Wednesday, January 30, 2008


Intimidade

Eu fotografei essa flor ontem. Fiquei quase sem jeito ao fotografá-la nesse ângulo. Eu me senti como se estivesse invadindo a sua privacidade, como se estivesse espiando os secretos de alguém. Mas ela me pareceu tão bela na sua vulnerabilidade que eu não pude resistir. A primeira palavra que me veio à cabeça quando eu a vi mais tarde foi intimidade.

Sunday, January 27, 2008


Chove chuva

It is raining cats and dogs.
(Está chovendo gatos e cachorros.)
Il pleut comme vache qui pisse.
(Chove como vaca que mija.)
Está chovendo canivetes.

Faz dias que não pára de chover. Chove, venta, chove mais um pouco, pára de chover por algumas horas, garoa e recomeça tudo de novo. Não gosto de chuva de inverno, chuva gelada que me esfria até os ossos. Eu gosto das chuvas de verão como as do Brasil, chuva que refresca, limpa o ar e aguça o olfato.

Fiquei curiosa sobre a origem dessas expressões absurdas. A primeira, “it is raining cats and dogs,” originou-se na idade média, quando não havia forro nas casas e os animais de pequeno porte como gatos, cachorros e ratos se apoiavam nas vigas para se aquecer. Quando chovia as goteiras forçavam os animais a pular no chão. Daí a origem da expressão.

L'expression "pleuvoir à vache qui pisse" est apparue au XIXe siècle. Elle serait née d'une autre expression "pleurer comme une vache", qui signifie que l'on pleure abondamment. (A expressão “chover como vaca que mija” apareceu no século XIX. Ela nasceu de outra expressão “chorar como uma vaca, que significa, alguém chorando em total abandono.)

Sobre a expressão “está chovendo canivetes,” encontrei a seguinte explicação na Gazeta de Piracibaca:

“Procurando a origem da expressão chover canivetes, encontrei no Aurélio séc. XXI a equivalência "Nem que chova(m) canivete(s)": aconteça o que acontecer, haja o que houver. Continuei procurando a origem, encontrei no site do escritor Mario Prata, www.marioprataonline.com.br, a divertida explicação:
"O canivete foi inventado na Tailândia, mais precisamente em Bangcoc, por um ferreiro que deu seu nome ao instrumento: Khan Yi Viet (tinha origem vietnamita, conforme demonstra o nome), ainda no século XVI, a pedido do imperador Adul Ya Deja (Rama II). O problema de "chover canivetes" surgiu da grande quantidade do objeto que se derramou sobre a Ásia e, depois, sobre a Europa. Uma verdadeira chuva. Khan Yi Viet morreu pobre quando tentava vender seu invento para a Suíça, pois o imperador não lhe havia pago nada."


Chove, chove muito

O céu anda escuro, carregado

Como o coração de alguém que perdeu o ser amado

Como alguém que chora e chora

Porque já sabe que é chegado a hora



Ryuichi Sakamoto (piano), Jacques Morelenbaum (cello), Everton Nelson (violino) - Rain(live)


Friday, January 25, 2008

Vampa

Vejo teus sóis
Em cinzentos crepúsculos
Através dos altíssimo
Óculos de acrílico
Do teu rosto industrial
Debruçada em tuas formas
Vejo-a a despir-se
R o t i l e n t a m e n t e
Em frente aos outdoors
Streap-rush-show
Buzinas aqui e ali
Agitam o frenesi
Nos teus pés asfaltados
Desengravata-se
A seriedade diurna
Um extenso colar de luzes e de olhos
Te envolve coloridamente
E os cometas publicitários
Recortam o céu dos seus cabelos
Becos sujos te acariciam
Enquanto Henrique Schaumann beija a tua boca
Sampa: tu és vampa.

(Boberinha escrita quando eu tinha 20 anos)

Trecho de uma carta à uma amiga que escrevi nos meus primeiros meses aqui, há quase 22 anos:

“Ouço Carmina Burana e penso nos sóis de dezembro colorindo as torres da Catedral da Sé: palco de comícios, casa de mendigos; escadaria dos desesperados. Penso na minha cidade que só é bonita em cartão postal e em você que permanece bonita na minha memória.”

Lendo o blog da Andréa, eu me dei conta que hoje é o aniversário de São Paulo, o meu primeiro amor geográfico. Eu sempre amei a paulicéia desvairada, que apesar do cinza, da garoa e da poluição tem uma beleza discreta e reservada. É uma cidade um pouco desconfiada mas ao mesmo tempo eletrizante.

Photo: Google images, of course.

Monday, January 21, 2008

Farofa na neve

Eu fiquei maravilhada a primeira vez que vi neve. Tudo tão branquinho e silencioso. Fiquei tão maravilhada que nem me toquei que os meus pés estavam congelando dentro da minha galocha de plástico. Sim, galocha, porque o meu namorado na época não teve a cortesia de me avisar que para andar na neve você precisa de botas insuladas e eu achei que daria para tapear com a minha galocha amarela. Quando regressamos ao hotel eu tive a sensação que haviam agulhas penetrando os meus pés. Esse é o primeiro sinal de frost bite, quando as extremidades do corpo congelam. Tive que passar um tempo com os pés em água morna. O lugar onde fomos chama-se Lake Tahoe, um lago na Serra Nevada cuja metade fica no estado da Califórnia e a outra metade no estado de Nevada.

Lake Tahoe fica há três horas e meia de San Francisco e quase todo o ano eu levo as crianças para brincar na neve. O meu filho aprendeu snowboarding lá. Eu só vou mesmo para apreciar a beleza e escorregar no trenó. Eu morro de medo dessas descidas nas montanhas onde o pessoal esquia ou pratica snowboarding. A única vez que eu tentei aprender a esquiar foi um fiasco total: quase fui parar em um riacho. Eu nunca me senti tão fora de controle quanto em cima daquelas lâminas super longas com botas gigantescas.

Apesar da minha alma tropical, eu tenho memórias bonitas da neve. Além de Tahoe eu já experienciei neve caminhando no Central Park; amamentei o meu filho numa jacuzzi ao ar livre no Colorado enquando a neve caia; e vi os meu filhos e outras crianças se deliciarem com os floquinhos numa noite fria em uma outra banheira numa casa em Tahoe. Eu adoro sentir a neve no meu rosto.

Mas por outro lado, adoro o fato de não nevar onde eu moro. É muito bom visitar essa imagem de cartão postal de vez em quando, sem ter que lidar com neve no meu cotidiano. Esse negócio de ter que desenterrar o carro de manhã ou pegar uma pá para retirar a neve da frente de casa não é para mim.

Ontem nós passamos o dia em um snow park. Os snowparks são locais públicos onde você pode estacionar e pagar uma taxa mínima para brincar nas colinas cobertas de neve. Em alguns locais você pode alugar trenós de plástico ou trazer o seu próprio. O bom é que não é necessário dirigir até Tahoe e dá para ir e voltar no mesmo dia. O primeiro snowpark fica há umas duas horas e meia de distância daqui. Levamos sanduíches, chocolate quente e fizemos a festa. Mas o que eu achei realmente incrível foi um pessoal que levou uma churrasqueira, panelas e um cooler. Não resisti e tive que pedir para tirar uma foto. Uma outra família armou cadeiras de praia para melhor apreciar a vista das montanhas branquinhas. Uma vez farofeiro, sempre farofeiro;-).

Clique nas fotos menores para ampliá-las.


Tuesday, January 15, 2008


Happy Birthday, Dr. King!

EU TENHO UM SONHO

Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)


"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!"

Leia aqui o discurso na integra..

Monday, January 14, 2008

Aprendendo matemática com as plantas


Hoje eu passei a manhã com a classe da minha filha no Jardim Botânico da Universidade de Berkeley. Foi uma aula de matemática (com um pouco de botânica) ao ar livre. As crianças foram dividas em grupos de cinco e algumas senhoras que trabalham como voluntárias no Jardim lideraram a excursão. A cada parada as crianças tinham uma tarefa a fazer: contar o número de flores amarelas, plantas que correm perigo de extinção, pássaros e esquilos; comparar a simetria das folhas; e encontrar figuras geométricas nas plantas. Eu achei tudo super criativo!

Esse Jardim Botânico é muito especial para mim porque foi lá que eu fiz a minha cerimônica pública do meu casamento no primeiro dia do verão (a do civil aconteceu no inverno seis meses antes). Foi lá também que eu enterrei o umbigo dos meus dois filhos embaixo de um roseiral, como fora instruído pela minha mãe.

O Jardim Botânico fica num morro cercado de verde com vista para o mar. Quando o dia está claro, dá para ver a ponte Golden Gate. O Jardim abriga espécies nativas assim como plantas dos cinco continentes do mundo.

Fotos minhas.

Saturday, January 12, 2008

Maxwell is Hot!

Um bom fim de semana para quem passar por aqui.


Maxwell - Ascension

Wednesday, January 09, 2008

The New Face of Germany – A nova face da Alemanha

Quando eu estava na segunda série umas das minhas amigas mais queridas era a Karen Kirchoff, uma menina louríssima de família alemã. Ela tinha tranças longas e um cabelo tão louro que era quase branco. A vizinha do lado também era alemã e depois de um tempo uma outra família alemã também se mudou para a rua de cima. A teoria dos meus pais era de que essas famílias gostavam do nosso bairro porque havia muito verde. Nós moravámos perdo da Serra da Cantareira em São Paulo. Minha mãe até “aprendeu” um pouco sobre a cultura alemã. Ela sempre dizia que leva um tempo para eles fazerem amizade, mas quando se tornam amigos são muito leais. É claro, que existe sempre um pouco de esteriótipo nessas conclusões, mas muitas das minhas amigas alemãs que moram aqui concordam. Elas acham que aqui as pessoas parecem muito simpáticas de início, mas muitas amizades são superficiais.

Eu, como muitos brasileiros, cresci com a imagem de alemães louros usando lederhosen (aqueles shorts de couro), comendo joelho de porco, bebendo cerveja e com a idéia de que as casas na Alemanha eram parecidas com as casas em Joinville, que mais parecem saídas de um conto de fadas. Bem, as casas não são como contos de fadas e os alemães estão cada vez mais diversos.

Acabo de ler no jornal inglês The Independent que Berlim está sendo considerada a cidade mais cool na Europa onde se pode tomar café-da-manhã a qualquer hora do dia ou da noite e o lado leste da cidade que pertencia aos comunistas antes da queda do muro é agora está cheio de cafés e clubes. Segundo o artigo, Berlim é a cidade européia com o maior número de galerias de arte. (It is) My kinda place!

O nome da música é “Vindos da mesma estrêla” (tradução livre). O refrão diz:

Wir alle sind aus Sternenstaub
In unseren Augen warmer Glanz
Wir sind noch immer nicht zerbrochen, wir sind ganz
Du bist vom selben Stern
Ich kann deinen Herzschlag hör'n
Du bist vom selben Stern
Wie ich (wie ich – wie ich)
Weil dich die gleiche Stimme lenkt
Und du am gleichen Faden hängst
Weil du das Selbe denkst
Wie ich (wie ich - wie ich)

Nós somos todos feitos de pó de estrêla

Nos nossos olhos um brilho ardente

Não fomos quebrados (rompidos, separados), ainda somos um

Você é da mesma estrêla

Eu posso ouvir o seu coração bater

Você é da mesma estrêla

Como eu, como eu, como eu

A mesma voz nos lidera

Estamos pendurados na mesma linha

Porque pensamos o mesmo

(Tradução macarrônica e sonolenta.)

Foto: Lilian Gold, cantora de reggae afro-alemã (Google images).

Ich & Ich - Vom selben Stern


Monday, January 07, 2008


Tanta saudade

Hoje eu estava fazendo janta ouvindo a rádio Swissgroove na internete. Eles tocam uma mistura de tudo: jazz, neo-soul vindo da Inglaterra, música brasileira, eletrônica, etc. Fazia muito tempo que eu não ouvia Tanta Saudade do Djavan. Bom, fiquei com saudade e fui no santo youtube ver se eu encontrava algum vídeo do Djavan cantando essa música. Encontrei uma versão dele cantando com o Chico. Bonita. Mas eu gostei muito mais da versão da Ana Carolina com o seu Jorge. Eu não conheço bem o trabalho dela e nem do Seu Jorge, para ser honesta, embora ele seja bem popular por aqui. Adorei ela tocando o contrabaixo e cantando ao mesmo tempo. O Kai também achou incrível. É bem difícil cantar e tocar um instrumento bem ao mesmo tempo. Por sinal, adoro ver mulheres tocando contrabaixo (ouviu Andreia). Procurei mais vídeos da Ana Carolina tocando contrabaixo, mas não encontrei. O interessante é que ela utiliza a mesma técnica do contrabaixo quando está tocando a guitarra; dá para ver na maneira que ela toca a guitarra que ela também toca o contrabaixo.


Ana Carolina & Seu Jorge - Tanta Saudade

Sunday, January 06, 2008


La pluie

Finalmente parou de chover. Acordei no sábado de madrugada com o barulho do vento e da chuva com o meu gato desesperado para sair para ir ao banheiro. Ele ficou mais desesperado ainda quando abri a porta e ele viu o temporal. Pobre bichano, acabei tendo que improvisar um pipicat às 5:00 da manhã.

Essa foi a pior tempestade a atingir essa área nos últimos cinco anos. Uma das freeways inundou, houve deslizamentos em alguns bairros, árvores caíram, centenas de pessoas ficaram sem eletricidade, cinco caminhões tombaram em uma das pontes por causa do vento (felizmente ninguém se machucou) e as pontas que conectam várias partes da baía de San Francisco ficaram fechadas por um tempo. Ainda bem que eu não precisei sair de casa.

Abaixo uma musiquinha do cantor francês Claude Nougaro sobre a chuva. Infelizmente eu não encontrei a versão com ele, mas essa é bonitinha também. O segundo vídeo é Claude Nougaro cantando a versão em francês da música “O que será” de Chico Buarque e Milton. Boa semana para tod@s.


La Pluie fait des Claquettes (hommage à Claude Nougaro)


Claude Nougaro - tu verras

Wednesday, January 02, 2008




Hoje: 16 a 2

Como tenho pavor de "até que a morte nos separe" recitei então o Soneto da Fidelidade.

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.