo é uma cidade onde se pode expandir as possibilidades, os sonhos. É uma cidade onde se pode comprar um bouquet de flores às três da manhã. É a minha primeira cidade, a cidade que me abriu as janelas para o mundo.

Foto minha: interior da Estação da Luz.

Ok, hoje eu serei um pouco bairrista.