A mulher, a nectarina e o seio
Até há pouco tempo não haviam muitas pixações no meu bairro. Mas tenho notado que de um tempo para cá muita coisa anda acontecendo na calada da noite. Muitas das pixações me parecem apenas uns rabiscos. Eu ouvi dizer que são assinaturas, mas para mim ainda assim parecem rabiscos. Eu não gosto desse tipo de pixação porque isso me lembra de cachorros fazendo xixi para marcar território. Vejo muito desse tipo de pixação em São Paulo que faz com que aqueles prédio cinzentos - que já são feios - pareçam mais feios ainda.
Mas eu gosto de pixações criativas. Hoje, por exemplo, eu vi um desenho de uma mulher feito com tinta rosa. O desenho foi feito numa dessas caixas de correiro na calçada. No desenho, o rosto de uma mulher com os seios expostos. No bico direito do peito, um sticker (aqui as frutas vêm com um sticker que diz de onde vem a fruta, se é orgânica ou não, etc.). No sticker dizia “ Tree ripe – nectarine - #4378 – Chile” (nectarina – amadurecida na árvore - número 4378 – Chile). Na axila esquerda um coração minúsculo, na direita um triângulo de ponta cabeça (símbolo associado ao movimento homosexual). Perto da caixa do correio, num container grande azul usado para reciclagem, estava escrito a palavra “evoke” (relembre).
O bico do peito; uma fruta. Achei bonito aquilo. A palavra “ripe” em inglês também significa no ponto certo para ser comido. Pensei nos seios como fonte de alimento, mas também como fonte de prazer. O encontro entre a boca e o bico do peito; o encontro entre a boca e uma fruta suculenta. A nectarina me fez lembrar da sensualidade que está presente no ato de comer. Comer bem é uma coisa muito prazeirosa: as cores, o cheiro da comida, o sabor. Eu nunca entendi essas pessoas que estão sempre contando calorias, preocupadas com aquilo que estão comendo, como se comer nada mais fosse que uma tarefa a ser cumprida, um ordeal. Não é à toa que o verbo “comer” é também usado para se referir ao ato sexual.
Estar vivo é estar em sintonia com os sentidos. Uma vida sem prazer é uma vida morta.
Já que estamos falando em seios e volúpia, quando eu estava em São Paulo recentemente, caminhando por uma rua no centro da cidade - se eu não me engano era a Rua do Arouche – avistei uma vitrine que me chamou a atenção. Tratava-se de uma livraria com uma exposição na vitrine. Eram vários manequins com os seios decorados com as coisas mais diversas. O meu favorito foi um mapa do seio com as seguintes palavras: amor, agonia, luta, sonho, prazer, maternidade e sensualidade. Genial!
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