Tuesday, May 08, 2007


O medo - Die Angst

O medo devora a alma como já dizia Fassbinder no filme Angst essen Seele auf (Ali: Fear eats the soul). O título (que é incorreto gramaticamente de propósito – o correto seria Angst isst Seele auf) literalmente significa “o medo devora a alma.” O filme conta a estória de um casal: ele, um marroquino imigrante de trinta e poucos anos e ela, uma senhora alemã de sessenta anos. É uma estória de amor e de o medo de tudo que é diferente gera o preconceito e envenena as relações humanas. Assisti esse filme há muito tempo no Instituo Goethe, em São Paulo, mas essa frase ficou gravada na minha mente.

Eu fui uma criança muito medrosa. Tinha medo do escuro, de baratas, de ambulâncias, de policiais e de homens barbados ou com óculos. Uma vez, quando eu tinha mais ou menos uns três anos de idade, meu pai e eu estávamos no ponto do ônibus quando eu avistei um policial. Além de uniformizado, o policial tinha bigode e usava óculos. Eu fiz um escândalo tão grande que o meu pai precisou me levar para a casa.

Hoje em dia eu tenho medo da fome, da guerra, da violência, da tortura, da loucura, dos bandidos e da polícia. Sim, ainda tenho medo da polícia. Outro dia eu estava dirigindo e avistei quatro carros de polícia cercando um adolescente. Embora eu não tivesse nada a ver com o peixe, a minha reação foi visceral, como se alguém tivesse me dado um murro no estômago. Fiquei com aquele gosto estranho na boca e me levou horas para recuperar o meu groove.

Eu me lembro muito bem que em São Paulo, quando costumava voltar para a casa de madrugada, eu estava sempre alerta para os dois: os bandidos e a polícia. Uma vez, eu estava caminhando no centro com uma amiga quando uns caras começaram a nos seguir. Nós reagimos dizendo que nos deixassem em paz. Nisso uma viatura da polícia vinha passando. Os policiais ao invés de nos ajudar ameçaram de levar todos para o distrito, inclusive nós que estávamos sendo assediadas! Nós só nos safamos porque na época eu trabalhava num jornal e mostrei o meu crachá que naquele momento serviu para alguma coisa.

Eu já passei por muitas situações amedrontantes. Já fui ameaçada de morte e senti um medo tão grande, daqueles de paralizar o corpo e secar a garganta. Quando ando pelas ruas à noite, sinto-me como um radar ambulante, altamente consciente dos meus arredores. Adoro caminhar, mas jamais caminho em trilhas em parques como muitas pessoas fazem por aqui. Pode ser coisa de urbanóide, mas eu me sinto muito mais segura no centro de uma cidade grande rodeada de prédios que na natureza. Por aqui algumas pessoas têm medo de pumas (alguns já foram vistos por joggers). Eu tenho medo é de psicopatas. Acampar sozinha então, jamais.

Eu também tenho medo de andar de bicicleta no trânsito, de escuridão total, de montanha russa e de serpentes. Um dos meus maiores medos era dirigir. Eu tinha um pavor tão grande que as minhas mãos ficavam suadas, os dedos enrijecidos de segurar o volante com tanta força. Esse foi um dos medos que finalmente conquistei. Hoje em dia adoro dirigir.

Então, um dos meus projetos de vida é conquistar alguns dos meus medos. Nesse final de semana conquistei mais um. Quando estava caminhando pela rua na Festa do Cinco de Maio avistei um senhor com uma jibóia no pescoço. Pedi para tirar uma foto para mostrar para o meu filho. Ele me ofereceu a cobra para eu segurar. Inicialmente eu disse que era muito amável da parte dele, mas que não, obrigada. Um grupo de pessoas foi se formando ao nosso redor para segurar aquela serpente enorme. Aprendi como o meu marido que é sempre bom desafiar os medos, principalmente esses completamente irracionais, como medo de cobra. Finalmente, criei coragem e decidi aproveitar a oportunidade para lidar com um dos meus grandes medos. Superar um medo é uma sensação muito boa. Devolvi a cobra e me senti toda poderosa por algumas horas.

E você, tem medo de que?

15 Comments:

Blogger Andréa said...

Tenho medo de barata. Medo não, pavor, pânico. E o engraçado é que eu não tenho medo de nenhum outro animal. Cobra, por exemplo, já brinquei e queria ter uma. Ratos não me incomodam, acho até bonitinhos. Já tive hamsters, aliás já tive tudo o que é tipo de bicho. Mas barata é o meu maior pesadelo. Fico fora de mim, grito, corro, dou papelão mesmo.

5:03 AM  
Blogger forasteiro said...

Muito bacana Regina, parabéns. Quanto ao meu medo, tenho medo de que o tempo passe depressa demais.

5:22 AM  
Blogger Unknown said...

putz. que maluca! ;-)
Regina, primeiro obrigada pelo seu comentário muito bonito no blog alien-ados. Adorei!
Eu já muitos medos ao longo da vida. Alguns mudaram, tornaram-se mais abstratos, outros desapareceram de vez e assim por diante. Mas cobra? Isso para mim não é medo, é trauma, e dos grandes. Só de ver a tua foto, sinto arrepios pelo corpo todo. Puxa, que coragem! Essa eu passava, mesmo porque a visão de uma cobra, venenosa ou não, me paralisa por completo. Mas o post, como sempre, está muito inspirador e humano. Valeu, menina!

6:13 AM  
Blogger Denise Arcoverde said...

Eu tinha muito medo de cachorro, trauma de infância, porque me deram um cachorro de pelúcia preto enorme, maior que eu (parecia o urso que botei lá no meu post do zoo) e eu chorava, mas como era presente, me empurraram do mesmo jeito... até hoje, confesso que ia ter um chilique se tivesse que ficar sozinha com a Clementine :-)

Mas foto com cobra enrolada no pescoço eu também fiz e adorei, não tive medo nenhum, dá uma olhada:

http://public.fotki.com/DeniseArcoverde/viagens_-_trips-1/tailndia/bangkok/tailandiacobra.html

Beijocas, querida!

6:50 AM  
Blogger Denise Arcoverde said...

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6:51 AM  
Anonymous Anonymous said...

Quando eu era crianca eu tinha medo de cobra, rato e morcego. Eu nao dormia de noite apavorada com a possibilidade de ter uma cobra ou um rato no meu quarto. Eu me cobria toda - mesmo fazendo 40 graus - e suava frio.

Na ligo mais para morcego mas continuo com pavor de cobra e rato.

9:38 AM  
Anonymous Anonymous said...

Parabéns Regina. Conquistar medos dá uma sensação de superação que é muito positiva para a gente.
Eu tinha pavor de cachorros, mas como as meninas sempre quiseram um, acabamos comprando o Buddy, que fez parte importante da nossa família e me tornou uma pessoa menos medrosa.

Eu morro de medo de viajar de avião. Tenho medo de elevadores cheios e também de morrer de forma brutal.
beijos.

10:36 AM  
Anonymous Anonymous said...

OI Regina,
Voltei.
Olha tambem tinha medo de dirigir, agora dirijo mais não gosto, prefiro dirigir com alguem do meu lado, sozinha nunca vou a cidades muito distantes. Continua o pavor a cobras, não gosto nem em filmes, mas te admiro a coragem, não creio ser capaz de segurar em uma, tenho medo de ter uma parada cardiaca só pelo fato de ver uma de perto. Uma vez recusei uma grana que me ofereceram para pegar numa cobrinha de nada no zoo em Estocolmo.
Beijos

1:11 AM  
Blogger Regina said...

Andrea,

Eu tb acho ratos bonitinhos. Quando eu era pequena eu tambem tinha pavor a lagartixa. Por aqui, nao tem. Quando os meus filhos viram uma lagartixa pela primeira vez no Brasil, eles adoraram.

bjs.

Regina

12:41 AM  
Blogger Regina said...

Forasteiro,

Obrigada. Eu tenho medo de nao ter tempo suficiente...

bj

Regina

12:42 AM  
Blogger Regina said...

Anita,

Foi um prazer responder a pergunta la no Alien-ados (gosto do nome).

Voce ja teve algum incidente com alguma cobra? Uma vez, uma cascavel quase picou um tio meu em Minas enquanto ele estava lendo a sombra de uma bananeira.

Bj.

Regina

12:44 AM  
Blogger Regina said...

Denise,

Interessante a estoria de como voce pegou medo de cachorro. Essas experiencias de infancia marcam muito, nao e' mesmo?

Bjs.

Regina

12:45 AM  
Blogger Regina said...

Alexandra,

Como voce pegou medo de morcego? Uma vez um entrou no meu apartamento. Tive de evacua-lo com um saco de papel.

Bj.

Regina

12:46 AM  
Blogger Regina said...

Cris,

Os filhos nos ajudam a encarar alguns dos nossos medos. O fato do meu filho adorar bichos e ser tao corajoso com eles me inspirou a segurar essa cobra.

Bj.

Regina

12:47 AM  
Blogger Regina said...

Elizabeth,

Eu tambem congelo quando vejo uma cobra. Outro dia, eu fui comprar grilos para o gecko do meu filho num lugar que vende animais. O dia estava lindo e um dos funcionarios tinha tirado uma das cobras para tomar sol. Quase morri. Mas, ai respirei fundo e ate tirei umas fotos.

Bjs.

Regina

12:50 AM  

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