Saturday, January 01, 2011

1 1 11 @ 11:11

Saturday, January 02, 2010


Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Eu não acho que as pessoas devem continuar juntas puramente por obrigação, por isso no meu casamento civil eu recitei esse poema do Vinicius. Hoje faz dezoito anos desde o dia em que eu disse "I do." Leia mais sobre o meu casório a la Berkeley aqui.

Friday, January 01, 2010


Feliz Ano Novo !

Durante essa época de ano novo muita gente decide fazer uma lista de “resoluções.” Eu sou mais modesta e prefiro pensar em termos de intenções. Faz tanto tempo que não escrevo nada por aqui que estou até meio que sem jeito. Mas uma das minhas “intenções” para esse ano é voltar a escrever mais em português.

O ano começou com uma lua enigmática: the blue moon. A lua azul, que na verdade parece como qualquer outra lua cheia, acontece a cada dezoito anos e é quando ocorre da lua cheia aparecer no céu duas vezes no mesmo mês. A próxima acontecerá em 2028. É claro, o fato da blue moon ter acontecido na noite do reveillon tornou o evento ainda mais especial.

O céu estava todo encoberto e achei que não seria possível ver a lua. Mas por volta das dez da noite quando eu estava chegando na festa da minha amiga, eis que avisto a lua brincando de esconde esconde nas nuvens. Foi uma visão quase mística, coisa de filme. Muitas das árvores estão com seus galhos nus por causa do inverno, o que tornou a paisagem ainda mais bonita.

Quando sai da festa por volta da uma da manhã o céu estava praticamente claro. Mas havia algo que eu nunca havia visto: um círculo fino e enorme de névoa rodeando a lua. Espetacular! O efeito durou menos que uma hora e depois as nuvens regressaram.

Hoje fui levar minha filha para fazer compras. As lojas estavam todas abertas! Achei estranho as lojas estarem abertas no primeiro dia do ano. É como se fazer compras fosse tão importante assim que não se pode esperar. É o consumismo repondo as tradições e os rituais.

Há muitas supertições no ano novo. Eu acho divertido e participo de algumas. Ontem na festa nós comemos doze uvas em doze segundos à meia-noite. Essa é uma tradição que vem da Espanha. É claro que eu me lembrei da calcinha nova branca e de começar o ano com o pé direito. Just in case! (Risos...)

Eu já sabia da tradição de comer lentilhas no dia primeiro para atrair dinheiro, mas descobri a tradição de comer “hopping John” recentemente. “Hopping John” é uma comida típica do sul dos Estados Unidos. Decidi experimentar a receita para trazer sorte para o ano novo. Trata-se de feijào fradinho cozido com alho, cebola, salpicão e tomates. Para acompanhar eu fiz arroz integral e couve. Ficou uma delícia. Na verdade, ficou tão bom que eu decidi compartilhar com a professora de arte das crianças. Foi com ela que descobri “hopping John.” É uma comida muito popular entre os afro-americanos do sul. Ela foi criada no Harlém, em Nova York, mas a família dela vem do sul. Achei interessante também a semelhança com a nosso costume de comer arroz com feijào e couve. Acho que é a influência da diáspora africana.

Outra coisa que gosto de fazer no primeiro de ano é caminhar à beira mar para sentir o cheiro de maresia e para jogar rosas brancas no mar e pedir a proteção dos deuses e deusas, do universo ou do mar que quem sabe ouve as minhas palavras soltas ao vento. Just in case. No creo en santos, pero que los hay, los hay...


Feliz Ano Novo!



Sunday, May 10, 2009

Feliz dia das mães!








Clara e Ana de Joyce

Um coração
De mel de melão
De sim e de não
É feito um bichinho
No sol de manhã
Novelo de lã
No ventre da mãe
Bate um coração
De clara, ana
E quem mais chegar
Água, terra, fogo e ar

Wednesday, January 28, 2009

Strange fruit


Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

As árvores do sul carregam uma fruta estranha
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Corpos negros que balançam na brisa do sul
Fruta estranha que pendura das árvores de poplar.
Cena pastoral do sul galhardo
Os olhos arregalados e a boca torcida,
Perfume das magnólias, doce e fresco
Então, o cheiro repentino de carne queimando.
Está aqui a fruta para que os corvos arranquem
Para que a chuva recolha, para que o vento sugue,
Para que o sol apodreça, para que as árvores deixem cair,
Aqui é uma colheita estranha e amarga.

My Rhapsody Playlist

Hoje eu ouvi uma remix (a versão acima) dessa música da Billie Holiday. A letra da música é super gráfica e descreve o linchamento de homens negros nos sul dos Estados Unidos. Eu estava ouvindo esse cd enquanto estava dirigindo para uma palestra de um jornalista que escreveu um livro sobre a experiência de pessoas que se identificam como biraciais ou multiraciais. Esse é um conceito relativamente novo nos Estados Unidos porque até recentemente uma pessoa filho(a) de pai afro-americano e de mãe branca (ou vice-versa) era automaticamente considerado negro. Depois eu volto para falar mais sobre a palestra.


Tuesday, January 27, 2009


A noite e seus detalhes



Monday, January 26, 2009

Todas as maças

Estou com uma gripe horrível. Passei praticamente o dia todo na cama sem energia para nada. Tentei dar uma caminhada à tarde até a loja de materiais de construção para comprar uma lâmpada para a minha cozinha e me senti como se estivesse caminhando nas nuvens ou como se estivesse assistindo a mim mesma caminhar.


Eu me sinto com frequência... (Um, essa sentença não me soa bem. Talvez soasse melhor - eu frequentemente me sinto – não, acho que só estou me indagando porque a sentença me veio à cabeça primeiro em inglês que no caso seria I often feel? Esse é um exemplo tipíco das línguas cruzadas na minha cabeça, como elas se intersectam, como uma interfere na outra e como às vezes eu acabo me traduzindo sem nem mesmo perceber.)


Mas enfim, muitas vezes quando estou caminhando sozinha, eu me sinto como se eu estivesse do lado de fora assistindo às pessoas e as coisas acontecendo ao meu redor. Quando não estou me sentindo bem então, essa sensação se torna ainda mais aguçada. É como se eu tivesse o poder de me fazer invisível e de me separar da realidade ao meu redor. Não, não estou perdendo o que me resta do meu juízo. Pelo contrário, quando estou me sentindo assim, na verdade estou totalmente presente e prestando a atenção aos mínimos detalhes. Eu sempre carrego a minha camêra digital onde vou e acabo fotografando coisas super inusitadas durante essas caminhadas.


Mas hoje eu quase não fotografei nada porque comecei a lembrar de muita coisa. Eu me lembrei de como eu era doente quando era criança. Eu tive de tudo: cachumba, hepatite, ameba, lombriga, sarampo, pneumonia, piolho, catapora, bronquite alérgica, asma. Eu tinha pavor, na verdade ainda tenho, de injeção, de ambulância e de hospital. Eu me lembro de der de pegar dois ônibus doente e vomitando e depois ainda esperar em fila de INPS, fila de Santa Casa; de precisar sair no meio da noite para tomar injeção de adrenalina e fazer inalação porque a asma não me deixava dormir. Durante um período na minha vida eu tinha de ir ao hospital de duas em duas semanas.


Naqueles dias, o meu único consolo era uma maça ou uma pera embrulhadas em papel de seda roxo. O vidinha, sô...


Por isso mesmo com essa gripe danada, eu ainda aprecio a saúde que tenho e todas as maças ao meu redor.


PS: Eu estava ouvindo essa música da banda inglesa Cinematic Orchestra enquanto estava escrevendo esse post. Chama-se Child Song.