Thursday, December 28, 2006


A violência nossa de cada dia – Rio e Oakland, Califórnia

Uma das primeiras notícias que li hoje de manhã na BBC World News foi sobre a onda de violência que mais uma vez está assolando o Rio de Janeiro. Fiquei imaginando o pânico das pessoas dentro do ônibus incendiado e a tristeza dos familiares ao receberem a notícia numa época de festa. Pensei também na vendedora ambulante e na menina que se tornaram alvo de alguma bala perdida.

Li no jornal que os ataques foram organizados de dentro da prisão. Em primeiro lugar, eu não entendo como esses criminosos conseguem ter acesso a telefone celular dentro da prisão. É a prisão transformada em quartél general. Imagino que isso seja possível devido às condições de superlotação das prisões brasileiras e à corrupção entre alguns carcereiros e policiais.

É claro que nessas horas muita gente diz que precisamos de leis mais severas, quem sabe até a pena de morte. Mas nenhuma medida drástica vai mudar o panorama atual brasileiro a menos que o governo e a sociedade decidam lidar com a questão da desigualdade social. As crianças que vivem nas favelas em situação de absoluta miséria sem as mesmas oportunidades de lazer e educação das crianças de classe média poderão se tornar os traficantes de amanhã. Os membros da elite, por sua vez, além de contribuirem para a situação com sua ganância, são os clientes dos traficantes. O traficante não existe sem a demanda. Ainda por cima agora os criminosos têm acesso a um arsenal que inclui fuzis, metralhadoras e granadas. As gangues estão se tornando cada vez mais como um exército disperso formado por miseráveis que finalmente decidiram desafiar o poder à bala. Por enquanto, os bandidos estão atacando mais os pobres, mas a elite que se cuide porque um dia desses o cerco se fecha.

No San Francisco Chronicle de hoje havia um artigo sobre a violência em Oakland e como para cada homícido há uma criança que se tornou orfã, há uma família que tem nem tempo para lidar com o próprio luto porque tem que cuidar das crianças que sofrem com pesadelos, depressão e uma tristeza profunda. Oakland é uma cidade que fica ao lado de Berkeley e tem uma população de pouco menos de 400 mil habitantes. Somente nesse ano já houve 148 homícidos. No ano passado foram 94.

A situação por aqui é semelhante ao Brasil no que diz respeito à disparidade entre os que moram nas casas lindas nas colinas de Oakland com direito à vista da Golden Gate Bridge e do oceano pacífico e os que moram nos bairros infestados de traficantes, gangues com direito a um boteco na esquina. Como no Brasil, os o que moram nos bairros mais elegantes são em sua maioria brancos e os que moram nos bairros mais “perigosos” são em sua maioria afro-descendentes e latinos. Coincidência? I don’t think so!

Fotos: AP e San Francisco Chronicle.


12 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Não é coincidência, não. Nós vivemos num mundo extremamente racista e classista. Muitos brasileiros afirmam que não há preconceito racial no Brasil... Meu Deus, não há nada mais errado do que isto! O que dói é ver que aqui acabamos assimilando a idéia que somos todos reféns. Reféns de um governo corrupto, reféns de uma sociedade desigual, da polícia e dos bandidos (que não passam da mesma coisa). E, tal qual reféns, não há saída.
Outra coisa que sempre me espanta é ver com que rapidez os governantes cedem à tradição de corrupção. Parece que ninguém é isento. Então, para variar, a lei vigente é feita por aqueles que têm algum tipo de poder. Como os traficantes, direto de suas celas. E, para variar, as vítimas são pessoas inocentes.
Nestas ocasiões, a despeito de montes de coisas boas que aqui temos, lembro das palavras de Charles de Gaule: "o Brasil não é um país sério".
:-(
Bjs,
Cris.

8:02 AM  
Blogger Laura_Diz said...

É tudo mto triste neste mundo. Amanhã parce que vão enforcar o sadan, como se isto adiantasse alguma coisa, é violência em cima d eviolência. vc tem razão, a elite finge que não vê e compra drogas, sim, e a classe média está tão preocupada com sua sobrevivência que não vênada.
Bjs Laura

2:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Regina, é realmente uma lástima, mas como você colocou, há uma demanda que alimenta o tráfico, e o interesse de uma parte da polícia que se beneficia do crime.
Agradeço sua preocupação, mas estamos bem. Evitando sair à noite, mas com esperanças de que tenhamos dias melhores.
Um grande beijo, menina

3:09 PM  
Blogger Sonho Meu said...

Olá Regina,
Deixei o meu país sete anos atrás. Morava em Copacabana, precisamente juntinho ao Copacabana Palace. Assistia arrastao, bala perdida, pessoas correndo com medo, onibus assaltados e etc e tal.
Um dia falei pro marido, quero ir embora pra sempre daqui. Viemos e graças a Deus aqui tenho sossego. Outro tipo de preocupacoes... mas nada se compara ao que passei no Rio de Janeiro.
O Brasil tem jeito sim... é só mudar o código penal. Quem arrisca?
Bjos e Feliz Ano Novo.
me

4:53 PM  
Anonymous Anonymous said...

Oi Regina,
Liguei para meu filho no Rio que me contou que o Rio estava numa enorme onda de violencia. É uma pena, meu Rio que tanto amo e de ver as pessoas que são livres mas viem presas dentro de suas próprias casas com medo de sair as ruas.
Matar bandidos ou po-los na cadeia somente não é a solucão, precisamos de um pouco de igualdade e salários dignos de vida, enquanto existir diferencas sociais existiram favelas, pobreza e bandidos. Infelizmente a melhora creio esta longe de ser realizada.
Feliz 2007 para voce e toda a familia.
Beijos

3:14 AM  
Anonymous Anonymous said...

Infelizmente são estas as imagens que nós, estrangeiros, achamos "normais" no que diz respeito ao Brasil... É uma tristeza que um país, com tanta coisa boa, não consiga fazer alguma coisa contra esta vaga crescente de criminalidade. É uma pena mesmo.
Que o ano de 2007 seja o ano dessa mudança para o bem de todos e que continuemos todos a viver always por um triz (no bom sentido da palavra)!

3:34 AM  
Blogger Regina said...

Cris,

Eu tenho essa impressao tb, que as pessoas se sentem como refens.

Mesmo eu quando estou de visita, especialmente em Sao Paulo, acabo me sinto como uma refem. Eu sinto que necessito estar em guarda a todo o tempo.

Bjs.

Regina

12:18 AM  
Blogger Regina said...

Laura,

A violencia so gera a violencia. Nada de bom nasce desse circulo vicioso.

Bjs.

Regina

12:19 AM  
Blogger Regina said...

Denise,

E' importante manter a esperanca em tempos como esse.

Bjs.

Regina

12:20 AM  
Blogger Regina said...

Elena,

E' uma pena que a gente se sinta forcada a sair do pais onde nascemos para vivermos uma vida mais digna.

Bjs.

Regina

12:21 AM  
Blogger Regina said...

Elisabeth,

Eu posso imaginar como deve ser doloroso para voce ver a sua cidade nesse estado, ainda mais tendo familia e amigos por la.

Bjs.

Regina

12:21 AM  
Blogger Regina said...

Sofia,

Eu acho lamentavel que as imagens associadas ao Brasil tenham a ver com sexo e violencia. E' uma pena, pois trata-se de uma pais tao lindo.

Bjs.

Regina

12:23 AM  

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