Leni

Sempre tive a mais profunda admiração por pessoas que remam contra a maré. Adoro pessoas curiosas para as quais a experiência humana vai muito mais além que fronteiras geográficas, culturais e línguisticas.

Comecei a comemorar o meu aniversário um dia antes. Fomos ao Yoshi’s ver o show de Leni Stern, guitarrista alemã que reside em Nova York. Leni se apaixonou pela música e pela cultura do Mali enquanto estava trabalhando com Salif Keita. O seu último cd é uma colaboração entre ela e músicos do Mali, Senegal e Marrocos. Ela canta em inglês e bambara, uma das línguas do Mali.

Adoro experiências que desafiam estereótipos e dão um nó na cabeça, tais como uma cantora da bavária cantando em bambara. Humans are a trip!

Leni Stern: Alu Maye

Leni Stern: Bamake

Com o passar do tempo

O passar do tempo tem me feito mais contemplativa e até mesmo mais sábia, o que não significa necessariamente ajuizada. Na verdade, meus olhos distraídos estão sempre deixando-se levar por coisas efêmeras como um olhar, um rabisco no chão, um detalhe qualquer, uma promessa no ar.

Mas isso tudo não vem ao caso. Quero nesse momento falar sobre muralhas. Não estou me referindo às muralhas de concreto, mas sim às muralhas invísiveis. Dias antes do meu aniversário, eu tive uma crise de choro no chuveiro que demorou a passar. Chegou assim, sem mais nem menos, após uma tarde onde tudo parecia tão bem: a luz, a estrada, a companhia. Talvez tenha sido o inferno astral, embora eu não saiba nada sobre astrologia. Mas acho que foi mesmo uma das minhas muralhas desmoronando.

Descobri recentemente que tenho um talento invejável para construir muralhas invisíveis. As minhas muralhas são tão sutis que às vezes nem eu mesma as percebo. Aprendi a construí-las no decorrer dos meus tantos adeuses. Elas me protegem da distância, da saudade, do medo que sinto da minha própria vulnerabilidade e da eventual perda.

A minha muralha é o meu escudo de guerreira sempre alerta. Mas não faz bem para a saúde andar sempre empunhando um escudo. Muitas vezes o esforço requerido para construir e manter a façada é muito maior que para desmoroná-la. Continuarei prosseguindo com cautela, mas daqui por diante questionarei mais a necessidade das minhas muralhas.

É hoje

Nunca fui dessas pessoas que adoram fazer aniversário, dessas que planejam, fazem festa. O fato de ficar mais velha não me incomoda, mas virar o centro das atenções gera em mim uma certa timitez. Sempre fui mais discreta nesse sentido. Porém a cada ano que passa eu estou curtindo mais a minha vida e me dando o direito de celebrar o dia em que decidi baixar nesse mundo. Então, voilá, todo mundo tem um e hoje é o meu.

Para comemorar decidi escrever vinte coisas sobre mim. Adotei essa idéia a partir de um post no Sindrome de Estocolmo. Além dos votos estou aceitando perguntas, assim poderei ampliar a lista abaixo.

1 - Nasci as 9:30 da manhã na sala de espera do Hospital Cruzada Pró-Infância na Bela Vista, bairro boêmio de São Paulo, o que deve explicar a minha alma noturna. Sempre fui meio apressadinha. Fico impaciente quando as coisas andam muito devagar. Passei os primeiros 23 anos da minha vida em São Paulo e moro na Califórnia há 22.

2 - Aos 4 anos eu fazia de conta que a minha cama (que na época ainda era um berço) era um ônibus e viajava para Buenos Aires; ao seis, eu gostava de desenhar guarda-chuvas pretos e roxos, não me pergunte por que; aos nove eu adorava fazer suco de amora e balançar; aos 12, adorava comer pipoca e assistir desenho animado com a minha irmã.

3 - Sempre carrego um livro ou uma revista comigo quando vou a algum lugar onde sei que terei que esperar. Adoro passar horas em livrarias e bibliotecas e adoro o cheiro de livros novos. Gosto de sentir o papel nos meus dedos, especialmente se o papel for de boa qualidade.

4 - Adoro ouvir música alta enquanto estou dirigindo ou com fone de ouvido. Tenho centenas de cds e estou sempre interessada em descobrir coisa nova.

5 - Decidi que ia estudar jornalismo quando estava na quinta série e nunca me arrependi. Fiz mestrado em comunicações (rádio e televisão), mas sempre preferi a teoria. Gostaria de fazer um doutorado em sociologia, antropologia ou educação.

6 – Adoro dançar. Se pudesse sairia para dançar duas ou três vezes por semana. Detesto “malhar” em máquina ou jogging, mas adoro caminhar e levantar peso.

7 – Amo comida indiana e tailandesa. Não gosto de carne vermelha (hamburgers, churrasco, etc.), nem de miúdos de frango ou qualquer outro animal (coração, fígado, etc.). Ainda como frango e peixe de vez em quando. Não fico sem verduras e legumes.

8 – Adoro ver os meus filhos brincando e se divertindo, especialmente quando estão fazendo algo criativo ou quando estão correndo na praia e pulando ondas. Adoro ver o meu marido todo compenetrado num palco tocando um solo no contrabaixo. Adoro passar horas conversando com a minha irmã e a minha mãe. Adoro ver os meus filhos e meus sobrinhos se dando bem. Adoro trocar figurinhas com os meus amig@s reais e virtuais (que não deixam de ser reais).

9 – Adoro o cheiro do mar. Aquela imensidão toda me acalma.

10 - Não gosto de esportes em geral, especialmente aqueles que envolvem uma bola. Tenho horror de ouvir jogo no rádio.

11 – Patriotismo excessivo, bairrismo, classismo, racismo, homofobia, fundamentalismo religioso e qualquer tipo de fanatismo me amedrotam.

12 – Adoro viajar, mas detesto a transição entre um lugar e outro (passar muitas horas em ônibus, fila em aeroporto, segurança, horas intermináveis em acentos minúsculos de avião).

13 – Adoro aprender e falar outros idiomas, mas fico envergonhada quando estou falando em uma língua e uma palavra de outra língua escapa sem que eu me dê conta ou quando não consigo me lembrar da palavra em nenhuma língua.

14 – Nunca faço as unhas nem vou a cabelereiro. Só uso batom e de vez em quando um rímel. Adoro saias e brincos.

15 – Eu não gosto de department stores enormes tipo Macy’s como tem aqui. Eu sempre acabo me perdendo. Se for num desses mega shopping centers então, piorou. Não consigo nem achar a saída.

16 – Gosto de caldo de cana e pastel de feira.

17 – Gosto de bolo de fubá, tutu de feijão, virado de couve e outras comidas mineiras.

18 – Adoro fruta: jabuticaba, melancia, figo, manga, blueberries, pessêgo, goiaba e por aí vai.

19 – Sou muito dorminhoca e detesto levantar cedo. Adoro o silêncio da noite. É quando me sinto mais criativa e acordada.

20 – Estou sempre procurando aprender mais sobre tudo e tentando me tornar uma pessoa menos preconceituosa. Faço o possível para não ser parte do problema, mas sim da solução.