Monday, June 25, 2007

Imigrante

Dia 25 de junho foi o Dia do Imigrante. Eu me tornei imigrante acidentalmente quando decidi não regressar ao Brasil depois de estar aqui por um tempo. Na verdade, ao invés de imigrante eu me tornei cidadã do mundo.

Morar fora para mim tem sido uma experiência transformadora. Sempre fui uma pessoa muita aberta e interessada em outras línguas e culturas. Sempre gostei de conhecer “estrangeiros” e aprender sobre terras longínquas.

Eu nunca tinha me imaginado na Terra do Uncle Sam, mas o coração é cheio de surpresas. Primeiro, eu descobri que os Estados Unidos é muito mais que política externa, capitalismo ou a ignorância de alguns políticos. Passei a ser mais cautelosa e a evitar generalizações, pois não se pode julgar alguém pelo país onde nasceu ou pelo passaporte. Aprendi também que muitas vezes é possível ter mais em comum com alguém de outro país que com os meus conterrâneos. Compartilhar do mesmo idioma e passaporte não garante nada, muito pelo contrário. Eu acho nacionalismo perigoso e para mim cada vez mais irrelevante. Não estou aqui me referindo ao carinho e ao apego às raízes culturais.

A minha jornada é um caminho sem volta. Quando fui ao show de Ojos de Brujo e Carlinhos Brown outro dia, eu notei que muitos brasileiros não deram a mínima para a banda espanhola e receberam Carlinhos com um fervor quase patriótico. O rapper da banda espanhola agradeceu a platéia em inglês, espanhól e português. Eu achei o gesto carinhoso.

É uma pena como as pessoas se fecham e se limitam à sua cultura de origem. Elas não se dão conta do quanto estão perdendo. Eu conheço brasileir@s que vivem aqui como se estivessem vivendo no Brasil. Alguns já estão aqui há bastante tempo, mas não falam nada de inglês. Eles só se associam com outros brasileiros, comem as mesmas comidas que comiam no Brasil e trabalham com outros brasileiros. Esse tipo de isolamento cultural acaba por gerar intrigas e facilitar a exploração entre os membros da própria comunidade. Eu sempre acabo me sentindo estrangeira nesse tipo de ambiente.

Muitas pessoas sabem que há aulas de inglês à noite e de graça. É verdade que muitas delas trabalham muito tentando juntar dinheiro para mandar para a família no Brasil ou para economizar na esperança de regressar ao Brasil. Mas, ao mesmo tempo, é quase como se aprender o idioma e se aventurar fora da comunidade significasse a derrota frente à cultura dominante, a assimilação, o abandono do país de origem. É admitir a condição de imigrante.

Na minha opinião, o mínimo que se pode fazer quando se decide morar no exterior é aprender o idioma e conhecer um pouco da cultura local. Na verdade, no caso da área de San Francisco são muitas as culturas diferentes.

Infelizmente, a tendência de muitos brasileiros é de não se associar nem mesmo com os outros Latinos por preconceito, ignorância ou sentimento de superioridade em relação ao Brasil. É lamentável porque a imigração de brasileiros para os Estados Unidos, especialmente na costa oeste, é bem mais recente que a de outros grupos como os mexicanos e centro americanos, por exemplo. A meu ver, a comunidade brasileira só tem a ganhar em estabelecer uma aliança com a comunidade latina que já está mais estabelecida nesse país.

Na minha opinião, para brasileiros morando nos Estados Unidos se identificar como brasileiros e latinos, é uma questão política não só por se tratar de um gesto solidário com outros imigrantes latinos, mas para o próprio benefício dos imigrantes brasileiros. Dessa forma os brasileiros poderiam se beneficiar da experiência desses outros grupos e obter maior poder de barganha.

“Latin@” é um conceito que só faz sentido no contexto das relações raciais e de etnia nos Estados Unidos. Nesse contexto, latin@ significa vindo de um país da América Latina. O Brasil fica na América Latina, portanto somos latinos. Eu também prefiro o termo latin@ ao invés de hispânico por considerá-lo mais adequado. É também o termo mais utilizado em círculos mais progressistas.

Finalmente, no processo de me tornar imigrante/cidadã do mundo eu descobri que sou mais como uma cebola, com camadas e camadas de identidades. Mas o miolo da cebola é um miolo como qualquer outro miolo vindo de qualquer parte desse planeta.

Foto: Berkeley Marina, acidente fotográfico. ;-)

Atualização:

A Alexandra escreveu (em inglês) um post excelente sobre a sua experiência morando no Canadá e a Cris escreveu um post brilhante sobre o conceito de nação.



17 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Regina,

Como sempre, adorei o post! Me identifiquei muito com as sua condição de cidadã do mundo. É assim que eu me sinto...

Vou escrever algo a respeito...

Bjos

Alexandra

6:10 AM  
Anonymous Anonymous said...

Regina,
Ótimo o post, vc escreve sobre isso com todo o conhecimento de causa.
Posso estar enganada, mas acho que a maioria das nacionalidades sempre têm uma ligação muito grande com a 'pátria' que deixaram. É claro que há exceções, como na 2a Guerra Mundial e, aí, o país novo se torna refúgio e funciona como a pátria. Todas as nações são 'lugares imaginados'. A tua imaginação é grande.
Bjs,
Cris
P.S. Fiquei inspirada para escrever sobre a questão da nação lá no blog!!

12:16 PM  
Blogger Lilica said...

Regina, amei seu post. Muito.
Um beijo para vc, cidadã do mundo com o coração enorme, onde cabem todas as nacionalidades :-)

6:03 PM  
Blogger Simone said...

Concordo plenamente c vc, e tenho tido esse tipo de experiência por aqui, apesar de ter me mudado há pouco tempo. Entendo q todos somos cidadãos do mundo e q, qdo em outro país, devíamos aproveitar p expandirmos nosso conhecimento, pq conhecendo outras culturas, realmente conhecendo-as, tornamo-nos mais tolerantes qto às diferenças entre os seres!

1:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Acho q qdo moramos fora devemos estar abertos pra novas culturas. isso não quer dizer q vamos perder a nossa essência brasileira e deixar nossa cultura de lado, não é verdade?
Beijos

6:00 PM  
Blogger Regina said...

Alexandra,

E' sempre bom ouvir de mais uma "cidada do mundo"...

Bjs.

REgina

2:08 AM  
Blogger Regina said...

Cris,

Eu vou sempre ter uma ligacao umbilical com o Brasil, mas no meu caso isso nao me impede de apreciar e ate me apaixonar por outras culturas.

Realmente a minha imaginacao e' grande.:-) Minha cabeca sempre foi povoada de sonhos.

Bjs.

REgina

2:10 AM  
Blogger Regina said...

Alline,

Sou como o Caetano, meu coracao vagabundo quer guardar o mundo em mim.

Bjs para voce tambem.

REgina

2:11 AM  
Blogger Regina said...

Simone,

Muito prazer, seja bem-vinda! Concordo 100% com voce: e' conhecendo outras culturas que nos tornamos mais tolerantes.

PS: O seu blog e' otimo, mas ainda nao tive tempo de comentar la.

Bjs

Regina

2:13 AM  
Blogger Regina said...

Ursula,

Adicionar outras cores nao muda a essencia. Na verdade, foi morando fora que aprendi a apreciar mais o nosso idioma. Eu nao ouco portugues com os mesmos ouvidos. Hoje em dia saboreio melhor os sons do nosso idioma porque existe uma certa distancia e porque sempre ouco de outras pessoas "how beautiful portuguese is."

Tenho muito orgulho da minha heranca cultural e procuro o maximo possivel compartilhar-la com os meus filhos.

Beijos,

REgina

2:19 AM  
Blogger Ana said...

Regina eu cheguei aqui primeiro pela Cris, depois pela Alexandra e agora chego na "fonte" :-) Eu acho que a questão do Brasil com a América Latina e em consequência com o adjetivo "latino" é uma história longa, o Brasil não se enxerga como país latino-americano, até porque a própria idéia de América Latina é algo artificial e recente...esse termo foi usado pela primeira vez na segunda metade do século XIX...antes disso ninguém era latino-americano. Além disso acho que nos EUA, o grupo dito Latino é massivamente composto por mexicanos...e isso coloca um problema também.

Isso dito, eu vejo a coisa pelo lado "racial". Pra mim é claro que eu sou latina, origem mista. De uma feita eu fiz um post no blog sobre os brasileiros no Orkut, super bronzeados, cabelão bem pretão e que indicam que são caucasian ha ha ha. Não preciso dizer que tem gente que se ofendeu na época e se debateu mais do que o diabo na água benta, dizendo que sim eles eram caucasians porque não eram latinos...

Beijocas

4:57 PM  
Blogger Regina said...

Ana Lucia,

Adoraria ler esse seu post no yougurt, hahaha. Se voce ainda tiver o link, por favor me mande. Concordo com voce, e' claro que tem a ver com "raca." Assumir-se como latino e' de certa forma deixar de ser "caucasiano." Acho que muitos brasileiros se sentem superiores em relacao a outros latinos. Existe muito preconceito. Eu ja ouvi muitos brasileiros descendo o pau em mexicanos, nicaraguenses, guatemaltecos...

Voce tem razao, a maioria dos latinos nos E.U.A. sao de origem mexicana, mas pelo menos na California existe tb um numero grande de guatemaltecos, nicaraguenses, salvadorenhos e venezuelanos. Pelo pouco que sei esses outros latinos parecem ter adotado o termo sem nenhum problema. E' claro que essa como qualquer outra classificao e' uma invencao geopolitica, uma coisa artificial. No entanto, quando estamos debatendo leis migratorias e questoes que afetam os "ilegais" (ha muitos brasileiros nessa situacao por aqui) e' importante se aliar e trabalhar como um grupo.

Acho que com o tempo as coisas vao mudar e o Brasil vai se dar conta da importancia das relacoes com os paises vizinhos. Na minha epoca, por exemplo, ninguem aprendia espanhol. Mas agora isso ja esta mudando.

Na minha opiniao, a elite brasileira e' bem eurocentrica e so valoriza o que vem da Europa.

Ah, os brasileiros morando aqui a menos que sejam lourissimos sao vistos como latinos, ou (detesto esse termo) hispanos. Nesse pais so e' considerado caucasiano quem vem do norte da Europe. O pessoal que vem do sul (Portugal, Espanha, Italia e ate mesmo a Franca) e' visto como "ethnic."

Brasileiro na terra do tio Sam vira paraiba. Acho isso uma otima licao para as elites brasileiras que se dizem caucasianas.

Beijocas,

Regina

6:20 PM  
Blogger Ana said...

Regina, era no meu blog, acho que foi no primeiro blog que tive, no blogger.com.br...nao sei se o post ainda existe, vou procurar e te mando se eu achar. O titulo era "Somos todos Michael Jackson" ha ha ha, porque o povo queria parecer mais branco que a conta. Se vc for no orkut fuçar no perfil dos brasileiros, vai ver que todo mundo ali é caucasian...e as pessoas confundem brancura da pela com ser caucasian, chega a me dar uma preguiça. E brasileiro é preconceituoso com "latinos" e obviamente que com a Africa é a mesma coisa, o Brasil é muito auto-centrado nesse quesito. Jah vi blogueira dizendo que odiava sol essas coisas e que os cabelos encaracoladésimos que ela tinha era por causa da origem siria (!) do tataravô...me poupem. Enfim, eu vejo pouca abertura viu, tem muito chao pela frente ainda. Beijao.

8:26 PM  
Blogger Ester Macedo said...

Oi, Regina,

Engraçado como nesse negócio de blog uma coisa leva a outra que leva a outra... Vi a seus comentários no blog da Alexandra e adorei. Vim checar o post original, e adorei seu blog também! Acho fenomenal como blogs têm se tornado uma super-ferramenta para cidadãs e cidadãos do mundo exercerem suas cidadanias!

É isso aí! Prazer em conhecer... :oD

7:11 AM  
Blogger Regina said...

Ester,

Obrigada pela visita e seja bem-vinda! E realmente interessante como os blogs podem servir como veiculo para temas tao estimulantes quanto esse.

Depois vou visitar o seu canto.

Beijos,

Regina

2:34 AM  
Blogger oakleyses said...

This comment has been removed by a blog administrator.

7:22 PM  
Blogger oakleyses said...

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7:29 PM  

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